A HISTÓRA REFLETE A ARTE OU A ARTE REFLETE A HISTÓRIA? DILEMA OU REALIDADE?

RESUMO

O presente texto pretende ser uma interpretação da influência da história na Arte, na construção da imagem brasileira.

Partindo na linha temporal: pré-história, Brasil descobrimento e fase modernista/ Dissertando sobre o olhar do artista acerca do seu meio.

Finalizando que o Brasil, a sociedade mostra “sua cara” nas produções artísticas.

Espera-se que o trabalho possa contribuir no aprendizado e no conhecimento da Arte Brasileira.

“É incontestável que a arte deve conter valor social; como poderoso meio de comunicação que é, deve ser dirigida e em termos compreensíveis à percepção da humanidade”. (Rockweel Kent)

Palavras chave: Arte, história, produção, sociedade brasileira, mudança, desenvolvimento.

INTRODUÇÃO

É preciso primeiramente compreender que a relação da História e da Arte concebem uma leitura da sociedade.

Foi Georges Duby que pronunciou que “a arte é a expressão da sociedade em seu conjunto: crenças e ideais que faz de si e do mundo, diz tanto, às vezes até mais”.

O presente artigo busca dissertar sobre Arte-História: na construção da imagem brasileira.

DESENVOLVIMENTO

Não é de hoje que discussões acerca da relação da realidade histórica e arte acontecem mesmo porque uma se reflete na outra, ambas caminham juntas.

Para retratar essa relação recorremos a trechos da História da Arte Brasileira, descritos no decorrer do texto proposto.

As primeiras impressões da arte no Brasil datam desde os primórdios, constatados nos vários sítios arqueológicos no território nacional. O homem tem uma necessidade instintiva de comunicação, nesse sentido o homem pré-histórico não conhecendo a escrita, utilizou da arte Rupestre, ou seja, deixou sua marca nas paredes das cavernas. Revelando seu cotidiano e a sua forma de compreender o mundo;

“... não podemos negar que a arte rupestre é uma importante fonte de informações que nos relata sobre o tempo e os costumes de alguns grupos humanos”. (Rainer Souza, Equipe Brasil Escola)

Segundo pesquisadores a arte rupestre no Brasil é dividida em dois grupos: obras com motivos naturalistas e obras com motivos geométricos. Expressões desses dois grupos podem ser encontradas em São Raimundo Nonato- Piauí e Bahia.

Dando sequência na nossa linha histórica, necessita-se dar uma apreciação especial a arte indígena, habitantes do Brasil na época do “descobrimento”.

É a partir das manifestações artísticas desse povo que conseguimos retratar a diversidade de tribos existentes no país. Toda essa arte mesmo que sufocada pela esmagadora colonização, resistiu, e hoje podemos apreciar e tomar parte dessa riqueza incontestável que é a Arte Indígena.

“A diversidade étnica baseia-se no autorreconhecimento e na autoidentificação. É Ìndio aquele que se reconhece como tal, e é reconhecido por uma comunidade indígena como seu membro. Assim evita-se o arbítrio de um terceiro definindo a indianidade de qualquer pessoa...” (COHN)

É inegável o colorido na arte indígena. Toda a beleza se reflete tanto na utilidade quanto no significado. Destacamos também que toda arte indígena é carregada de significado;

“... a arte indígena é mais representativa das tradições de comunidade em que está inserida do que da personalidade do indivíduo que a faz”.

Nesse sentido a variedade de manifestações é ampla; podemos citar: a pintura corporal, a arte plumária, a arte cerâmica, as máscaras, o trançado, a dança e a música. Podemos citar que cada povo indígena tem um jeito próprio de produzir e expressar sua arte, mesmo que a produção da mesma seja uma revelação da identidade, antes de ser arte. Pois cada povo coloca seu jeito de encarar e enfrentar o mundo a sua volta na arte que expressa.

“Não há separação entre a produção de um objeto de uso diário e a produção artística. Um cocar de penas de arara confeccionado por um homem kayapó é ao mesmo tempo um adorno, um objeto ritual, uma obra de arte e um símbolo de identidade étnica e política.” (ATHAYDE)

A questão social-tempo-história-arte, unidas de forma a caracterizar a imagem brasileira, retratados tanto na música, dança, pintura e outros. É possível nos atermos apenas à pintura quando buscamos o pano de fundo – o manifesto – a rebeldia – o protesto. O período mais característico do citado acima foi a “Semana da Arte Moderna”.

O grande desafio desse acontecimento era romper com o “velho”, o “estático” e promover a mudança, ou seja, através da arte chacoalhar as estruturas, rompendo e causando certa intolerância pela sociedade da época. Estes se intitulavam de “A nova arte brasileira”;

“a ruptura de um fazer artístico representante da realidade seria a maneira mais rápida de alcançar uma nova linguagem artística evoluída em seu aspecto formal, e dotada de autonomia”. (JEZZINI,S.P.)

