GARGAÚ, RIO DO PEIXE BOI

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

"Todos somos gênios, mas se você julgar um peixe por sua capacidade de subir em árvores, ele passará a vida acreditando que é idiota." (Albert Einstein).

Elias Herckman interpretou e traduziu o termo “Gargaú” (que inclusive é o nome de uma povoação rural existente no Município de Santa Rita, área agrícola, de rio e de manguezal, ainda na atualidade), como sendo rio do peixe boi, é verdadeira, não assim a procedência; pois que peixe-boi não se diz em tupi: garga, mas guaraguá. O nome teria sido primitivamente guaraguá-á que por corrupção (corruptela) se fez “Gargaú”. Mas, assim sendo, admite mais de uma tradução, porque guaraguá-á tanto pode ser: o peixe-boi come, como pode ser: rio do peixe boi, visto que o som final á pode ser o verbo comer, como pode ser corrupção de “y”, que significa rio, água, ex-vi escrito pelo historiador Francisco Augusto Pereira da Costa e outros, publicado na Revista do Instituto Arquiológico e Geográfico de Pernambuco (1904). Ressaltamos, porém de que o termo “Gargaú”, tem outro significado, conforme nos informa o dicionário online da Língua Portuguesa, que traduz o termo como sendo “garaximbola”, e cuja tradução significa “certo peixe do mar” e/ou “gargaú”, isso lá para os lados do Rio Grande do Norte e/ou do Rio de Janeiro (que tem um Distrito e uma praia com o nome “Gargau”, também). Na realidade o topônimo “Gargaú” é realmente uma corruptela do tupi “guaraguá-ú”, que em nossa língua materna signfica “rio do peixe-boi” e/ou lugar “onde o peixe-boi come”, corroborando assim com os escritos primitivos e mencionados neste artigo, o que vale dizer que “gargaú” tem o mesmo significado de garaximbola, e/ou seja um peixe marinho que também é chamado de gargaú.

Por outro lado, o termo “Gargaú” também é definido na obra denominada de “Synopsis das Sesmarias de 1613 a 1624”, portanto, “Antes da occupação hollandeza”, segundo Irineu Joffily (1893), isto é, antes de Elias Herckman interpretar e traduzir o referido termo objeto do presente trabalho. Levando-se em consideração que em:

SYNOPSIS DAS SESMARIAS – GARGAÚ - Governo do capitão-mór João Rabello de Lima. Diz Ambrosio Fernandes Brandao, capitão de infantaria, morador nesta capitania e dos primeiros conquistadores, indo por muitas vezes por capitão de infantaria nas guerras aos gentios Petigoar e Francezes, que sendo possuidor de dois engenhos de fazer assucar moentes e correntes, agora queria fazer outro novo engenho na ribeira de Gargaú: e porque lhe e a necessario mais terras do que as que tinha, assim para lenhas como para logradouro dos ditos engenhos, requeria a concessao de duas ilhotas, que estão entre o rio que chamam do Francez e o rio de Gargaú, que são as primeiras que vão. . . . para o rio da Parahyba depois da ponta da terra firme, que está entre os ditos rios, onde era costume estar uma rede de pescar. Fez-se a concessão requerida aos 27 de Novembro do 1613 na cidade Felipéa de N. S. das Neves. (JOFFILY, 1893, p. 4).

Ambrósio Fernandes Brandão, autor do livro: Diálogos das Grandezas do Brasil (ABREU, 1956), fundou o engenho Gargaú em 27 de novembro de 1613, ex-vi a data da concessão pelo capitão-mór João Rabello de Lima.

Ainda que por analogia, em síntese é uma realidade o ensinamento suscitado pelo Provérbio Indígena quando enfatiza que textualmente que “Só depois da última árvore derrubada, do último peixe morto, o homem irá perceber que dinheiro não se come”, e isso já podemos comprovar fazendo uma analogia da área de “Gargaú”, antes da ocupação holandesa (JOFFILY, 1893) e nos tempos do geógrafo, escritor, militar, explorador e neerlandês Elias Herckman, que nasceu mais e/ou menos em 1596 e falecido no Recife em 8 de janeiro de 1644, e que foi governador da Capitania da Paraíba de 14 de outubro de 1636 a 2 de janeiro de 1639, em substituição a:

