Mundo atual.

- Oi, Zé. Sei que faz tempo que eu não venho aqui... O tempo tá encurtando, né? Antes eu vivia tanto e tão calma, hoje em dia é tudo correria, eu não posso nem vir te ver sempre. Sabe, Zé, se fosse só o tempo passando rápido a gente ainda poderia tentar acompanhar, mas não é tão fácil, o mundo tá perdendo o controle, Zé. Meninos que deveriam brincar com seus amigos, hoje apostam para ver quem "pega" mais, como se mulher fosse um brinquedo, um animal, para ir lá, pegar e pronto, sem nem saber o nome, o endereço, absolutamente nada. Cadê o amor, Zé? Eu que passei tantos anos preservando-o, cuidando desse sentimento bonito, fico com meu coração na mão só de ver juras falsas de amor. É "eu te amo" para cá e para lá, coisa que não existia naquele tempo... E não hei de poupar as meninas, que no lugar de brincarem de bonecas, ficam horas no espelho, se culpam pelo corpo que têm e passam a maior parte do tempo fingindo ser alguém que não são só para chamar atenção, para receber de fora o valor que não alimentam dentro de si mesmas. É, Zé, essas crianças estão sendo mal criadas desde o berço, é o mundo piorando e as pessoas que vão chegando nele também. As crianças que deveriam estar indo para o circo com os pais, lanchando cajuína com pão doce, brincando na rua, aproveitando a ingenuidade enquanto é tempo, dizem que "evoluíram" e só Deus sabe por onde andam. Sabe, Zé, se eu fosse levar a vida com o ponto de vista dessas crianças, posso te garantir que eu não gostaria de evoluir nunca.

Aninha Torres
Enviado por Aninha Torres em 10/07/2012
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