Surge nesse sentido e nessa época a preocupação com a transformação da sociedade brasileira, ou seja, propunham mudanças tanto no coletivo quanto no individual. Era uma busca por novos caminhos de conceber arte, o surgimento de novas ideias e propor novas propostas de produção artística. Fato curioso que ocorreu na leitura do poema abaixo, o público fez muito barulho e atrapalhou a declamação em protesto ao que ouvia em pleno teatro municipal.

Observamos essa preocupação no trecho do poema de Manuel Bandeira, Os sapos;

“... clame a saparia.

Em críticos céticos

Não há mais poesia

Mas há artes poéticas...

Enfunados os sapos

Saem da penumbra,

Aos pulos, os sapos

A luz os deslumbra.”

É possível perceber nesse trecho a crítica velada à época, a arte estática, cuja não permitia a autonomia no produzir artístico;

“... época da construção do mundo do homem, tarefa a que se entregam por máxima contingência, os artistas.

... e abrem novos sentidos de espaço e tempo, os que acrescentam novas visões e modificam a Maneira de ver e sentir...” (Coitica, 1963, p. 55)

A arte brasileira tanto na sua totalidade quanto na fase modernista, configura um processo de renovação cultural do país, em alguns momentos gerando ar de insatisfação em outros um mal estar que gera duras críticas ao movimento “Semana da Arte Moderna”;

“Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem normalmente as coisas e em consequência disso fazem arte pura, guardando os eternos ritmos da vida, e concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres [...] a outra espécie é formada pelos que veem anormalmente a natureza, e interpretam-na a luz das teorias efêmeras..., surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva.” (Lobato)

Examinar e contextualizar a arte, reverberando a história, podemos inferir que ela torna-se um espelho da sociedade, claro de forma mais estilizada, colorida, destorcida e rebuscada. Lá se vão 90 anos, desde que a elite cafeicultora foi escandalizada por um grupo de artistas dispostos a modificar a forma de produzir arte. O evento propunha que o espectador tinha a liberdade de aplaudir ou vaiar o que estava sendo exposto, ou seja, toda a manifestação era bem vinda.

É nas obras de Tarsila do Amaral que podemos encontrar os adjetivos citados acima, nas três primeiras frases. Artista plástica, influenciada pela “Semana da Arte Moderna”, que tem seu aprendizado cubista em Paris, que parece tornar a realidade mais próxima e familiar ao povo brasileiro.

“Citamos o “Abaporu” – que remete traços do cubismo, com cores tropicais e a temática de fundo do interior rural brasileiro”; segundo Deniz;

“a história da arte não é apenas um campo intrigante, mas um importante conjunto de informações acerca das representações e ideologias de cada época.” (Pontes, 2011)

Então, torna-se evidente que a arte e (suas obras) – revelam o olhar do artista acerca do seu meio e da sua vivência, atribuindo sentido a sua realidade. No seu segundo trabalho, a obra “Operários”, Tarsila do Amaral retrata um Brasil industrial, um Brasil do trabalho, e pessoas das mais variadas etnias que circulam no árduo mundo das fábricas ao fundo. A artista procurou retratar cada um daqueles rostos de maneira a destacar que carregam consigo sua cultura, maneira própria de fazer, interpretar e simbolizar o mundo. Nessa obra não importa a raça de cada um, mas o que os torna iguais, ou seja, a força do trabalho e a capacidade de produzir.

Ainda na pintura podemos citar Lasar Segall, um dos primeiros a proporcionar aos brasileiros o contato com a nova arte. Na obra “Menino com Lagartixas”, retrata um menino de pele escura e ao fundo plantações de bananeiras, cujas folhas carregam um verde intenso.

Desta maneira podemos saber mais sobre o Brasil-; observemos no trecho abaixo do Manifesto Pau-Brasil de Oswald de Andrade;

“Apenas brasileiros de nossa época [...]

Leitores de jornais. [...]

A floresta e a escola [...]

Toda a história bandeirante e a história comercial do Brasil [...] A formação étnica rica. Riqueza vegetal. [...] Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes das favelas [...]” (ANDRADE, 1924)

Deve-se reconhecer na arte, uma importante fonte, reveladora dos aspectos formais e históricos da sociedade, pois permite que tanto historiadores, filósofos e outros artistas realizem análise de obras artísticas possibilitando, nas mesmas, reconhecer uma sociedade consumista, urbana, rural, étnica e pluralista. A Semana contribuiu também para denunciar a alienação da sociedade considerada culta sobre a condição do Brasil e suas desigualdades;

“O homem vê a arte como meio de viver melhor, usa-a para divulgar suas crenças ou explorar novas formas de olhar e interpretar o mundo utilizando sua criatividade e imaginação” (Colunista Portal)

Segundo Ligia Canongia, o Tropicalismo questionava a estética moderna, mas também o surgimento de um pós-capitalismo, consumo de massas, tecnologia eletrônica e ao mercado vigente.