“Ippo Eyssens, segundo governador da Parahyba durante o domínio holandês. Foi nomeado e tomou posse no correr de 1636. Estando um dia assistindo ao fabrico de farinha no engenho Santo Antonio, foi inesperadamente cercado por forças do capitão português Francisco Rebello. E, com o fogo ateado à fazenda, teve de render-se, sendo então morto, a 14 de Outubro de 1636. Chronologicamente foi o 14º governador que teve a Parahyba” (BITTENCOURT, 1914, Vol. 2, p. 148). (Transcrevemos com a ortografia da época).

E até porque a olho nu não vamos mais encontrar lá (em Gargaú) o possível peixe boi que habitava e/ou comia lá e muito menos os indígenas seus primitivos donos, conforme o relatório geral sobre a Capitania da Paraíba (Generale Beschrjvinge van de Capitania Paraíba) de 1639, onde sua primeira parte enfatiza a capital da capitania, a segunda parte é dedicada aos engenhos do Vale do Paraíba (daí aquela citação de alguns historiadores de que Santa Rita foi antes chamada de Vale do Paraíba, porque praticamente todos os engenhos até então construídos e em funcionamento estavam localizados em suas terras, a exemplo do Engenho Del Rey ou Engenho Tibiri (o primeiro a ser construído em 1587) e pela fundação Engenho Cumbe em 1774, que também leva a “criação” generosa de certos pesquisadores em afirmar sem comprovação em documentos históricos da época de que nossa cidade tenha igualmente se chamada de “Vila do Cumbe”, enquanto povoamento, antes da denominação Santa Rita, proveniente da fundação da Capela de Santa Rita de Cássia, em 1776, local do encontro de comboios de sertanejos que vinha a capital da Província da Paraíba, vender e comprar mercadorias, inclusive compra e venda de escravos, aqui era o lugar de pernoitar na vinda e na ida para Capital e para o interior da província, e finalmente a terceira parte do relatório menciona a vida e os costumes dos Tapuias, como eram chamados dos índios da localidade.

A Paraíba de 1859 fez um esforço danado para preparar os ambientes oficiais e principalmente o Palácio da Presidência, para receber a visita de D. Pedro II, esposa e comitiva. Tanto é assim que:

Havendo-me V. Exa. Determinado que fizesse decorar o Palácio da Presidência, onde devem residir SS.MM.II. enquanto aqui estiverem, vi logo que não existe no Palácio cousa alguma que pudesse ser aproveitado convenientemente para o serviço de SS.MM., no estado em que se achava. A mobília toda da casa e o serviço de mesa eram tão ordinários ou deficientes que forçosamente deviam ser substituídos ou aumentados. Além disso, as salas e quartos ou não tinham papel nas paredes e esteiras no chão, ou as tinham completamente estragados. Nestes termos, resolvi o caso de modo conveniente a receber Sua Magestade não com luxo, mas ao menos com a necessária decência, o que não pude conseguir apesar da mais restrita economia que empreguei para haver a mobília e objetos de decoração, sem que as respectivas contas se elevassem a 6:797$920. (ALMEIDA,1982, 58).

A recepção ao casal imperial D. Pedro II e D. Theresa Christina, consta do relatório oficial do então Presidente da Provincia da Paraíba nos seguintes termos:

"O lugar que me coube, como presidente da província, na festa imensa, com que aqui forão recebidos SS. MM. II., pura significação do patriotismo dos Parahybanos, e do profundo amor e veneração que tributamos ao Augusto Chefe da Nação e á Familia Imperial, proporcionou-me os meios de presenciar de perto, e por consequência de poder relatar minuciosamente á V. Exc.todos os successos festivos d'aquelles seis dias notaveis, em que vi trocadas as fadigas e dissabores da administração por momentos de indisivel prazer, cuja grata recordação conservarei sempre ; mas o fervoroso acolhimento, que aqui tiverão SS. MM. II., as provas de amor e veneração ás Suas Augustas Pessoas, que á cada passo, e como á porfia, procuravão manifestar, pelo modo mais desinteressado, todas as classes de cidadãos sem distincção alguma, a angelica bondade, com que taes demonstrações forão sempre recebidas pelo Regio Par, entregue por toda a parte, com ilimitada confiança, as ruidosas manifestações de prazer de seus subditos, podem ser objecto de sentimento, como forão, mas nunca o serão de narração fiel, como V. Exc. sabe ; por isso abstendo-me de entrar em promenores á esse respeito, occuparei a attenção de V. Exc. Com a singela e succinta exposição dos factos relativos á visita Imperial, por me parecer que devem ficar consignados em documentos da natureza deste, tanto mais quanto tem V. Exc. de dar noticia desses factos officialmente ao Governo Imperial em virtude de determinação contida em aviso expedido pela Secretaria d'Estado dos Negocios do Imperio, que eu tratava de cumprir" (CUNHA, 1860, 01/02).

