1- Quando nós começamos a utilizar um computador, imediatamente aprendemos a obedecer à suavidade que o ato de teclar exige.
 
Se nós mexemos no teclado de forma tosca, abrupta, grosseira, rude, revelando pressa, estamos perdendo tempo, pois nada acontecerá.
O cursor não seguirá o nosso desejo, o teclado não efetuará o comando almejado, pois sem leveza é impossível usar um computador.
 
Parece que o computador insiste em refinar as almas mais agitadas e reeducar os indivíduos afobados.
 
Não tem jeito!
Na hora de teclar, sem suavidade tudo trava ou não avança.
 
2- Peço licença para comparar o uso de um computador com o uso de um celular.
 
A mesma suavidade exigida lá será necessária cá na hora de mexer nas teclas, mas, no instante das conversas, a leveza fica completamente esquecida e cede espaço a um comportamento bastante contrário à civilização.
 
Antes de prosseguir, vou destacar algo curioso referente às pessoas que possuem celular.
 
3- Conversando via celular, a maioria das pessoas costuma sorrir.
 
Eu não sei explicar o porquê do sorriso, porém podem verificar!
Funciona melhor do que as minhas imbatíveis piadas.
 
A pessoa vive com cara feia, não diz “Olá!”, finge que não está te vendo, age ressaltando total falta de cortesia, mas, no instante que está conversando usando um celular, ela sorri.
 
O indivíduo não conversa sempre com namorados ou alguém especial.
Nada disso!
Até recebendo ligação errada, a pessoa atende sorrindo.
 
É incrível!
O indivíduo vem andando, se aproxima conversando no celular, parece olhar na sua direção, está sorrindo.
Tenha certeza de que o sorriso não é para você.
 
4- Que comportamento bastante contrário à civilização, conforme afirmei acima, apresentam as pessoas atendendo ou realizando uma ligação de celular?
 
As pessoas gritam.
 
Como assim, Ilmar?
As pessoas só falam no celular gritando.
 
Elas não falam alto.
Podem conferir que elas gritam.
 
5- Elas gritam porque desejam que os outros ouçam a conversa.
 
Observem os locais preferidos das conversas usando celular.
Ou as pessoas estão na varanda ou elas estão num espaço aberto.
 
É batata! Se a pessoa atender a ligação num quarto, banheiro ou numa sala, bem rápido ela vai parar na varanda ou sairá da residência para conversar.
 
“Ilmar, ela busca um melhor sinal.”
 
Conversa fiada!
Ela busca que os outros ouçam a conversa.
 
Conversar, via celular, sem ninguém saber o assunto, é chato demais.
 
6- Você, estimado leitor ou querida leitora, certamente está pensando:
“Esse Ilmar é bobo! Ele esquece que certas conversas são particulares.”
“Como alguém combinaria, por exemplo, uma traição gritando?”
 
Se a conversa é séria ou misteriosa, a pessoa usa o telefone fixo.
Ninguém jamais usou um celular para ter um papo relevante.
Todos os diálogos, utilizando um celular, salvo quatro ou cinco exceções durante seis anos, são completamente descartáveis.
 
São papos inúteis que combinam com a inutilidade do aparelho.
 
7- Enquanto as pessoas gritam ao meu lado, nunca quis saber o que elas dizem.
 
Resolvi, entretanto, fazer um tremendo sacrifício, parando para escutar duas conversas via celular.
 
Vou destacá-las agora na íntegra.
(O uso de parênteses indicará os pensamentos)
 
8- Conversa número 1:
 
Fulano Desocupado Filho liga para Sicrano Boêmio de Toda Hora.
 
_ Oi, Sicrano!
_ Oi! Quem fala?
_ Aqui é Fulano.
_ Ah! Fulano! Tudo bom?
_ Tudo legal!
_ O que você manda?
_ Eu não mando, só obedeço.
_ (Idiota) Por que você me ligou, cara?
_ Estava sem ter o que fazer, eu lembrei de você.
_ Na próxima, tendo ou não o que fazer, acho melhor me esquecer.
_ Valeu! A gente se fala depois.
_ Tchau! (Imbecil!)
 