Das várias visões que arte nos revela sobre a “imagem brasileira”: podemos destacar a geração de 80 – ou seja – foi nesse período que a arte brasileira libertou-se do papel de crítica social e política que ela exerceu diante a ditadura militar. A Arte estava vivendo um período de compromisso com as vivências particulares de cada artista e de cada apreciador de arte;

“Os anos 80 pontuaram um momento mundial em que se reascendeu o debate sobre os valores da modernidade...” (CANONGIA, 2010)

Nesse movimento artístico podemos citar as obras: Busca; Quando voltarão para casa as serpentes voadoras; Tem fogo? ; Esperando Clientes de João Werner;

“Em pintura, sente-se de forma mais evidente que João Werner une a utopia dos anos 70 à liberdade dos anos 80. Do pós-modernismo guarda a disponibilidade de rever vários estilos da história da Arte.” (Adali Araújo)

As obras de João Werner além de retratar a vida como ela é, seja noturna ou não, causa certo desconforto a quem lhe investe um primeiro olhar, hora pela naturalidade, hora pela realidade escancarada que de certa forma a sociedade procura ignorar;

"Depois de engolir seco sem degustação apropriada as obras de arte de João Werner, Kátia franzia a testa tentando entender o sentido daquela exposição tão única e tão livre, aquilo afinal eram obras dos anos 80, não deveriam ser mais formais?; pensava ela."(Nathália Gonçalves)

A Arte contemporânea tomou um rumo, que retratou um Brasil de movimento, conduzindo um tempo real e misterioso. As obras oscilavam entre fotografia, gravuras, esculturas e pinturas. Nesse período ocorreram experimentações de novas técnicas e novos materiais fundindo-se aos já utilizados anteriormente. Os temas também sofreram uma grande variação e diversificação, sendo eles: tempo, universo misterioso, flores, frutas, histórias familiares, homem, cores do Brasil, tradições negras entre outros.

Ao observarmos a obra “Ope Awo II” (palma misteriosa) de mestre Didi, confirmamos este emaranhado de novos materiais na arte contemporânea brasileira;

“Trabalhando com diversos tipos de materiais – búzios, contas, tecidos, fibras vegetais- o artista criou uma escultura com formas e cores que lembram objetos usados em rituais. Percebemos nela os traços de uma cultura que recorre com sabedoria à natureza para exprimir-se religiosa e artisticamente.” (GULLAR)

A dissertação discorrida no presente artigo procurou caracterizar que História e Arte – ambos se refletem uma na outra. Confirmando que a imagem brasileira pode ser lida, observada e apreciada nas várias manifestações de Arte na caminhada da sociedade brasileira:

“Todas as artes são como espelhos nos quais o homem conhece-se e reconhece algo de si que ignora”. (Alain)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conhecer a própria História torna o homem capaz de interpretar sua Arte. Analisar e perceber a importância da comunicação e as manifestações artísticas para o desenvolvimento tanto do homem, quanto da sociedade que está inserido. Sente-se toda uma pluralidade de influências, dinamismo contido, expressividade e cotidianos que revelam as faces da sociedade brasileira. Seguindo o processo de narração contínua, a arte narra a trajetória humana, revestindo-a de um simbolismo especial. É preciso que a população seja sensibilizada, que aprenda a experimentar toda a forma de arte e suas perspectivas, despertando um sentimento de valorização e preservação da nossa identidade cultural e artística.

“A arte é um instante de perfeição e eternidade”

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

www.brasilescola.com/históriadaarte

OITICICA, Hélio. A transição da cor do quadro para o espaço e o sentido de construtividade. 1963. In Aspiroco grande labirinto: Rio de Janeiro. Rocco, 1986, pp. 50-63.

LOBATO, Monteiro. Paranóia ou mistificação. O Estado de São Paulo, 1917.

Anna Maria de Lira Pontes. A obra de arte como fonte de história.

ANDRADE, Oswald. Manifesto Pau Brasil, Correio da manhã. São Paulo, 1924.

www.portaleducação.com.br/psicologia/artigos.

ARAÚJO, Adalice. Esculturas e Pinturas de João Werner. Curitiba, Gazeta do Povo, 1987.

GULLAR, Ferreira. Etapas da arte contemporânea. São Paulo: Nobel, 1985.

ATHAYDE, Simone. Weaving Power: Indigenous Knowledge Systen and Territorial Control Accross There Kaiabi Groups in the Brazilian Amazon, 2010. Universidade da Flórida.

PROENÇA, Graça. Descobrindo a História da Arte. São Paulo: Àtica, 2005.

COHN, Clarice. Relações de Diferença no Brasil Central: Os Mebengorkré e seus outros. São Paulo: USP, 2006.