Dom Pedro II fez a viagem oficial à Pilar e de lá à Mamanguape, em 26 e 27 de dezembro de 1859. Ao regressar para a capital da Paraíba, hospedou-se no Engenho Gargaú com sua comitiva, inclusive assistiu missa na capela de Santa Ana, quem tem em seu frontispício o brasão de Duarte Gomes da Silveira. A visita do casal imperial à Paraíba foi realizada no período de 24 a 30 de dezembro de 1859. Portanto, teve a duração de sete dias, o maior tempo que um chefe de Estado e de Governo Imperial já passou na Paraíba.

A imperatriz Thereza Christina não viajou com D. Pedro II a Pilar e a Mamanguape, ficou na capital da Paraiba, sendo recepcionada pela Irmandade da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, inclusive foi empossada na cargo de Priora Perpétua e Protetora da referida entidade religiosa, uma vez que já fazia 12 (doze) anos de sua escolha ou nomeação para ocupar o referido cargo honorário. Portanto, D. Thereza Christina não esteve no Engenho Gargaú com seu esposo, é mera ilação afirmar o contrario de que ela esteve em solo santaritense quando de sua única visita que fez a Paraíba em 1859.

E isso é fato, conforme passamos a transcreve a ata de posse de Sua Alteza Imperial Thereza Christina no cargo de Priora Perpétua e Protetora da Ordem Terceira do Carmo da Provincia da Paraíba:

Aos vinte e sete dias do mez de Dezembro do anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos e cincoenta e nove, nesta cidade da Parahyba do Norte, na capella da veneravel Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, teve a mesma ordem a distincta honra de receber a visita da Muito Alta e Muito Poderosa Senhora Dona Thereza Christina Maria, Nossa Excelsa Imperatriz, Augusta Consorte do Muito Alto e Muito Poderoso Senhor Dom Pedro de Alcantara Bourbon, Segundo Imperador deste vasto e aurifero Imperio do Brazil, em visita as provincias do Norte, achando-se reunidos os Irmãos Terceiros abaixo assignados. E sendo a mesma Augusta Senhora Priora perpetua e Protectora desta Veneravel Ordem, como nos constou por Aviso da Secretaria de Estado dos Negocios do Imperio, de vinte e seis de Setembro de mil oitocentos quarenta sete, cargo este com que se Dignou de Honrar a mesma Veneravel Ordem, delle se dá por seu consentimento por empossada. E não só para que isto conste a todo o tempo, como para memorar tão honrosa visita, permittio a mesma Augusta Senhora que se lavrasse o presente termo, em que dignou de assignar com a sua comitiva o Excellentissimo Senhor Veador Conselheiro Luiz Pedreira do Couto Ferraz, Guarda Roupa Conselheiro Antonio Manuel de Mello, Secretario Geral interino do Ministerio do Imperio Dionisio da Cunha Ribeiro Feijó, Capellão de S.S.M.M.I.I. o Conego Antonio José de Mello, Vice-Almirante Joaquim Marques Lisboa, Chefe de Divisão Francisco Manuel Barroso da Silva, Capitão de Mar e Guerra Francisco Pereira Pinto, Capitão de Fragata José Secundino de Gomensoso, Capitão Tenente Francisco Eduviges Bricio, Primeiro Tenente Antonio Marcelino da Ponte Ribeiro, Primeiro Tenente Manuel carneiro da Rocha, e Primeiro Cirurgião Doutor Propercio Pedroso de Albuquerque. Eu, Antonio Ferreira Serrano, Segundo difinidor no impedimento do Secretario da Ordem, o escrevi. D. Thereza, Josefina da Fonseca Costa, dama de S.M. a Imperatriz - Luiz Pedreira do Couto Ferraz, Veador da mesma Senhora. - Antonio Manuel de Mello -, Guarda Roupa de S.M.M. o Imperador - Dionisio da Cunha Ribeiro Feijó, Secretario Geral interino do Ministerio do Imperio - O Conego Antonio José de Mello, Capellão de S.S.M.M.I.I. - O Vice-Almirante Joaquim Marques Lisboa - O chefe da Divisão Francisco Manoel Barroso da Silva - Francisco Eduviges Bricio, Capitão Tenente - Antonio Marcelino da Ponte Ribeiro, 1.o Tenente Secretario do Almirante - O 1.o Tenente Manuel Carneiro da Rocha, ajudante de Ordens. - Primeiro Cirurgião d'Armada Dr. Propicio Pedrosa Barreto de Albuquerque - O Prior da Ordem Bento José Ferreira Ponteiro - Fr. Herculano do Coração de Jesus brito, Prior Commissario - O 2.o difinidor Antonio Ferreira Serrano - Procurador, Francisco José Figueiredo - Procurador Marinho da Silva Medeiros - Christiano dos Fojos Correia Cezar, Mestre dos Noviços - Padre Antonio de Mello Muniz Maia - Francisco das Chagas Galvão, Ex-secretario - Amaro José Velloso - Antonio José de Araujo" (PINTO, 1977, 280-281).

