PASSAGEM DA COLUNA PRESTES PELA CIDADE DE FLORIANO-PI: DO MEDO AO ALÍVIO SEM ADESÃO

David Costa da Silva

* Licenciado em História pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI

RESUMO

A Coluna Miguel Costa Prestes, mais popularmente conhecida como Coluna Prestes era liderado por militares revoltosos com a República Velha e as classes dominantes de então. Seu inicio data de abril de 1925 durante ao governo de Artur Bernardes (1922-1926), quando as duas frentes de oposição às oligarquias e as classes médias urbanas se uniram em Foz do Iguaçu e deram inicio a uma marcha por todo o Brasil com aproximadamente 1 500 homens, onde percorreram 25 000 km durante um período de 2 anos e meio atravessando 11 estados, incluindo várias cidades do Piauí, incluindo entre elas a cidade de Floriano. Por onde passavam despertavam o interesse da população evitando ao máximo o confronto com as tropas do governo e denunciavam à população a situação política e social em que se encontrava o país. Apesar do insucesso final, Floriano foi uma das cidades que não aderiu ao movimento revolucionário, este, acabou por abalar as estruturas já enfraquecidas do sistema oligárquico e preparou o caminho para a revolução de 30.

Palavras chave: Coluna Prestes, Floriano, Medo, não adesão.

SUMMARY

The Prestes Column Miguel Costa, more popularly known as the Prestes Column was led by military rebels with the Old Republic and the ruling classes of the time. His start date of April 1925 during the government of Artur Bernardes (1922-1926), when the two fronts of opposition to the oligarchs and the urban middle classes

joined in Foz do Iguaçu and have started a march throughout Brazil with approximately 1500 men, which traveled 25,000 km over a period of 2 ½ years across 11 states, including several cities in Piauí, including among them the city of Floriano.

They passed aroused the interest of the population so as to avoid confrontation with government troops and the population denounced the political and social situation he was in the country. Although the final failure, Floriano was one of the cities that did not join the revolutionary movement, this turned out to undermine the already weakened structures of the oligarchic system and paved the way for the revolution of 30.

Keywords: Prestes Column, Floriano, Fear, not membership.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo resgatar a passagem da Coluna Prestes pelo Piauí, mais especificamente pela cidade de Floriano, no sentido de verificar o por quê da não adesão dos grupos locais em não aderir aos ideais do movimento revolucionário em questão. Como também, constatar nas entre linhas das narrativas estudadas, alguns aspectos instigantes como: qual a percepção da população florianense em relação aos revoltosos? Para os autóctones quem eram os revoltosos? O que realmente desejavam? Teriam eles condições de efetivar seu projeto de transformação social anunciado através de uma marcha?

A metodologia adotada será a de analise e revisão bibliográfica. O corpo será composto tanto por obras de relevo nacional, como Meirelles, (1995), como também obras de historiadores “leigos”, autóctones da cidade de Floriano, como Santos, (2005), (ex-prefeito, atualmente, empresário, cronista, historiador e presidente da Academia de letras da cidade de Floriano, com formação em nível médio) e Demes, (2010), (professora aposentada, escritora, historiadora, cronista, poetisa, descendente dfa comunidade árabe), que se dispuseram a dissertar sobre o tema, a partir de fontes bibliográficas e orais. São portanto, historiadores leigos sem formação acadêmica e suas obras de alcance regional. Nesse percurso, não temos dúvida, de que nos defrontaremos com informações e fatos, identificaremos aspectos e lacunas, presenças e ausências que nos permitirá e exigirá, maior capacidade de análise para palmilhar pela especulação e dedução a partir do contexto histórico, social e econômico da cidade de então.

DESENVOLVIMENTO

O registro da passagem da Coluna Prestes pela cidade de Floriano se deu em dezembro de 1925. Procedentes da cidade de Carolina no estado do Maranhão, passando antes por Benedito Leite, Uruçuí e nova York.

