A desumanidade como fim da tolerância

Às vezes penso que a tolerância possui uma espécie de "dupla personalidade". São várias as definições, vários os pontos de vista. A maioria a caracteriza como algo positivo, e que "apesar das diferenças - todos têm direitos iguais e individuais".

É muito válido evidenciar a outra "personalidade" da palavra tolerância. Será que a tolerância não seria uma forma de "socialismo utópico": tudo é perfeito, tudo é igual para todos? Será que de fato toleramos certas atitudes? Peguemos como exemplo a guerra, seja na forma brasileira (urbana!), seja na forma "tradicional". Parece que atualmente simplesmente fingimos não saber que ela existe, ignorando a verdade - embora cruel - que nos cerca. De certa forma, um meio para solucionar a guerra seria a intolerância quanto a isso. Intolerância à carência de saídas diplomáticas; intolerância à falta de bom senso dos governantes, e principalmente, intolerância à morte.

Além da guerra como objeto de intolerância, cito uma experiência própria: diversas vezes já me vi andando pela rua, e situações de miséria e fome se mostraram freqüentes ao meu lado. Podemos mesmo agir com indiferença e tolerar situações como esta? Creio que não, embora elas cada vez mais se encaminhem a fim de se tornarem uma rotina irrevogável. Não nos encaminhamos, portanto, para um processo de tolerância aos problemas da sociedade. O vocábulo nesta situação não seria "tolerância", e sim "desumanidade" (O engraçado é que dá até para fazer uma piadinha paradoxal quanto a isso: "A humanidade se encaminha para a desumanidade").

A solução para os problemas do mundo surge de pequenas atitudes, e não cabe apenas ao respeito às diferenças e direitos este mérito; tampouco cabe somente à intolerância a atos e situações grosseiras do cotidiano. A mudança do mundo se estende em horizontes bem mais amplos, mas uma coisa é certa: sendo justo e racional, você já contribui muito para isto.

Não vou estender muito o texto, e muito menos apontar aqui uma solução real para mudar o mundo (se é mesmo que ela existe). Vou apenas procurar fazer a minha parte, assim como você deveria fazer, exista ou não tolerância.