O JOGO DE CINTURA DA POLÍTICA

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

Qualquer um pode julgar um crime tão bem quanto eu, mas o que eu quero é corrigir os motivos que levaram esse crime a ser cometido.

Confúcio

Desde menino que ouvia meus pais falarem em jogo de cintura com “c” e não com “s” na política federal, estadual e municipal. Sempre foi assim. Quando completei vinte anos em 1972, fui levado pelo então líder político Heraldo da Costa Gadelha, a ser candidato a vereador à Câmara Municipal de Santa Rita no pleito de 15 de novembro de 1972. O partido o então MDB – Movimento Democrático Brasileiro, “fez” cinco vereadores, dentre os quais eu. Os demais colegas eleitos vereadores foram: João da Costa Gadelha (homem integro, contador de formação e ético), Anibal Limeira (estudante de engenharia e posteriormente formou-se em radiologia médica), Severino Maroja (agroindustrial) e Israel Correia Diniz (motorista e funcionário público federal). Todos homens comprometidos com o desenvolvimento de Santa Rita, assim como os adversários que foram eleitos vereadores naquele pleito pela então ARENA:Aliança Renovadora Nacional: Reginaldo de Freitas (empresário), Marcos Antônio de Souza Brandão (advogado e empresário), José Pereira da Costa Filho (funcionário público prestando serviços a Saelpa), Débora Soares de Araújo (professora de música e funcionária da Usina Santa Rita e do Governo do Estado), Oíldo Soares (estudante de medicina e funcionário público municipal). Todos esses vereadores de 31/01/1973 a 31/01/1977, terminaram seus mandatos dignos e honrados, ninguém foi denunciado por corrupção e ou cooptação de qualquer tipo de vantagem do erário. A Casa Emílio Garrastazu Médici, atual Casa Antônio Teixeira, era constituída por dez vereadores, sendo cinco da situação e cinco da oposição. Naquela legislatura o exercício do mandato de vereador era gratuito em cidades com menos de cinqüenta mil habitantes, que era justamente o caso de Santa Rita no inicio da década de 70 do século XX. O jogo de cintura já existia, porém, jamais os vereadores da situação ou da oposição foram denunciados por traição as suas lideranças, representadas no MDB (oposição) pelo ex-vereador, ex-deputado e ex-prefeito Heraldo da Costa Gadelha, e na ARENA (situação) pelo deputado Egidio Silva Madruga. O prefeito Antônio Joaquim de Morais realizou uma gestão de elaboração de projetos e de seriedade, valendo salientar de que sonhou, projetou e lançou a pedra fundamental para a construção do CENTRO ADMINISTRATIVO DE SANTA RITA, entre as ruas São Pedro e Paraíba. Ficou no sonho do povo de Santa Rita e nada mais... não obstante naquele momento da política, Santa Rita ter na Assembléia Legislativa Estadual a presença do Deputado Egidio Silva Madruga, que inclusive ocupou naquele período o mandato de Presidente da Casa de Epitácio Pessoa, chegando a assumir o Governo do Estado da Paraíba com o afastamento temporário a pedido do Interventor (Governador nomeado pela Ditadura de 1964) Ernani Sátiro. Santa Rita recebeu o Governador em exercício Deputado Egidio Madruga em festa no Santa Rita Tênis Clube e nas ruas... a banda passou e o centro administrativo ficou só no discurso temporal do jogo de cintura da política local. Naquele mesmo local entre as ruas São Pedro e Paraíba, na administração Heraldo Gadelha, foi feito o projeto do ESTÁDIO MUNICIPAL INDEPENDÊNCIA, os representantes de Santa Rita na Assembléia Legislativa e no Congresso Nacional no período de 1963/69, jamais ajudaram o então gestor a realizar o sonho que não saiu do papel. É bom que o povo saiba que um deputado estadual e ou federal é apenas uma figura equivalente a figura de um vereador municipal, tendo em vista que não podem fazer projeto de lei estadual e ou federal para alterar a despesa do orçamento estadual e ou federal. Afirmar o contrário é enganar o povo. O mandado de deputado estadual e ou federal, repito é semelhante ao mandato de vereador municipal, e nada mais. No discurso os legisladores municipais, estaduais e federais podem tudo e na prática não podem executar nada, trata-se de um jogo de cintura. A função do vereador, do deputado estadual e ou federal, quando este tem moral pessoal, profissional e ética, o que significa é um sujeito independente, aí o bicho pega porque o povo aí tem vez, porque ele faz requerimentos de aplausos, de voto de pesar, de denuncia de cooptação política administrativa, de corrupção, de desvio de dinheiro público, de todo tipo de canalhice que venha acontecer na gestão dos governos: federal, estadual e municipal, porém, quando são objetivos de cooptação, fecham os olhos e a corrupção corre solta e o povo só será lembrado quatro anos depois.

