OS ZUAVOS BRASILEIROS

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR*

A História do Brasil registra que no ano de 1864, o então Imperador Pedro II em nome do Segundo Império Brasileiro declara guerra contra a República do Paraguai. É importante citar que durante o século XIX o Brasil era um país onde a escravidão imperava em todos os sentidos, pois, os homens negros que eram livres igualmente em todos os sentidos na África, eram transformados em escravos em nossa pátria, fazia parte do comércio negreiro que muitos historiadores chamavam de “galinhas da Angola” e eram vendidos no mercado negreiro como quaisquer objetos ou animais domésticos, sem deixar de lado de que muitos teólogos da Igreja da época afirmavam de que os negros tinham corpo (fazendo referência à alma) e não tinham espírito, vejam que entendimento cheio de preconceitos e desigualdades entre a raça humana. Fica evidenciado de que a maioria da população brasileira em 1864 era constituída por escravos e para que os mesmos pudessem ingressar no exército brasileiro para ir lutar contra o Paraguai, o Governo Imperial concedeu a alforria coletiva aos escravos que aderissem a causa do então “patriotismo nacional”. Era uma questão do “sistema” da época, quem fosse negro vindo para o Brasil tinha que ser tratado como objeto/escravo. Então o escravo para fosse para a Guerra do Paraguai recebia sua alforria, carta de cidadão livre do sistema de escravidão. Era uma condicionalidade oferecida, como se fosse um prêmio a liberdade e tornar-se assim cidadão, embora de segunda classe segundo o sistema da época. Portanto, na Provincia da Bahia foram constituídas três companhias militares formadas por escravos alforriados que receberam a alcunha de “ZUAVOS DA BAHIA”, todos afro-descendentes e praticantes da capoeira, eram vestidos a rigor com largas bombachas vermelhas presas por polainas que chegam até a curva da perna, jaqueta azul aberta, com bordas de trança na cor amarela, guarda peito do mesmo tecido, o pescoço limpo sem colarinho, sem gravata e um fez na cabeça.

É importante mencionar de que o Conde D’ Eu, esposo da Princesa Isabel, filha de Dom Pedro II, afirmava que “a Companhia de Zuavos da Bahia como a mais linda tropa do Exército com seus oficiais inteiramente a par de todos os pormenores do serviço e orgulhoso de seu Batalhão”. O alistamento para a Guerra do Paraguai era voluntário e a Bahia foi quem mais enviou soldados voluntários entre homens livres e escravos alforriados: Zuavos da Bahia.

É um fato histórico que os Zuavos da Bahia lutaram para defender o Brasil contra o Paraguai nas batalhas de retomada da cidade de Uruguaiana, do Havai, tomada do Forte de Itapiru, Tuiuti, dentre outras. Os historiadores afirmam de que eles eram valentes, heróicos e sangue bom de verdade. É de suma importância citar que o “sangue azul” Dom Obá II, negro alto e forte, natural da cidade de Lençóis, Estado da Bahia, filho de uma geração livre de Reis na África e que seus pais foram trazidos para o Brasil e aqui escravizados, serviu de comandante de uma das três companhias de “Zuavos da Bahia” durante a Guerra do Paraguai.

No dia 22 de setembro de 1866 os Zuavos participaram da batalha de Curupaity e com a derrota da Triplice Aliança: Brasil, Argentina e Uruguai, os Zuavos da Bahia ficaram praticamente extintos, morreu muita gente lutando para defender o Brasil e seus interesses. Os Zuavos Pernambucanos e Bahianos, foram as companhias militares negras mais importantes do período da Guerra do Paraguai (1864-1870) que lutaram e derramaram seu sangue em defesa do Brasil, apesar da relutância do ingresso da etnia negra no Exército Brasileiro naquela época.

Finalmente, os negros alforriados: Zuavos da Bahia que voltaram da Guerra do Paraguai com vida foram gradativamente morrendo de velhice, pobres e esquecidos, valendo salientar de que graças aos escritos de Manoel Raimundo Quirino, primeiro historiador negro do Brasil que se tem notícia, natural de Santo Amaro da Purificação no Estado da Bahia, não ficou totalmente no esquecimento a bravura do homem alforriado para ser bala de canhão e que sua história teria desaparecido e o povo negro dela não teria conhecimento na atualidade. Ainda durante o Segundo Império os Zuavos da Bahia receberam homenagens por suas valentias e bravuras, tais como nome de rua na referida Província Bahiana, que ao longo do tempo tais honrarias lhes foram tiradas, caindo no esquecimento de nossa gente.

...........................

REFERÊNCIAS:

CERQUEIRA, Dionísio. Reminisciências da Guerra do Paraguai. Rio de Janeiro: Biblioteca Militar, 1949.

CHIAVENATO, José Júlio. Genocídio americano: A Guerra do Paraguai. São Paulo: Editora Brasiliense, 17ª Edição, 1979.

DORATIOTO, Francisco. Maldita Guerra - Nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002

DUARTE, Paulo de Queiroz. Os Voluntários da Pátria. Volume 2 - Tomo V, O Comando de Osório. Biblioteca do Exército Editora. Rio de Janeiro, 1986.

IANNI, Octávio. Raças e classes sociais no Brasil. São Paulo, Editora Brasiliense, 1987, 3ª edição.

SALES, Ricardo. Guerra do Paraguai: escravidão e cidadania na formação do exército. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990

....................

*

Endereço para acessar este CV:

http://lattes.cnpq.br/5755291797607864

ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL

http://www.academialetrasbrasil.org.br/ArtFPMAdetentos.html

http://www.academialetrasbrasil.org.br/albestados.htm

http://www.academialetrasbrasil.org.br/albparaiba.htm

http://www.academialetrasbrasil.org.br/artfranaguiar.htm

http://www.academialetrasbrasil.org.br/galeriamembros.htm

RECANTO DAS LETRAS

http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=65161

CONSELHO BRASILEIRO DE PSICANÁLISE

http://www.cobrpsi.org/psicanalistas/paraiba-pb-/

http://www.cobrpsi.org/artigos-publicados/

O GUIA LEGAL = SITE DE PESQUISAS

http://www.oguialegal.com/08-historicodefavela.htm

http://www.oguialegal.com/08-favelaontemehoje.htm

http://www.oguialegal.com/08-favelaemespanhol.htm

http://www.oguialegal.com/08-palavrafavela.htm

CBP – REPRESENTANTE REGIONAL PARAÍBA

http://www.cobrpsi.org/regionais/

Biblioteca

Instituto Histórico e Geográfico Paraibano

FONTE: http://www.ihgp.net/biblioteca/index.php?item=10

História

Autor: AGUIAR, Francisco de Paula.

Título: Santa Rita, sua História, sua Gente: origem, história, povo, sociedade, bases econômicas e antropologia geo-social e cultural

Editor: Campina Grande/PB: Gráfica Julio Costa, 1985. 109 p. il.

Descritores: SANTA RITA, HISTÓRIA, MUNICÍPIO DA PARAÍBA.

Série: s.s.

Notas: Traz foto do autor e seus pais, da Bandeira Oficial do Município de Santa Rita (p.91), Brasão Oficial (p.93), Brasão e Armas do Colégio Francisco Aguiar (p. 95).

Localização: HIS-60 PB (5392/97)

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 12/02/2013
Código do texto: T4136663
Classificação de conteúdo: seguro