Quando a justiça tarda, ela já falhou

A sede de justiça é própria dos homens. Mas há, sempre, dúvidas se a aplicação da Lei faz, ou não justiça. A lei é feita pelos homens e permanentemente é sujeita a mudanças, de acordo com as práticas sociais admissíveis no momento.

Temos visto, no nosso país, a lei ser manipulada ao bel prazer dos poderosos, dos políticos, daqueles que se acham donos da sociedade. Políticos corruptos se inocentam entre si, há denúncias de que alguns juízes vendem sentenças, advogados adiam indefinidamente a decisão de processos, usando artifícios previstos em lei.

A justiça corre ao largo, independentemente da ação da lei e de suas muitas instâncias.

E temos visto, também, a nossa sociedade, cheia de falhas, produzir quantidade crescente de marginais de colarinho branco ou não, nos mais diversos graus de periculosidade. Sair ás ruas é hoje, um risco considerável, a qualquer hora do dia ou da noite. A vida nas grandes cidades adquire um sentido de medo e de ansiedade no limiar do insuportável, enquanto na cidade pequena o crime já campeia e atinge as manchetes dos jornais.

Fico me perguntando se há exagero nesse sentimento de que o descontrole tomou conta de nossa sociedade por inação das autoridades, se isso seria parte de uma outra campanha de manipulação da opinião pública, se realmente a criminalidade atingiu um patamar inédito, configurando um apagão da lei e da ordem?

E, por que diabos há dois anos, quando as eleições presidenciais eram o principal assunto a imprensa só falava em mensalão e sanguessugas, depois, em apagão aéreo, até que hoje, quando os assuntos se esgotam, só se fala em crime e mortes bárbaras. Teria a imprensa esse poder de manipular a opinião pública, ou realmente estamos, cada vez mais, imersos no crime e na desesperança?

Seja lá como for, os crimes continuam acontecendo, as balas perdidas matam crianças no colo de mães há muito tempo, crianças tem o corpo despedaçado por marginais-adolescentes, o público fica escandalizado por uma forma inédita de matar, indignado pela pouca importância com que a lei vigente trata tais barbaridades e sente-se impotente, com a sensação de que atingimos, realmente, o fundo do poço.

A justiça tarda, mas não falha, é o que diz o conformismo popular, entregando a Deus a punição que queremos exemplar. Mas, no fundo da alma, começa a aparecer a convicção de que quando a justiça tarda é porque ela já falhou.