Maria Negra Aparecida

Considero as crenças católica e evangélicas como Politeístas, crenças que adoram e veneram vários deuses e imagens.

Embora afirma que veneram um só Deus, a verdade mesmo é que veneram e adoram vários deuses vestidos de santos. Adoram e Veneram Santos e Imagens como se fossem deuses. Às vezes o fiel tem mais FÉnatismo e adora venera mais o seu santo predileto do que no deus absoluto da igreja católica

Consideram Jesus como deus e há muitos cristãos das igrejas evangélicas que consideram, dentro da unidade do único Deus que existem três pessoas distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo; e estes três compartilham da mesma natureza e atributos; então, com efeito, estes três são o único Deus.

E as igrejas que os evangélicos fundam para arrancar os dízimos dos fieis, são chamadas por eles, pelos evangélicos, como a "noiva" de Cristo.

O papa Francisco quando visitou o Brasil, celebrou missa na basílica de Aparecida e ressaltou que “aquilo que é pecado se transforma em vinho novo na amizade com Deus”.

Talvez tal como quando da conquista e colonização Ibérica na América. Portugal e Espanha, países extremamente católicos, trouxeram junto com os navios e desbravadores, os sacerdotes, os quais tinham a missão de expandir a fé para essas novas terras. Encontraram sociedades nativas com costumes totalmente diversos, ou como diria o antropólogo Lévi Strauss, os europeus encontraram “outra humanidade”. Na colonização espanhola viu-se uma verdadeira “Guerra de Imagens” e a condenação das práticas religiosas dos nativos sendo colocada como “idolatrias” ou “demoníacas”.

Já na carta de Pero Vaz de Caminha se diz que a maior riqueza da terra descoberta “eram as almas dos índios a converter” - e as sociedades europeias, num primeiro momento muitos achavam que eles não teriam alma. Depois entenderam que eles eram pessoas puras e necessitavam receber o Evangelho, outros ainda pensavam que deveriam ser tratados como os “mouros” (muçulmanos africanos / árabes).

O projeto da igreja católica/colonial português se afirmava desenvolvendo duas formas de intervenção drásticas para a sobrevivência dos povos indígenas: usurpação de suas terras e exploração da sua força de trabalho. Na realidade, os primeiros escravos do Brasil foram os índios, também chamados, na documentação oficial, de “negros da terra” ou “gentío da terra”. Padres jesuítas comandaram verdadeiros extermínios indígenas nas Américas.

E a igreja, mesmo para colonizar o continente africano, afirmou que os mouros eram pagãos e não possuíam alma, por isso se justificava escravizá-los a força e doutrina-los, e joga-los na fogueira da inquisição santa, para purificação..

Os negros foram introduzidos no Brasil a fim de atender às necessidades de mão-de-obra e às atividades mercantis (tráfico negreiro). O comércio de escravos africanos para o Brasil teve início nos primeiros tempos da colonização. Na África os negros eram trocados por aguardentes de cana, fumo, facões, tecidos, espelhos, etc. Os africanos que vieram para o Brasil pertenciam a uma grande variedade de etnias. Também, os negros não tinham almas, consideração da igreja católica.

Para Maria, no politeísmo católico brasileiro há varias denominações e imagens para adoração e veneração dos fiéis: Nossa Senhora do Rosário, das Dores, do Patrocínio, dos Remédios, da Imaculada Conceição, do Perpétuo Socorro, das Graças, da Ajuda, do Amparo, dos Pobres, da boa Viagem, da boa Morte, da Divina Providência... e as Negras: do Café e Aparecida.

A imagem de Maria Negra Aparecida, foi encontrada no Rio Paraíba, em 1717, por três pescadores. E como disse Frei Betto em recente artigo, “ em uma sociedade escravocrata colonizada pelo reino de Portugal, no qual reis e rainhas eram todos brancos, disseminar a devoção a uma negra, rainha do céu, mãe de Deus, constituía uma forma de afirmar a dignidade das escravas vítimas da luxúria e da crueldade de seus senhores. - Os poderosos procuraram se “apropriar” de Nossa Senhora Aparecida. A 8 de setembro de 1822, um dia após a Independência, D. Pedro I a declarou padroeira do Brasil. É curioso que o título tenha sido concedido pelo imperador, e não pela igreja. E a 6 de novembro de 1888, a princesa Isabel ofertou à imagem a coroa de ouro cravejada de rubis e diamantes e o manto azul bordado em ouro e pedrarias. - As autoridades eclesiásticas, que sempre relutam frente às devoções populares, apenas em 1894 enviaram ao santuário os padres redentoristas, 177 anos depois de a imagem de Maria “aparecer ”.

