REGISTRO NÃO É REGISTO

Francisco de Paula Melo Aguiar

Preliminarmente, entendemos que o termo “registro” significa o registro de fatos da vida cotidiana de uma pessoa, tais como: nascimento, casamento, morte, etc. Enquanto o termo “registo” significa o registo de um desenho, painel figurativo de azulejos, como por exemplo, os azulejos do ardo da Igreja de São Francisco, em João Pessoa. Em Portugal surgiram os azulejos em grande número após o terremoto de 1755, representando os santos, a Sagrada Família e a própria Virgem Maria, geralmente colocados na fachada principal dos prédios e dos edifícios, acima da porta principal pedindo proteção divina. Sabe-se que já existiam azulejos antes de 1755 em Portugal e no restante da Europa, embora em pequena quantidade tal uso. É importante mencionar de que o uso por extensão do conceito de “registo”, refere-se a estampas gravadas, geralmente em pequenas dimensões, onde figuram santos e episódios da Bíblia Sagrada, tendo como exemplo principal as quatorze estações (1ª.Estação: Jesus é condenado à morte; 2ª Estação: Jesus carrega a cruz às costas; 3ª Estação: Jesus cai pela primeira vez; 4ª Estação: Jesus encontra a sua Mãe ; 5ª Estação: Simão Cirineu ajuda a Jesus; 6ª Estação: Verônica limpa o rosto de Jesus; 7ª Estação: Jesus cai pela segunda vez; 8ª Estação: Jesus encontra as mulheres de Jerusalém; 9ª Estação: Terceira queda de Jesus; 10ª Estação: Jesus é despojado de suas vestes; 11ª Estação: Jesus é pregado na cruz; 12ª Estação: Jesus morre na cruz; 13ª Estação: Jesus morto nos braços de sua Mãe; 14ª Estação: Jesus é enterrado) Via Sacra ou Via Crúcis (do latim Via Crucis, "caminho da cruz") é o trajeto seguido por Jesus carregando a cruz, que vai do Pretório até o Calvário. O exercício da Via Sacra, como também é chamada, consiste em que os fiéis percorram mentalmente a caminhada de Jesus a carregar a Cruz desde o Pretório de Pilatos até o monte Calvário, meditando simultaneamente à Paixão de Cristo. Tal exercício, muito usual no tempo da Quaresma, teve origem na época das Cruzadas (do século XI ao século XIII): os fiéis que então percorriam na Terra Santa os lugares sagrados da Paixão de Cristo, quiseram reproduzir no Ocidente a peregrinação feita ao longo da Via Dolorosa em Jerusalém. O número de estações, passos ou etapas dessa caminhada foi sendo definido paulatinamente, chegando à forma atual, de quatorze estações, no século XVI. Os azulejos também são usados para marcar ou assinalar páginas dos missais e outros livros de devoção, veneração e orações dos crentes (católicos, protestantes, etc), conforme menciona a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira neste sentido.

Assim sendo, os azulejos da Igreja de São Francisco, pertencente ao conjunto arquitetônico do Convento Santo Antônio (O conjunto arquitetônico da Igreja de São Francisco/ Convento de Santo Antônio é formado pelo Adro, Igreja, Convento e Cruzeiro, sendo considerado o maior monumento em estilo barroco da América Latina (Rodriguez, 1992). Sua edificação foi de iniciativa dos frades da Ordem Franciscana que vieram à Paraíba para ajudar os jesuítas na catequização dos índios. O conjunto encontra-se tombado pelo Patrimônio Histórico desde 1952 (Nóbrega, 1982) em João Pessoa são “registos” que “registram” o passando histórico religioso da arquitetura católica do século XVI em território paraibano.

Por outro lado “ a Igreja de São Francisco apresenta um estilo fiel ao barroco rococó e é considerada o mais importante monumento histórico-artístico religioso, dentro do conjunto de que faz parte (Nóbrega, 1982). Começou a ser construída em 1589 e só foi completamente terminada em 1788. Chegou a servir de residência a diretores holandeses (CPCH, 1999), durante a invasão holandesa, período no qual teve suas obras interrompidas (Nóbrega, 1982)”. As pesquisas de cunho histórico relatam que “na entrada do grande Adro da Igreja de São Francisco, encontra-se um monumento, belo por sua imponência, o Cruzeiro de São Francisco. Trata-se do único cruzeiro remanescente atualmente em João Pessoa (Nóbrega, 1982)”. O referido conjunto arquitetônico foi “iniciado no século XVI, o Adro da Igreja de São Francisco é cercado de duas grandes muralhas antigas e azulejadas, com seis painéis representando as estações da Paixão de Cristo. Esses azulejos são de grande importância histórica e artística. Já a parte superior das muralhas é trabalhada em pedra. Por sua vez, o piso do adro é todo em lajes muito antigas (Nóbrega, 1982)”. De modo que “Os franciscanos viveram no convento até 1885. De 1885 a 1894, o mesmo foi tomado pelo império, que instalou no Convento uma Escola de Aprendizes Marinheiros e um Hospital Militar. Posteriormente, com a criação da Diocese da Paraíba, o 1º Bispo da Paraíba, Dom Adauto de Miranda Henriques, conseguiu reavê-lo com a finalidade de iniciar Seminário e Colégio diocesano. Por 70 anos o convento foi casa de formação sacerdotal. Depois, foi local de funcionamento de algumas instituições do Estado e, em 1979, todo o Conjunto foi fechado para restauração. Finalmente, aos 6 de março de 1990, foi reaberto como Centro Cultural de São Francisco (CCSF, 1999)”. O que nos leva a deduzir de que realmente “[...] a riqueza artística a se admirar é infinita, em todos os seus detalhes. Há, inclusive, mostras permanentes da arte popular brasileira. E, periodicamente, o Centro Cultural é local de variadas mostras e eventos culturais (CCSF, 1999)”, orgulho dos paraibanos e relíquia histórica da humanidade cristã.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 16/04/2013
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