DONA COSMA

Francisco de Paula Melo Aguiar

Cadeira 7 - Academia Paraibana de Poesia

[...]

Quando nas praças s'eleva

Do Povo a sublime voz...

Um raio ilumina a treva

O Cristo assombra o algoz...

Castro Alves

Dona Cosma, vendedora de milho assado e seus derivados há dezenas de anos na esquina do antigo Posto de Gasolina de seu Biu e depois Farmácia Frei Damião, uma espécie de gente brava em extinção em nossa amada Terra: Santa Rita. Esta senhora é um exemplo de ética e honestidade em nossa Terra. Um exemplo vivo de coragem e simplicidade. Todos os santos dias de cada ano, durante décadas que ela enfrenta sol, chuva e sereno, naquela esquina olhando para as Praças Getúlio Vargas e João Pessoa. A ideologia dela é vender seu milho assado e manter sua família com dignidade. Sei que "política" não é "pulítica", porém, poder é alegria dos homens e das mulheres, também. Mexer com esta senhora é não saber ser "oposição" e muito menos "situação", em termos de disputantes pelo poder de gestar a coisa pública, apesar de saber que “gestar” é acima de tudo um jogo de interesse e que faz contrariar os adversários na vida e na política partidária. Sempre foi e continuará sendo assim. Salvem pelos menos o povo simples e honesto de nossa Santa Rita, a começar por dona Cosma, e até porque “ [...] A praça! A praça é do povo. Como o céu é do condor [...], segundo o poeta Castro Alves (Recife, 1864), conforme transcrevo o poema:

“O POVO AO PODER

Quando nas praças s'eleva

Do Povo a sublime voz...

Um raio ilumina a treva

O Cristo assombra o algoz...

Que o gigante da calçada

De pé sobre a barrica

Desgrenhado, enorme, nu

Em Roma é Catão ou Mário,

É Jesus sobre o Cálvario,

É Garibaldi ou Kosshut.

A praça! A praça é do povo

Como o céu é do condor

É o antro onde a liberdade

Cria águias em seu calor!

Senhor!... pois quereis a praça?

Desgraçada a populaça

Só tem a rua seu...

Ninguém vos rouba os castelos

Tendes palácios tão belos...

Deixai a terra ao Anteu.

Na tortura, na fogueira...

Nas tocas da inquisição

Chiava o ferro na carne

Porém gritava a aflição.

Pois bem...nest'hora poluta

Nós bebemos a cicuta

Sufocados no estertor;

Deixai-nos soltar um grito

Que topando no infinito

Talvez desperte o Senhor.

A palavra! Vós roubais-la

Aos lábios da multidão

Dizeis, senhores, à lava

Que não rompa do vulcão.

Mas qu'infâmia! Ai, velha Roma,

Ai cidade de Vendoma,

Ai mundos de cem heróis,

Dizei, cidades de pedra,

Onde a liberdade medra

Do porvir aos arrebóis.

Dizei, quando a voz dos Gracos

Tapou a destra da lei?

Onde a toga tribunícia

Foi calcada aos pés do rei?

Fala, soberba Inglaterra,

Do sul ao teu pobre irmão;

Dos teus tribunos que é feito?

Tu guarda-os no largo peito

Não no lodo da prisão.

No entanto em sombras tremendas

Descansa extinta a nação

Fria e treda como o morto.

E vós, que sentis-lhes os pulso

Apenas tremer convulso

Nas extremas contorções...

Não deixais que o filho louco

Grite "oh! Mãe, descansa um pouco

Sobre os nossos corações".

Mas embalde... Que o direito

Não é pasto de punhal.

Nem a patas de cavalos

Se faz um crime legal...

Ah! Não há muitos setembros,

Da plebe doem os membros

No chicote do poder,

E o momento é malfadado

Quando o povo ensangüentado

Diz: já não posso sofrer.

Pois bem! Nós que caminhamos

Do futuro para a luz,

Nós que o Calvário escalamos

Levando nos ombros a cruz,

Que do presente no escuro

Só temos fé no futuro,

Como alvorada do bem,

Como Laocoonte esmagado

Morreremos coroado

Erguendo os olhos além.

Irmão da terra da América,

Filhos do solo da cruz,

Erguei as frontes altivas,

Bebei torrentes de luz...

Ai! Soberba populaça,

Dos nossos velhos Catões,

Lançai um protesto, ó povo,

Protesto que o mundo novo

Manda aos tronos e às nações.”.

Cuidado! Oposição e situação, o povo tem memória e jamais esquecerá o que fazem contra os humildes, se lembrem de que todo poder emana do povo e em nome do povo deve ser exercido. Dona Cosma deve continuar vendendo seu milho assado no local de sempre, pois, ela não tem condições materiais para constituir uma microempresa e passar a recolher impostos formais, segundo a legislação tributária nacional, estadual e municipal. E além do mais ela não sabe o que é o jogo da política partidária e jamais esteve envolvida em defender ou acusar: gente da situação e ou da oposição. Administrar e ou gestar é contrariar interesses. Onde dona Cosma está contrariando os interesses da oposição e ou da situação em Santa Rita? A situação e a oposição de Santa Rita, deve fazer política com suas ideias e soluções e ou sonhos para os nossos grandes problemas localizados na saúde, na educação, na infraestrutura, no social, na cultura, no desempregado, na segurança pública, nos meios de transportes, no lixo, na distribuição de casas para quem não tem, etc, etc., não acredito em situação e ou em oposição que não tem o povo em primeiro lugar. Se for verdade o que as redes sociais andam publicando neste sentido é o maior absurdo que um gestor em qualquer nível de governo no Brasil e ou mundo já fez contra uma humilde pessoa do povo em luta constante para sobreviver, a si e a sua prole. Isso se for verdade tem nome: conduta maquiavélica, sendo ressuscitada em pleno século XXI. O direito de continuar vivo e de ir e vir tão bem cantado em versos e em prosa na Carta Magna cidadã de 1988. Não acredito que este absurdo seja verdade em nossa Terra.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 20/08/2013
Código do texto: T4444026
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