A cidade de Floriano logo sabendo da aproximação da Coluna, entrou em horror diante da possibilidade de sua ocupação, uma vez que as tropas governamentais, ditas “legalistas” haviam sofrido nas três cidades acima citadas derrotas avassaladoras.

As tropas do governo “legalista”, sob o comando do tenente Jacob Manoel Gayoso e Almendra, era formada por cerca de 1 500 combatentes com a missão de deter o progressivo avanço das tropas rebeldes na cidade maranhense de Benedito Leite.

Nesta ocasião, Gayoso dispunha apenas, de 40 soldados da Polícia Militar do Estado do Piauí, sendo o restante da tropa, composta por pessoas abarcadas aleatoriamente. Gayoso, optou por estratégia, ficar entrincheirado em Benedito Leite e o restante da força em Uruçuí, no lado piauiense. O confronto aconteceu ao crepúsculo do dia 07 de dezembro de 1925.

No destacamento da coluna preste, Djalma Dutra, membro da Coluna, dispara um tiro de parabellum municiada com cartuchos diferenciados e de efeito moral, que produziam grande barulho, fazendo soar como um tiro de canhão na audição da soldadesca, que somado ao barulho feito pelos animais cargueiros, assustados em disparada, com o estrondo horrendo do tiro, batiam seus caixotes já esvaziados, contra os paus da cangalha, gerando um som muito semelhante a uma rajada de bala de várias metralhadoras de grosso calibre (MEIRELLES, 1995 APUD: SANTOS, 2005)

O resultado não poderia ser outro, o medo, o horror e o desespero, envolveram tanto a tropa de Benedito Leite quanto a de Uruçuí, que fugiram debandaram em pavorosa, em direção aos vapores e embarcações que os tinham transportados, abandonando o campo de batalha deixando para trás armas e equipamentos para aproveitamento por parte dos revoltosos da Coluna Prestes (MEIRELLES, 1995 APUD: SANTOS, 2005).

Ainda, hoje se narra pelas banda de Uruçuí, o fato hilário, porém real da tropa legalista assombrada em disparada, talvez muito por conta de ser um destacamento de pouco preparo militar para enfrentar longas jornadas e conflitos de tamanho porte com uma tropa rebelde bem mais treinada e suprida de mantimentos, armas e munições comandadas por grandes estrategistas, dissidentes das forças do exercito brasileiro, motivados por ideais direcionados para a construção de um país mais livre.

Depois de todo esse alvoroço, as tropas legalistas, já bastante desgastadas e desorganizadas, além de algumas deserções, foram reorganizadas, a duras penas na cidade de Nova York, no estado do maranhão, mas novamente desbaratados pela Coluna Prestes que em marcha forçada os desbaratou.

Apesar de todo o empenho e atuação do militar Gayoso, em retardar pelo maior tempo possível, o avanço da Coluna Prestes sobre Teresina, uma vez que, as dificuldades de condução da tropa, aquisição de mantimentos, armas e munições e treinamento ralo dificultavam por demais o êxito militar do destacamento, a oposição ao governo da época, explorou ao máximo ridicularizar a atuação de Gayoso a frente das tropas legalistas.

A essa altura, da pra imaginar como se encontravam os florianenses, que acompanhava com grande expectativa os acontecimentos em suas proximidades. Da população aterrorizada, um numero significativo de habitantes abandonaram atropeladamente a cidade. Mas a ocupação de Floriano pela Coluna, somente se daria, logo após o desbaratamento das tropas legalistas em Nova York (MA), quando a coluna seguiu até Barão de Grajaú, onde atravessou o rio Parnaíba.