9- Conversa número 2:
 
Julieta liga para o Romeu errado.
 
_ Oi, Romeu!
_ Oi! Quem fala?
_ Aqui é a Julieta.
_ Que Julieta? Eu só conheço a Julieta dos filmes.
_ Você não é Romeu?
_ Sim! Mas não conheço nenhuma Julieta.
_ Será que eu liguei errado para um outro Romeu?
_ Claro, minha filha! Não seja cabeçuda.
_ Não diga “minha filha”, porque eu não sou filha de uma pessoa tão estúpida como você.
_ E eu não seria pai de uma pessoa tão burra.
_ Você está me ofendendo, sabia?
_ Ah, é? Eu pensei que estivesse te elogiando.
_ Seu banana de vento sem educação!
_ O que é um banana de vento?
_ Lamento, mas não vou te dizer! (agora eu pirraço esse babaca)
_ Não diga! Pode pegar a banana de vento e enfiar no...
_ Por favor! Não complete a frase. Eu sou uma dama.
_ Enfie no dicionário, pois não existe essa expressão.
_ Pense o que quiser!
_ Eu vou desligar, pois não quero mais perder tempo com você.
_ Pra quem tem o nome Romeu, você é muito bruto, sabia?
_ Você queria o quê? Quer que eu seja carinhoso contigo?
_ Por que não? A gente pode desenvolver uma bela amizade.
_ Só amizade?
_ Com o tempo, podemos até nos tornar namorados.
_ Eu já tenho namorada.
_ Mas uma namorada chamada Julieta seria ótimo, não?
_ Você é gostosa, Julieta?
_ Sou o tipo de mulher que acaba uma festa.
_ Já sei! Todo mundo sai correndo assustado?
_ Seu estúpido! Não quero mais que você seja o meu Romeu.
_ E eu nunca quis que você fosse minha Julieta.
_ Banana de vento!
_ Agora você enfia a banana de vento no...
 
10- Podemos interromper nesse ponto.
A conversa seguiu mais três horas, só encerrando porque a bateria do celular da Julieta moderna descarregou.
 
Eu posso resumir dizendo que o papo continuou improdutivo, os dois não marcaram um encontro nem a Julieta esclareceu o significado da expressão “banana de vento”.

Como suportei ouvir tantas bobagens?
Eu me distraí admirando as coxas e os seios da Julieta.
Ela era gostosa pra caramba!
O Romeu vacilou.
 
Usando celular, todas as conversas são inúteis?
Eu admito que existem exceções.
 
Se você não conversa besteira, você faz parte das exceções.
Fique tranqüilo(a)!
Não fique zangado(a) comigo!
 
11- Não podemos contestar, no entanto, que as pessoas gritam quando falam no celular.
 
Na conversa descrita acima, eu estava ao lado da Julieta.
Como eu poderia saber o que Romeu dizia?
Como?
Adivinhem!
 
Romeu gritava e Julieta feria os meus tímpanos berrando.
 
12- Finalizando, eu solicito que sigamos o exemplo dos teclados, ou seja, busquemos a leveza e a suavidade conversando via celular.
 
Permaneçamos papeando no quarto, banheiro ou na sala.
Não é necessário ir para a varanda.
O vizinho não precisa saber o que você conversa.
 
Aliás, eu possuo uma sugestão muito mais interessante.
Por que usar celular?
Pra quê?
 
O homem civilizado não merece sofrer os males provocados por esse objeto tão desnecessário, supérfluo e selvagem.
 
Pense nisso!
 
Leveza e suavidade sempre!
Gritar no celular jamais!
Elas consideram Ilmar, além de inteligente, gostoso demais.
Quando provam, sentem o corpo quente, fogoso e pedem mais.
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 13/08/2013
Reeditado em 13/08/2013
Código do texto: T4431915
Classificação de conteúdo: seguro