Teste com crianças negras (Tema Racismo)

Este é um video chocante,onde mostra a forma que as crianças negras,pensam em relação a sua cor.

"Teste de racismo - BONECAS NEGRAS"

Vídeo: http://youtu.be/15bUmKFWxnw?t=1m7s

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Brincando de Boneca – Um ensaio sobre o Negro e sua Auto-Estima:

Kiri Davis: Você pode me mostrar qual dessas bonecas é boa?

A Criança 1 alcança a de cor branca.

Kiri Davis: Porque esta é a boneca boa?

Criança 1: Porque ela é branca.

Kiri Davis: Você pode me mostrar qual dessas bonecas parece ser má?

A Criança 2 alcança a de cor preta.

Kiri Davis: Porque esta parece ser má?

Criança 2: Porque ela é preta.

Kiri Davis: Por que você acha que a outra boneca é a boa?

Criança 2: Porque ela é branca.

Kiri Davis: E você pode me dar à boneca que parece com você?

A Criança 2 encosta na boneca branca e logo após empurra a boneca preta em direção a pesquisadora.

O diálogo transcrito acima faz parte de um vídeo de Kiri Davis intitulado ‘A Girl Like Me’, no qual se encontra problematizada a percepção que crianças e adolescentes afro-americanos têm de sua ‘negritude’. Para tanto, a diretora reproduziu o Teste de Auto-Percepção desenvolvido pelo Psicólogo Educacional Kenneth Bancroft Clark (1914-2005) – o primeiro psicólogo negro a obter doutorado em Psicologia pela Universidade de Columbia (EUA).

Foi no ano de 1939 que Clark aplicou pela primeira vez o teste em grupos de crianças negras e brancas. O teste consistia em exibir quatro bonecas para as crianças – duas eram negras e duas eram brancas -, e requeria-se que as mesmas atribuíssem às bonecas determinadas características: bonita, boa e má. Tanto em 1939, como depois em 1950 - quando Clark refez o experimento -, uma maioria esmagadora de crianças, tanto negras quanto brancas, atribuiu às características de boa e bonita às bonecas brancas e definiram como má às bonecas negras. O vídeo de Kiri realizado em 2005 objetivou averiguar se no transcorrer desses 55 anos algo havia sido modificado: das 21 crianças negras que participaram do seu documentário, 15 escolheram a boneca negra como sendo má. Dessa maneira, pode-se afirmar que no que diz respeito à percepção que as crianças negras produzem sobre si mesmas quando a tensão racial está em jogo muito pouco foi alterado.

De que forma a racialização dos sujeitos afeta suas subjetividades? Como isso se reflete na maneira desses sujeitos se perceberem e se estimarem?

Uma criança que se identifica como negra, e que atribui a uma boneca que é representação de sua constituição étnico-racial características negativas certamente enfrenta sérios problemas de ordem subjetiva: Auto-Imagem distorcida, baixa Auto-Estima e desenvolvimento de personalidade comprometido, por exemplo.

Nas palavras de Kenneth B. Clark, “qualquer ser humano que está sujeito a um status de inferioridade óbvio na sociedade em que ele vive, tem sido definitivamente afetado no desenvolvimento de suas personalidades; os sinais de instabilidade em sua personalidade são claros”. Embora todo ser humano esteja exposto a uma série de fatores que podem causar danos ao seu desenvolvimento emocional, intelectual e social, estão sujeitos a níveis maiores de sofrimento aqueles que são alvo de discriminações por algo impossível de ser revertido – como a cor de sua pele.

A partir do momento em que nascemos, somos imersos numa estrutura social complexa na qual, a depender de certas características naturalmente dadas ou constituídas durante nossa trajetória, vão sendo agregados ao que somos determinados valores que tem papel determinante em nossa

forma de lidar com nós mesmos, com o grupo que consideramos como semelhante e com aqueles que diferenciam de nós. No caso dos sujeitos negros, os valores são, em sua grande maioria, pejorativos e o movimento de re-significação e de re-invenção de si mesmo o mais alheio possível de todas essas definições negativas depende de diversos fatores culturais, econômicos, sociais e políticos. Como disse uma vez Caetano Veloso “cada um sabe a dor e delícia de ser o que é”, mas infelizmente para alguns as dores são muito maiores que as delícias: sentir-se inferior, menos atrativo do que outros e com pouca capacidade intelectual pelo fato de pertencer a um segmento étnico-racial produz efeitos alarmantes e profundos na auto-estima e na auto-percepção desses sujeitos. Uma auto-imagem ‘deteriorada’, em muitos casos, gera desdobramentos imensuráveis na vida dos sujeitos, podendo culminar em estados constantes de insegurança, em dificuldades sociabilização, em dificuldade no desenvolvimento de suas potencialidades, entre outros quadros que refletiriam esse estado de insatisfação interior.