Para surpresa de todos, Carlos Prestes não passou por Floriano, ainda do lado maranhense dirigiu-se pelo lado do Maranhão para Amarante, ao encontro de seus companheiros Siqueira Campos e Juarez Távora que o esperavam para tratar de assuntos referentes a continuidade da marcha (Demes, 2010)

A Coluna, sob o comando de Miguel da Costa, ocupou Floriano assim que adentraram, e trataram logo de providenciar seu acomodamento em diversas residências, escolhidas entre as melhores. Encontraram a cidade de Floriano quase deserta. Para surpresa dos florianenses que por aqui resistiram em ficar e encara a situação, os revoltosos da Coluna não foram acintosos nem violentos, como imaginavam os autóctones dessa terra. Imediatamente se dirigiram aos portões da Mesa da Renda Estadual, depósito de varias mercadorias, de onde requisitaram o que precisavam e o restante distribuíram aos pobres. Como não foram encontrados suprimentos suficientes apropriaram-se de muitas mercadorias das principais casas comerciais de Floriano, retirando sempre sob a forma de requisição, armas, munições e ferramentas que necessitavam (SANTOS, 2005).

Logo que puderam, organizaram comícios junto à população florianense, onde os revolucionários Lourenço Moreira Lima, Manoel de Macedo e Batista Santos expuseram os ideais da Coluna, lembrando que geralmente estes comícios, eram acompanhados de uma reduzida parte da população que mais comparecia muito mais por medo do que por interesse nos ideais da revolução propagada pela Coluna.

Na sua estada por essa região ocorreu um fato bastante curioso. Prestes antes mesmo de deixar Barão de Grajaú - MA, (cidade limítrofe com Floriano, separada apenas pelo rio Parnaíba que faz a fronteira natural entre o Piauí e Maranhão), rumo a Amarante, (cidade do lado piauiense nas proximidades de Floriano), fora procurado por fazendeiros pernambucanos que o fizeram proposta descabida, prometeram-lhe grande aporte de armas, desde que ele eliminassem os seus inimigos locais. Prestes não aceitou a proposição e seguiu para o encontro com Juarez Távora e Miguel Costa, em Amarante (MEIRELLES, 1995 APUD: SANTOS, 2005)

Em 26 de dezembro, para alívio dos florianenses que haviam se refugiado nas redondezas a Coluna deixou a cidade de Floriano. Antes publicaram um jornal denominado de “o Libertador “, deram-lhe o número 9, e com uma tiragem de 600 exemplares, algo significativo para época. O mesmo fora editado pelo jornalista Pinheiro Machado, integrante da Coluna, na gráfica do Jornal Floriano (SANTOS, 2005).

Com o passar dos dias até as famílias mais tradicionais já estavam acostumadas ao convívio da Coluna. O comerciante Raimundo Ribeiro da Silva, na noite de natal, oferece generosa ceia ao estado-maior e presenteia os oficiais com lenços de seda vermelha, numa noite de muita música, danças e comemorações.

Após algum tempo na região a coluna e encalçados pelas forças governistas e algumas baixas entre elas a de Juarez Távora preso nas proximidades de Teresina, pelo então Capitão do Exercito, Antonio da Costa Araujo, se direciona pelo território piauiense rumo ao sul do país, passando em Picos em 14 de julho de 1926 e a 17 Oeiras. Nesta cidade Prestes e seus oficiais do estado-maior, foram acolhidos pelo rico fazendeiro Nogueira Tapety (SANTOS, 2005).

Em 23 julho de 1926 entram em Floriano novamente. Agora a recepção fora bem diferente. A coluna, fora até aclamada pelo povo florianense, inclusive por aqueles que haviam se retirado. Estes haviam retornado, convencidos de que a Coluna era respeitadora, e não praticava, ou não praticava mais, atos de banditismo. Mas o medo e desconfiança florianense era justificado pelos boatos corridos pelo sertão, como os acontecimentos ocorridos em Parnaíba, onde alguns membros da Coluna, praticaram os maiores desvarios e selvajarias, além dos fatos já conhecidos de todos os florianenses como a dizimação de gado e animais nos sertões da Bahia e Paraíba. (MEIRELLES, 1995 APUD: SANTOS, 2005)