E assim, D. Pedro II, esposa e comitiva chega a Paraíba as 3 (três) horas da tarde do dia 24 de dezembro de 1859, no dia seguinte, dia de natal de 1860 S.M. visita a fortaleza de Cabelo, visita a povoação de igual nome, em seguida visita a casa de lazareto na ilha da Restinga, volta a capital as onze horas a bordo do Vapor Apa. Depois do almoço visitou as igrejas, conventos e o hospital Santa Casa de Misericórdia e recolheu-se as quatro horas tarde ao Paço.

No dia 26 de dezembro de 1859:

[...]

Tendo resolvido S.M. o Imperador visitar a Villa do Pilar e a cidade de Mamanguape, pox-se em marcha para aquella villa as 4 horas da madrugada de 26 do predito mez, acompanhado pela sua comitiva, por S. Exc. o Sr. Ministro do Imperio, por mim, e por grande numero de cidadãos, que desejando ter a honra de acompanhar a S.M. na sua digressão ao centro da província, havião obtido para isso a necessária permissão.

Sua S. M. o Imperador, tendo-se dignado de tomar uma refeição no engenho S.João do coronel José Teixeira de Vasconcellos d’aqui distante 3 legoas e de almoçar no engenho Maraú do mosteiro de S. Bento a 9 legoas de distancia desta Capital, chegou a Villa do Pilar a 12 legoas da capital as 11 horas da manhã.

Depois do jantar S.M. o Imperador sahio do Paço, e visitou a matriz, a cadea e o cemitério, recolhendo-se ao Paço, onde deu beijamão á todos quantos quiserão receber semelhante honra.(CUNHA, 1860, 2-3).

[...]

No dia 27 de dezembro de 1859 a viagem oficial de S. M. Pedro II, tem continuidade, levando-se em consideração que:

[...]

As 4 horas da manhã de 27 sahio S.M.I. do Pilar com direcção á Mamanguape, e tendo ido repousar e almoçar no engenho Páo-d’Arco do Dr. João Antônio Fernandes de Carvalho d’ali distante 6 legoas, chegou a cidade de Mamanguape d’ahi a 7 legoas ao meio dia.

Depois de jantar recebeu S.M.I. á tarde as homenagens da camara municipal, que teve a honra de apresentar-lhe a chave da cidade, e depois sahio, e foi visitar a matriz, e outras igrejas da cidade, a casa da camara municipal, a cadêa, as escholas de primeiras lettras e a aula de latim. (CUNHA, 1860, 3).

[...]

No dia 28 de dezembro de 1859 termina a visita a Mamanguape, uma vez que:

[...]