Assim sendo, entenda-se por jogo de cintura como sendo o ato pelo qual o sujeito: vereador, deputado federal, estadual, presidente da república, governador de estado e prefeito municipal, fecha os olhos as necessidades prementes do povo que representa em termos de saúde, educação, infraestrutura, segurança pública, lazer, esportes, cultura, projetos estruturantes de curso, pequeno e longo prazo que envolva sua administração e as seguintes, etc. E então, o que é jogo de cintura na política? Jogo de cintura é o individuo ter flexibilidade para encarar alguma coisa ou fase de sua vida e gestão administrativa para sair de dificuldades em sentido amplo, trata-se de uma expressão meramente coloquial: jogo de cintura e não jogo de cooptação, quando deixa de dar dinheiro para ter prestigio parlamentar aí o bicho pega, o que era bom, já não é mais, honesto e ou desonesto, muda de cor e de comportamento, etc. Coisa feia não é? Porém, na política existem essas condutas ambiciosas e falaciosas. O político que tem jogo de cintura é um individuo e ou ser maleável e capaz de adaptar-se em todas as situações, boas ou ruins que se meter pessoal e administrativamente falando. É um individuo vivo demais, corrupto no sentido da palavra, chega de junto ao povo que o elegeu e diz que está a favor do povo e depois comparece aos palacetes e se vendem por qualquer moeda...

Com outro enfoque, o termo jogo de cintura também é utilizado quando a pessoa por necessidade ou não tem flexibilidade em seu modo pessoal de agir, ou seja, é preciso ou necessário “mexer a cintura” para tentar e ultrapassar os vários obstáculos e ou dificuldades que surgirem em seus “negócios” e ou “interesses”, quando se lhe são impostas, principalmente diante novas situações emergenciais e ou não do seu dia-a-dia. Isso pode acontecer na religião, na política, nos esportes, na vida pessoal e empresarial. Comerciante nunca deve ter prejuízo, se vende e ou comprar alguma mercadoria é para ter lucro. Então se o político que tem mandato entende ser mercadoria, aí o bicho pega em sua representatividade popular, porque o povo pode ser enganado durante muito tempo, porém nunca será enganado todo o tempo.

De modo que, o termo jogo de cintura, no meu entender não passa de um mero jargão ou gíria popular utilizada por pessoas de todas as classes sociais e idades, no meio empresarial, religioso e político administrativo em suas relações com pessoas não tão próximas visando a formação de uma imagem positiva, diante do imaginário popular. É uma tentativa de adquirir a confiança do cliente e da população as suas idéias de cooptação para poder realizar seus negócios nem sempre legais.

Uma pessoa que tem jogo de cintura nada mais é que ter uma qualidade individual extraordinária e pessoal, pois, ela sabe como lidar com outras pessoas de qualquer nível social e que possivelmente ela não a admire e ou que goste tanto e até mesmo que sabe lidar com os mais variados problemas, por mais difíceis que sejam sem se abalar, enfrentando assim qualquer situação administrativa, comercial e ou judicial sem demonstrar fraqueza e nunca desistir de seus objetivos e ou façanhas do bem e ou do mal, de modo que Confúcio enfocava que “para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça”, tendo em vista que “no sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade”. E o jogo de cintura com “c” e não com “s” continuará a fazer novos cristãos no exercício de seus mandatos eletivos e o povo ficará para a próxima eleição. Aí o povo terá vez!...

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 09/10/2013
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