Apesar dos episódios de disparate, cometidos por parte da Coluna serem conhecidos do povo de Floriano, na segunda passagem da Coluna por esta cidade, já retornando em direção ao sul do país, os revoltosos foram calorosamente recebidos. Imediatamente foram organizados comícios, e ainda se deu tempo, de publicar mais um número do “Jornal Libertador”, agora de número 10. Floriano acolheu os revoltosos com alegria e festa. O palacete do abastado Hermano Brandão ofereceu aos “revoltosos” uma monumental recepção com muita música, onde compareceu toda a oficialidade da Coluna. (SANTOS, 2005)

Retiraram-se de Floriano no dia 25 de julho, dirigindo-se para Jerumenha, onde descansaram às margens do rio Gurguéia para depois seguirem em direção ao sul.

Para Meirelles a Coluna fora,

Uma das mais extraordinárias marchas revolucionárias da História da Humanidade. Durante mais de dois anos e meio, um grupo de jovens oficiais do exercito e da Força Pública de São Paulo vagou pelo interior do país, em companhia de uma legião de civis, empurrados pelo sonho de transformar o Brasil numa grande nação. Dignos e honrados, tinham todos o talhe de caráter dos homens de bem do seu tempo. Lutaram, acima de tudo, como cidadãos indignados com o arbítrio, o nepotismo e a corrupção que devastava esse país, no começo dos anos 20. (1995)

A Coluna deixa o estado do Piauí com 1500 homens bem montados, armados e equipados, mas infelizmente seus idealizadores: Prestes, Miguel Costa, Juarez Távora e Cordeiro de Farias, Ary Freira, Djalma Dutra, Siqueira Campos e tantos outros não computaram adesões para a sua causa.

CONCLUSÃO

A partir de tudo que fora registrado e observado, tendo por base o referencial teórico delimitado, se constata a presença de alguns aspectos históricos muito interessantes para o resgate de nossa, como também ausências. Ao que parece a população florianense na sua maioria desconhecia os reais motivos e ideias do movimento revolucionário e não se sentiam em nenhum aspecto, identificados com os ideais do movimento. Até podiam concordar com algumas críticas feitas ao estado brasileiro e aos coronéis, mas nada, que pudesse provocar nestes, algum tipo de revolta, indignação, em grau suficiente para aderir ao movimento. Num primeiro momento o que os florianenses mais pareciam conhecer sobre o movimento da Coluna, era o que maldosamente e de modo interessado, se divulgava a partir do Estado e das velhas oligarquias piauienses e nordestinas. Isso fica evidente na maneira como a maioria da população de Floriano reagiu fugindo para as redondezas em busca de refúgio por medo da tropa de Prestes. O povo até então não via nos revoltosos nenhuma condição de tomada do poder. Talvez por conta da distancia geográfica e das condições sociais de sobrevivência muito difíceis, os florianenses estavam muito mais preocupados com as questões do cotidiano, do trabalho, do comercio entre outras atividades desenvolvidas por estes para seus patrões locais, uma elite comercial, pequena mas dominadora e detentora de terras, gado e comercio. Após a 1ª passagem da tropa e do desenvolvimento de suas atividades sem nenhuma implicação mais violenta, e até respeitosa, os florianenses o receberam com festas e comemorações, atitude muito mais em caráter de hospitalidade e admiração por aquele ato de valor, lutar por mais liberdade e democracia, do que mesmo por identificação política.

REFERÊNCIAS:

Demes, Josefina. (2010)

Meirelles, Domingos. As noites das Grandes Fogueiras – Uma história da Coluna Prestes. 2ª Ed, 1995;

Santos, Jose Bruno dos. Crônicas para a História / José Bruno dos Santos. Teresina. 2005 – 344p.

David Bandian
Enviado por David Bandian em 10/11/2012
Código do texto: T3979135
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