No dia 28 as 4 horas da madrugada sahio S.M. o Imperador da cidade de Mamanguape, e tendo vindo repousar e almoçar no engenho Gargaú do coronel Joaquim Gomes da Silveira a 9 legoas d’aquella cidade e 3 desta, aqui chegou as 11e meia hora do dia.

Durante a ausência de S.M.o Imperador S.M. a Imperatriz sahio do Paço para visitar as igrejas da capital. (CUNHA, 1860, 3).

[...]

E assim, D. Pedro II termina sua visita a Paraíba em 30 de dezembro de 1859, tendo recepcionado em 28 de dezembro do referido ano no Engenho Gargaú, de propriedade do coronel Joaquim Gomes da Silveira, em solo santaritense. Posteriormente, já no Rio de Janeiro concede o titulo de barão de Maraú a José Teixeira de Vasconcelos, proprietário do Engenho São João e que o recepcionou com uma refeição quando o monarca passava para ir visitar a Vila do Pilar em 26/12/1869; e de barão de Mamanguape a Flávio Clementino da Silva Freire. Concedeu ainda seis comendas da Ordem da Rosa, vinte e dois títulos de oficial e trinta e seis títulos de cavaleiro. Distribuiu também quatro comendas da Ordem de Cristo, segundo Almeida (1982, p.115-117).

Pedro II era um homem estudioso, autodidata e organizado, a começar pelo que se fala a sobre:

O Diário pessoal de suas viagens tinha certa semelhança com aqueles famosos cadernos do jovem D. Pedro V, seu sobrinho, que imperou em Portugal em curto reinado. As notas tomadas pelo imperador durante sua viagem à Paraíba foram manuscritas em cima da perna, alinhavadamente. Não poucas ele redigiu montado a cavalo ou caminhando a pé, em qualquer pausa de propósito atraída. Os apontamentos não primavam pela caligrafia ; as letras se juntavam na formação das palavras nem sempre legíveis. Muitos foram recopiados pelo próprio autor, ganhando clareza. Mas o pente fino deixou de passar pelas madeixas daqueles que foram escritos na Paraíba, que se apresentam em rabiscos e frases soltas. Denunciam pressa. (ALMEIDA, 1982, p. 88-89).

O passado de nossa história, reluz no presente a caminho do futuro, apesar de atualmente o patrimônio histórico e arquitetônico do engenho, capela e casa grande do Gargaú que hospedou em 28 de dezembro de 1859 S.M.I. Pedro II, o Presidente da Província da Paraíba: Ambrósio Leitão da Cunha e comitiva, se acha totalmente abandonado e vilipendiado pelas circunstancias ambientais e/ou locais e bem assim pelos poderes públicos (dos três níveis de administração pública) e por seus proprietários rurais ao longo de décadas para não dizer de séculos, tendo em vista que a referida relíquia histórica por si só fala e clama as novas gerações a restauração para sua perpetuação.

Por outro lado é importante mencionar de que a:

Capela de Santana (Engenho Gargaú) - Santa Rita, Paraíba, Brasil - Arquitetura religiosa. Ambrósio Fernandes Brandão, autor dos Diálogos das Grandezas do Brasil, fundou o Engenho Gargaú com as terras da sesmaria que obteve em 1613. O engenho era movido a água, possuía um pequeno porto, e funcionou até cerca de 192¬0. Há registos de sua capela desde o período holandês, mas a atual construção, por suas características formais, é do último quartel do século XVIII. Por causa do brasão na fachada, Barbosa equivocadamente a vinculou a Duarte Gomes da Silveira (morto em 1644). Mas, como demonstra Ramos, a propriedade só pertenceu a esta família em meados do século XIX. A composição do frontispício guarda relações com a Capela da Graça (apesar das origens diversas) e com a Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens (destruída), ambas em João Pessoa. A sua cantaria é a melhor das capelas de engenho paraibanas, merecendo destaque o arco‐cruzeiro, o púlpito e, no exterior, a modenatura e os guarda‐corpos. As galerias laterais de dois andares, previstas na construção, nunca chegaram a ser construídas. Abandonada em meio ao canavial, a capela teve suas peças de marcenaria e talha roubadas em 2¬003.(H.P.I.P.; CARVALHO, s.d. p.31-51).

