(Foto:- Naturalmente sou demodê, porque troquei minha residência em bairro badaladíssimo da capital pela "beleza e tranquilidade" aqui registradas)... 

EU SOU DEMODÊ

Alguém que nem virtualmente eu conhecia resolveu mandar-me um artigo sobre “Aprender a Ser Menos”. Aliás, o que mais se ouve nestes tempos é que “ser MENOS é MAIS”.
Há muitas pessoas repetindo isto, das quais várias nem sabem o completo significado da citação. Tudo bem. Está em moda.
Mas no artigo ao qual me refiro (cuja autora suponho ser Fernanda Mello, apesar de isto não ter sido claramente especificado pela remetente) o menos por ela desejado é MENOS TUDO: quer ser menos dramática, intensa, exagerada; bloquear o coração, calar o pensamento, tranquilizar a alma; diminuir o ritmo e baixar o volume; quer menos sentir, sonhar, amar e sofrer menos ainda.
Então eu pergunto: qual será o MAIS que irá sobrar se houver toda essa redução?
Ouso dizer que discordo. Não da citação corrente, mas do exagero pretendido no texto. E explico porque discordo.
Não quero ser menos dramática, porque no dia a dia o drama é sempre melhor do que o terror; nem menos intensa, porque correria o risco de tornar-me apática; nem menos exagerada, porque dos exageros deduzidos os excessos – já que há sempre alguém achando que exageramos – restam os fatos na medida certa.
Também não quero bloquear meu coração. Deus me livre disto. Já sofremos tantos bloqueios; que fique assim meu coração, livre, leve, solto, pra conhecer, escolher, colher, perdoar, esperar, sofrer, esquecer, errar ou acertar, mas grande e crescendo sempre pra que abrigue muito amor.
Quanto a calar o pensamento nem me atrevo a comentar, pois não vejo outra maneira que não o sono eterno. E eu quero é vida...
Minha alma é bem tranquila e não requer ajuste algum; também não quero diminuir o ritmo, porque se eu gostar de um mais lento, quem irá correr pelo pão de cada dia? Então, ritmo e alma deixarei como estão.
Agora analisemos as propostas mais sérias: "sentir", "sonhar" e "amar" MENOS??? Negativo.
Se para ser o MAIS da moda eu tiver que diminuir essas atividades, sempre fui, sou e serei demodê.
Não vivo sem sonhar e amar e para que aconteçam, preciso sentir vontade de: vencer obstáculos, alcançar metas, receber e transmitir conhecimento, dar e receber carinho. Também sentir saudade, compaixão, coragem, medo, vaidade, emoção, alegria, tristeza, ansiedade, solidão, cheiros, arrepios, desejos..., então sonho e amo. Como diminuir tudo isto? Eu não quero nem pensar. O sofrimento até que se poderia cogitar diminuir, mas considerando que, em algumas fases, ele é inerente às benéficas sensações citadas acima, temo correr o risco de, ao tentar diminui-lo, perdê-las.
E todas são muito necessárias pra que se possa dizer que realmente vivemos a vida e que aqui não estamos só para vê-la passar.
Exemplificando tudo que afirmei não querer diminuir, transcrevo frase usada pela autora: “Com o coração na mochila, o lápis borrado, o sorriso e a dúvida, a coragem e o medo, mas eu vou.”
Será que vai? E eu acrescento: bem assim e mais a cara e a alma limpas, eu JÁ FUI... E não me arrependo, porque “tudo vale a pena quando...”
Enfim, gosto de ser tão intensa e exagerada, talvez porque o tempo por vir sempre me parece pouco para tudo que ainda pretendo. Mas sou feliz, com todos meus defeitos, manias e carências, com tudo que não quero mudar para MENOS a fim de chegar ao MAIS da moda, porque prefiro ser assim, demodê, sem fingir ser alguém que não sou.



(Foto:- ... e também para adotar como despertador os gorjeios, dobrados e trinados dessa "fofurinha" (e outras dezenas) que nesta foto aparece na sacada do meu quarto.) 
DTL Gonçalves
Enviado por DTL Gonçalves em 25/08/2012
Reeditado em 15/01/2023
Código do texto: T3848641
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