A ORIGEM DA VIDA

A ORIGEM DA VIDA

Debalde se têm debatido os sábios materialistas para encontrar os supostos elementos originadores da vida. A despeito de todas as luzes da ciência de nosso século, o problema continua insolúvel. Ah! Se pudéssemos criar vida! Todos os esforços têm sido em vão; têm ruído todos os castelos de teorias e hipóteses engenhosas. E volta o cientista, de suas pesquisas, exausto e desiludido – Mistério! Mistério!

Mas, que é a vida? Não são poucos os que têm procurado defini-la. Para Bichat, “é um conjunto de funções, que resiste à morte”, para Kant, “é um principio interior de ação”. Lamark disse que é “um estado de coisas que permite os movimentos orgânicos”. Baunis chama-lhe “a evolução determinada de um organismo susceptível de reproduzir-se e adaptar-se ao meio”. Blaise Pascal faz, porém, esta interessante observação: “A vida é uma dessas coisas que não se definem; todos a sentem, compreendem e observam; mas não se lhe dá uma definição precisa”.

Difícil é, na verdade, definir a vida, porque não se pode compreendê-la em toda a plenitude.

Mas, onde teve origem o germe vital?

É essa uma pergunta que tem preocupado os cépticos de todos os tempos. Durante séculos, sábios e ignorantes acreditam na geração espontânea de pequenos organismos. Mas, na generalidade, não com o propósito determinado de excluir a intervenção divina na criação. Formavam essa ideia baseados no que aparentemente viam em a natureza. Não apareciam logo os vermes nas substancias? Donde vinham eles senão da matéria em decomposição? Dai o conhecido aforisma: “Corruptio unius generatio alterius”. (a corrupção de um ser gera outro.) Materialistas ou não, admitiam isso como uma coisa muito natural.

Não é de estranhar, assim, que Aristóteles falasse de insetos que se formavam sobre as folhas verdes, “do mesmo modo que os piolhos nasciam da carne, e os peixes, do lodo das águas”; que Lucrécio fizesse menção de animais que se produziam por influencia da chuva e do sol. Ovídio cria que o limo do Nilo gerava seres vivos. Virgílio, expressando a crença popular, cantou a geração espontânea nas “Geórgicas”. No século dezessete , Van Helmonte formulou uma receita para a produção de ratos e escorpiões. Kircher refere-se a pedaços de pau que se transformavam em insetos. “Na matéria dos corpos mortos e decompostos – dizia o próprio Buffon – as moléculas orgânicas, sempre ativas, trabalham em remover a matéria putrefata, e formam uma multidão de pequenos corpos organizados”. Por falta de experimentação biológica, naturalistas, médicos e filósofos admitiam a heterogênese.

Era crença geral, assim, que, pela influencia do sol, os pântanos podiam produzir peixes, rãs e mosquitos; a carne em putrefacção, abelhas e moscas. E ainda hoje ouvimos expressões populares como, por exemplo, “os bichos que nasceram da carne podre”, “bicho da goiaba, goiaba é”, expressões que nas camadas incultas, são acompanhadas da ideia da geração espontânea, sem nenhuma intenção ateísta, bem se vê. O vulgo fala do que as aparências demonstram.

Mas, entre os sábios materialistas dos últimos séculos, a heterogénese veio a tornar-se arma predileta, uma teoria com pretensões de eliminar a intervenção de Deus na criação dos seres animados.

Os primeiros a combater a geração espontânea foram Francisco Redi e Swammerman, em meados do século dezessete. Redi colocou pedaços de carne em vários vasos, alguns dos quais tapou com folha de papel com pequenos orifícios, que não permitiam a entrada das moscas. Viu, então, que estas ao pousarem no papel, procuravam introduzir o abdômen nos furinhos. Logo apareceram os ovos sobre a carne corrompida. Viu, também, que a que estava bem protegida por uma tela, não criava bichos.

No século dezoito, Spallanzani deu novo golpe na heterogénese, demonstrando que aquilo que se pensava gerar-se de modo espontâneo, nada mais era do que o despertar de vida latente.