Ressaltamos, porém de que por causa do brasão de Duarte Gomes da Silveira na fachada da Capela de Santana, no Engenho Gargaú, palco da hospedagem e almoço oferecido ao Imperador Pedro II, em 28 de dezembro de 1859, o historiador Barbosa (1994, p. 161) “equivocadamente a vinculou a Duarte Gomes da Silveira (morto em 1644)”. Essa observação é pertinente porque o engenho Gargaú passou a pertencer ao coronel Joaquim Gomes da Silveira, a partir de 1845 e/ou seja em meados do século XIX, segundo Ramos (2005, p.5-11). E que em 1892 o referido engenho saiu das mãos dos Gomes da Silveira e até porque:

[...] Mais recentemente, na segunda metade do século XX, esse engenho foi transformado em propriedade de grandes usineiros do estado, da família Ribeiro Coutinho [...]. (ROCHA, 2009, p. 196).

O ontem fala para o hoje, que poderá falar e/ou não para o amanhã. Conheça o Engenho Gargaú, em Santa Rita e sua historicidade do Brasil Colônia, do Império aos nossos dias, antes que tudo se acabe, desapareça...

Referências

ABREU, Capristano de.Diálogos das grandezas do Brasil.Salvador: Progresso, 1956.

Disponível in.: <www.culturatura.com.br/obras/Diálogos%20das%20grandezas%20do%20Brasil.pdf>. Acesso em.: 13 Mai.2013.

AGUIAR, Francisco de Paula Melo Aguiar. Santa Rita, Sua História, Sua Gente. 2ª ed. São Paulo:Clube de Autores Publicações S/A, 2016, 638p. Disponível in.: <http://www.agbook.com.br/book/228439--Santa_Rita_Sua_Historia_Sua_Gente>. Acesso em.: 03 Abr. 2018.

ALMEIDA, Maurílio Augusto de. Presença de D. Pedro II na Paraíba. 2. ed. Petrópolis, Vozes, 1982.

BARBOSA, F. (Côn.), Monumentos históricos e artísticos da Paraíba, João Pessoa, 1994¬, p. 161.

BITTENCOURT, Liberato. Homens do Braisl. Parahyba - Parahybanos Ilustres. Rio de Janeiro: Livraria e Papelaria Gomes Ferreira Editora, 1914, vol. II. 330p.

CARVALHO, J. L. Capelas rurais da várzea do Paraíba – a construção de séries como metodologia para a história da arquitetura”, Perg@minho (online), n.o 0, pp. 31&#8208;5¬1. Disponível in.: < http://www.hpip.org/def/pt/Homepage/Obra?a=1186 >. Acesso em: 05 Ago.2013.

CUNHA, Ambrosio Leitão da. Relatorio apresentado a Assembléa Legislativa da Parahyba do Norte pelo presidente da provincia, o Dr. Ambrozio Leitão da Cunha, em 2 de agosto de 1859. Parahyba, Typ. de José Rodrigues da Costa, 1859. Disponível in.: < http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/586/index.html >. Acesso em: 03 Mar.2013.

___________________. Relatorio apresentado ao Excellentissimo Sr. Dr. Luiz Antonio da Silva Nunes,presidente da Provincia da Parahyba do Norte pelo Excellentissimo Sr. Dr. Ambrosio Leitão da Cunha no acto de passar a administração da provincia em 13 de abril de 1860. Parahyba, Typographia Parahybana, 1860. Disponível in.: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u498/index.html> . Acesso em.: 22 Mai.2013.

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PINTO, Irineu Ferreira. Datas e notas para a História da Paraíba - Vol. 2. 2. ed.. João Pessoa, Ed.Universitária/ UFPB, 1977 [1908].

RAMOS, Adauto. Engenho Gargaú — roteiro para sua história, João Pessoa, 2005¬, pp. 5¬&#8208;11.

ROCHA, Solange Pereira da. Gente Negra na Paraíba oitocentista: população, família e parentesco espiritual. São Paulo: Editora UNESP, 2009, 332p.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 24/10/2013
Reeditado em 19/08/2018
Código do texto: T4539821
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