Fome e Frio

Escrever de barriga cheia é legal, hoje é sobre a fome - o frio na extremidade dos dedos dos pés e na extremidade do fio do cabelo, tudo frio na geladeira-freeze do mundo invernal que toca o estado de Santa Catarina de Norte a Sul, Leste a Oeste, inclusive nevando em ponto onde a altitude colabora, na cidade de São Joaquim, São Miguel do Oeste, Urupema e Urubici entre outras do estado de Santa Catarina, já tomei suco verde e a seguir café, dei uma pausa fui colocar o lixo para ser recolhido pelo caminhão do lixo à noite, resolvi o problema da porta que havia vendido fazia mais de ano, conversei com Nabor o jardineiro do prédio, e subi para o apartamento e o frio não largava de mim, fazer o que, fotografei o céu azulzíssimo da sacada, li As vinhas da Ira de John Steinbeck prêmio Nobel de literatura em 1962, li uma lauda somente, coloquei o pote de mel na água morna para descristalizar só que nem sei porque não aconteceu, retirei o mel do banho Maria e o mel estava do mesmo jeito, (quer dizer cristalizado), será que a temperatura ambiente foi maior que a temperatura da água?, meti uma colher de café dentro do pote e mandei um pouco de mel para boca, deixei a colher na pia, frio, frio, frio e não dá ânimo para fazer absolutamente nada, uma inércia total, menos para ir ao banheiro, apreciar a tarde chegando, hoje não vi pássaro, sentado na poltrona o sol invernal fazia uma graça saia e se escondia deixando a claridade que agradava quem colocou roupa no varal e teima em lavar a calçada com esse frio, e, nesse momento me dá uma vontade de fazer algo para comer são quinze e dezessete do dia 22 de julho de 2013, os ossos gela, os dedos aquecido porque digito, a mente gelada, a epiderme totalmente integrada a estação estou com três peles, pele, sobre a pele e outra pele sobre a segunda pele é tri-pele para suportar o frio, a fome vem chegando com rastro e rede, com sede umbilical, com paz impaciente, com riso de desdentado, com cara e jeito de humor mal humorado, na vida vivida com a fome de 1/3 da população da terra, vem como fera indigente na pele fria de gente, na dor minguante que não atenua nem com uma dose de aguardente, vem silenciosamente gritando, na cratera gulosa do corpo humano, saudando o alimento com o olhar estomacal.

Entendendo a fome do miserável, desde o sapo engolindo mosquito e a lagartixa engolindo com a sua língua rápida a mariposa que brinca envolta da lâmpada fluorescente, e o besouro de estrume no seu entardecer não sobrevive por falta de comida e lume, e na noite que já se faz morcegadamente voando descontrolada a fêmea morcega tonta por comida aérea coisa rara naquele dia, o frio o impedia de visitar a cabeça raspada do rato que fazia plantão no porão do armazém de arroz e feijão, e a fome habita em mim agora de forma mais intensa, lembro da estrovenga*, do cabo da garrafa, da caneca de alumio, do pescado e do pescador, da dor de sentir dor de fome, de sentir sentimento de fome, de sentir que um homem vira lobisomem por isso que se desintegra do ser humano e vira lobisomem para tentar encontrar algo para comer que não seja o convencional que vinha comendo, e dentro na natureza humanamente falando ele possa encontrar no canibalismo de transformar o alimento já que como ser humano não tivera conseguido. E eu que estou fora dessa onda de transformação fui abrindo logo a geladeira e retirando, alface crespa, salsão, tomate, azeitona, ovo de codorna e palmito, lavei com água corrente as folhas, fui cortando o tomate, palmito, o ovo de codorna e a azeitona foi direto para o prato quadrado, assim montei a salada, enquanto no grill fritava a lingüiça e junta estava baguete cortada em rodelas com creme de alho, e em um depósito adicionei farofa pronta de milho e mandioca com azeite e pimenta que aguardava a lingüiça mista, em poucos minutos estava pronta a lingüiça e a torrada de baguete, cortei a lingüiça mista em pedaços pequenos e juntei com a farofa, levei até a mesa que já estava com o prato redondo servindo de apoio, duas taças e o vinho branco Miolo safra especial de 2009 da uva Riesling e Chardonnay, degustei um gole, inicie a comida pela salada fria, aos pouco fui bebericando, ora vinho, ora tomava água, após fui comer a farofa e saborear a torrada, a tarde invernal findava juntei com meu almoço-jantar, levei prato e talheres e taças até a pia meio sonolento, me dirigi a suite, escovei os dentes, foi quando um frio polar entrou dentro de casa, só deu tempo de ligar o aquecedor, me jogar na cama, e num sono profundo chegar mais perto de Deus.

Estrovenga*=
Substantivo feminino.

1.
Bras.N.E. Estrupício (4).
2. Bras.PEAL Coisa complicada, misteriosa, fora do comum, que não se pode definir com precisão.
3. Bras.PEBAMGGO Implemento agrícola: pequena foice de dois gumes:
“foices que roçam, capinam, / ferros de cova, estrovengas” (João Cabral de Melo Neto, Duas Águas, p. 264).
4. Bras.BAMGGOChulo O pênis.
© O Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa.

Imagem do meu arquivo pessoal foto com auxílio do Ipad2.

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Moisés Cklein
Enviado por Moisés Cklein em 24/07/2013
Reeditado em 04/08/2013
Código do texto: T4402728
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