Quando a antiga hipótese de geração espontânea parecia já um tanto adormecida, eis que ressurge, em meados do século dezenove, com certos foros e teoria cientifica comprovada pela experimentação. Pouchet afirmava ter visto nascer pequenos organismos, espontaneamente, num meio privado dos germes do ar. Tão ruidosa foram as discussões que isso suscitou, que a Academia de Ciência, de Paris, põe em concurso a comprovação experimental do tão debatido caso. Coube então a Pasteur demonstrar, concludentemente, ante o cenáculo dos sábios, o erro em laborava Pouchet. Por suas experiências, que todos conhecemos, provou de modo positivo e irrefutável, que vida só pode provir de vida, e que até mesmo os organismos infinitamente pequenos provêm de seres da mesma espécie. Estabelecido, assim, que ”omne ovum ex ovo, omnis cellula ex cellula, omne vivum ex vivo” estava destruído o majestoso castelo da teoria da heterogénese.

Batidos nesse terreno, os partidários da explicação materialista da origem da vida passaram a formular as mais divergentes e, por vezes, absurdas hipóteses. Imaginava-se a origem do germe vital em todos os elementos, em toda parte – no fogo e no fundo do mar, na terra e no espaço. De tudo era possível que proviesse, menos de Deus.

Haeckel, que inventou a monera, como o ser mais simples, servindo de transição entre os vegetais e os animais, julgou tê-la encontrado, em seus primeiros estágios, na substancia gelatinosa que Huxley descobriu no fundo do mar em 1868. Ai estava, segundo supunha, o elemento que passava do inorgânico para o orgânico. Tal foi o seu entusiasmo, que este naturalista inglês batizou a nova substancia como o nome de Bathybius Haeckelii. Novo alvoroço nos meios científicos, dando o famigerado Batíbio muito pano para mangas. Fizeram-se estudos, criaram-se hipóteses e teorias. Parecia ruir por terra o “omne vivum ex vivo” triunfantemente estabelecido do Pasteur.

Organizou-se, então, uma expedição cientifica chefiada por M. Wyville Thompson para explorar as profundezas submarinas. Fizeram-se longas pesquisas no Atlântico e Pacifico, trazendo-se à tona depósitos de vários organismos. Depois de uns três anos de estudos e dragagens, o tão falado Batíbio foi apeado do pináculo a que exagerada e precipitadamente muitos o haviam elevado. O naturalista Murray e o químico Buchanan, que faziam parte da comissão de estudos, depois de meticulosa análise, chegaram à conclusão de que a tão debatida substancia não passava de um simples precipitado mineral. Tratava-se, na verdade, de um precipitado de sulfato de cálcio a que faltavam, para ser o protoplasma que muitos julgavam, as propriedades vitais.

O próprio Huxley, no congresso da Associação Britânica, em 1879, foi primeiro a dar o tiro de misericórdia em seu filho submarino, que tantos haviam acariciado. Em termos que provocaram hilaridade, desmoralizou, por completo, a tal substancia, que alguns ainda procuravam exalçar. “Algum tempo depois desse interessante Batíbio ser lançado ao mundo, - disse Huxley, entre outras coisas, - muitas pessoas admiráveis tomaram essa pequena coisa pela mão e fizeram dela um grande negócio”. E confessa, fazendo ironia, que a substancia que descobrira “não manteve, de modo algum, as promessas de sua tenra idade”. Tempos depois, Milne Edwards, dando a questão por liquidada, ante as eviencias cientificas, afirmou: “O Batíbio, que tanto ocupou o mundo sábio, deve descer de seu pedestal e reentrar no nada”.

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Donde, então veio a vida? Nada mais simples e plausível; a vida originou-se em Deus e d’Ele promana continuamente. É o “sopro divino” ou “folego da vida”, de que falam as Escrituras, e o qual muitos filósofos e cientistas eminentes aceitam como a única explicação razoável. Reza o texto sagrado. “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida: e o homem foi feito alma vivente”. Adverte, a palavra inspirada, no livro de Eclesiastes, cap. 3, vers. 19 e 20: “Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais, a mesma coisa lhes sucede: como morre um, assim morre o outro, todos tem o mesmo fôlego”.

Deus, a natureza e Sofrimento Humano – por João de Deus Pinho.

JOÃO DE DEUS PINHO
Enviado por Pedro Prudêncio de Morais em 17/09/2012
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