Vale lembrar que até por volta de 1950, o negro tinha seu lugar nas missas, os fundos da igreja.

De 1842 a 1968, prevaleceu um projeto de evangelização de romanização e ocidentalização da sociedade brasileira, denominado romano-europeu com o objetivo de romanizar a Igreja e colocar o clero como centro. O trabalho era pela europeização do país, e isso significava passar por cima das culturas consideradas "inferiores", a fim de que prevalecesse o processo de ocidentalização. Para isso, abrem-se as portas para os imigrantes europeus, ao mesmo tempo em que se busca a eliminação dos quilombos e bloquear a vinda de novos negros para o país. Os negros eram obrigados a "engolir" o esquema da europeização, favorecendo, assim, a instalação da ideologia do embranquecimento em suas mentes. Aqueles que procuravam manter contato com sua cultura, principalmente através da vivência da fé nas religiões afro, eram impiedosamente perseguidos.

Somente em 1960, com a assinatura da Lei Afonso Arinos, que punia todos os atos de discriminação racial, as Congregações Religiosas do Brasil tiraram de seus estatutos e normas internas os artigos e cláusulas que proibiam a entrada de negros e mestiços para a vida religiosa.

Em 1988, a CNBB, após muita pressão da comunidade negra católica, assume como tema da Campanha da Fraternidade "A Fraternidade e o Negro". Foi o resultado da mobilização dos grupos de pastorais de base. Essa iniciativa projetou o trabalho dos agentes de Pastoral Negros, que conquistaram espaços para reflexão sobre a condição socioeconômica de homens e mulheres negras, além de despertar a Igreja à participação enquanto agente de promoção de trabalhos que respeitam a diversidade e valorizam a pluralidade cultural e étnica.

E na Argentina, nos dias atuais, há poucos negros - existe aproximadamente cerca de dez por cento da população com algum ascendente afro-argentino direto.

Em 1853 nas províncias do interior do país, e em 1860, em Buenos Aires, começou o desaparecimento-extermínio dos escravos negros, ou dos afro-argentinos. Todos os setores da Argentina expressavam a necessidade de construir uma Argentina branca e europeia e falavam sem rodeios do "problema" negro, de sua inferioridade racial, de sua "proclividade" ao roubo, ao jogo e ao calote, quando não era associado diretamente o negro com o macaco e a negra com a prostituta. E considerando o ponto de vista da ação, o governo ditava leis que diferenciavam direitos, obrigações e castigos para o negro.

E por aqui, Brasil, ainda existem "pastores", ditos portadores da palavra, que afirmam que os negros são fruto do ódio de deus, que marcou Caim lhe escurecendo a pele, considerando então todos os negros como filhos de Caim...

Ainda vale lembrar, historicamente, as relações entre os judeus e a Igreja Católica no Brasil, que remontam ao período colonial, a Igreja, através do tribunal do Santo Ofício, perseguia cristãos-novos (conversão forçada de judeus ao catolicismo/cristianismo) acusados de criptojudaísmo, ou seja, de praticar o judaísmo em segredo.

Daí, a doutrina da confissão de pecados ao sacerdote criado pela igreja Católica e copiada pela igreja Mórmon, surgiu como método de controlar a vida de seus membros e como prática da delação.

Essas práticas se deram no período negro da história da igreja. Desse confessar surgiram vendas de indulgências e tantas arbitrariedades que João Paulo II, pediu perdão.

Creio que é necessário reconhecer o passado com realismo e veracidade e não se pode esquecer o presente ainda trágico que a humanidade vive, trazendo até hoje a chaga “das escravaturas”, embora dissimuladas ou elegantemente rotuladas.

Enfim... Jorge papa argentino Chico disse “aquilo que é pecado se transforma em vinho novo na amizade com Deus”.

Pois é... muito, muito conciliador e reconfortante...

Plínio Sgarbi

pesquisa em:

http://www.koinonia.org.br/tpdigital/detalhes.asp?cod_artigo=102&cod_boletim=6&tipo=Artigo