Como se auto-estimar numa sociedade onde os negros ainda são tão preconceituosamente retratados nos meios de comunicação? Quando não são empregados domésticos, escravos, criminosos ou religiosos, são pessoas que sofrem tanto com o preconceito que, muitas vezes, querer ser como eles não aparenta ser um bom negócio. Como se auto-estimar numa sociedade na qual o negro parece ocupar lugares tão restritos? São em épocas festivas como o carnaval, em jogos de futebol ou em cadernos policias que o negro emerge de uma aparente invisibilidade para torna-se visível aos olhos do país: mas seriamos nós só música, futebol e crimes? Como se auto-estimar numa sociedade em que só recentemente o mercado reconheceu que são necessários diferentes produtos para diferentes segmentos populacionais? Que só a pouco se rendeu aos apelos de milhares de consumidores que precisavam e exigiam que suas especificidades fossem respeitadas? Agora temos produtos para cabelos cacheados e crespos à disposição em qualquer prateleira de supermercado, além de uma infinidade de outros produtos. Podemos até comprar bonecas negras (e brancas também se quisermos) para nossos filhos brincarem e se identificarem com elas na expectativa de que essa identificação seja positiva.

Por estimar-se se entende uma ação subjetiva de ter apreço por si mesmo e, indo mais além, configura-se pelo ato de atribuir-se valores benéficos. Em contrapartida, o que o Teste de Auto-Percepção com as bonecas nos apresenta são crianças que, em sua maioria, atribuem valores benéficos a algo diferente daquilo que consideram ser já que elas são tão negras como a boneca que definem como má. Para que esse quadro assustador seja revertido precisamos dar mais atenção à educação que nossas crianças recebem dentro e fora de casa e nos empenharmos em transmitir a elas o quanto é positivo ser o que são. Elas necessitam estar em contato com a história de seus antepassados e concomitantemente mostrar-lhes os atores dessa recente história de luta, de conquistas e de transformações. Faz-se também de extrema relevância que modifiquemos a nossa forma dicotomizada de lidar com as relações raciais: é imprescindível que abandonemos a postura de nos colocarmos como antitéticos a tudo que ser branco alguma vez já representou, representa ou pode vir a representar. Essas práticas são apenas algumas das tantas que necessitamos concretizar, visto que a construção de uma Auto-Estima fortalecida tem o poder de modificar radicalmente a maneira dos sujeitos lidarem com sua ‘negritude’ bem como de lidar com maneira de ser dos demais: negros ou não-negros.

Uma coisa é certa: todo ser humano - independente de ‘raça’, de classe social, de gênero, de nacionalidade, etc. – enfrenta insatisfações de maior ou de menor proporção com o aquilo que acredita ser. A ironia disso tudo é que embora a insatisfação fatalmente se apresente, são os fatores como raça, classe social, gênero, etc., que intensificam a complexidade desta problemática que é gostar de si mesmo. Por fim, a nós adultos, e aquela criança que há muito deixamos de ser - mas que ainda existe dentro de nós -, nos cabe abrir os braços para a diversidade humana aprendendo assim a conviver com a diferença e, acima de tudo, a respeitá-la, para que num futuro não muito distante, quando nossas crianças forem indagadas sobre qual de suas bonecas de diversas cores é a melhor, a mais bonita, a mais inteligente elas sejam capazes de nos responder que todas elas o poderiam ser.

[Fontes: Washington Informer: http://www.washingtoninformer.com/ OPEDguesteditorial2-2005Nov17. html]

[Wikipedia: http://en.wikipedia.org/wiki/Kenneth_Clark_(psychologist)]

(Fonte: Daniela da Silva Luiz)