MINHA FILHA NO ENEM 2013

Em 2010, encarava o desafio de me submeter ao ENEM. Não sofria a aflição de tantos brasileiros que se preparam e aguardam com ânsia o momento de testar seus conhecimentos para alcançar a tão sonhada universidade, pois não havia cobrança, a ninguém eu teria que dar satisfação. Era um compromisso meu comigo mesma.

Há 16 anos eu havia concluído o Ensino Médio (Técnico em Contabilidade) e quase cheguei a desistir do curso superior, quando decidi enfrentar aquela bateria de provas para, no mínimo, ganhar a experiência e, quem sabe, tomar gosto pela coisa e estudar para tentar novamente no ano seguinte.

Foram dois dias de muito esforço mental. Eram provas difíceis, que exigiam além do tal “conhecimento de mundo”, controle emocional. Para minha felicidade a nota alcançada me garantiu o ingresso no curso de Letras da UFC. Esse foi um dos maiores momentos da minha vida. Resolvi que, mesmo com o trabalho diário, uma casa para administrar sozinha e duas filhas para educar, eu faria minha faculdade.

Estou cursando o 5º semestre. E há dias em que me pergunto se tudo isso vale a pena, se meu esforço tem sentido. São questionamentos que me vêm quando o cansaço é maior, mas eles deixam de existir quando penso nas minhas meninas que precisam de mim e que necessitam de um exemplo para seguir (aposto no exemplo como uma ferramenta eficaz na educação).

Mas felicidade maior do que o meu ingresso na UFC, experimento nesta edição do ENEM, com data marcada para o próximo final de semana, em que meninos e meninas, em todo o País, vivem a ansiedade dos últimos instantes para o grande dia: dessa vez é a minha primogênita que vai fazer a tentativa. Há dois dias sente febre. “Mãe, acho que é ansiedade”. Ela acha, eu tenho certeza. E entendo perfeitamente. Vejo nesse seu gesto, de pessoa em formação, num mundo tão distante do ideal, o retorno do que eu tenho pretendido pra nossa vida.

Desejo a ela, a minha Gaby, êxito em seus projetos, e que essa seja só uma de tantas provas a que se submeterá em sua progressão profissional. Em pouco tempo teremos na família uma musicista.

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 24/10/2013
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