Bondade, ou irresponsabilidade



Saída da escola. A tarde havia sido estafante e desgastante. A sala estava quente
e uma moleza dormente tomava conta da criançada...E de mim também. Várias atividades foram desenvolvidas durante o dia, para levar os alunos a voltarem à atenção para as aulas.

Mas em fim chegou o final do período. A alegria tomou conta de todos. Na rua encontrei mães, crianças subindo a rua em direção às suas casas. As crianças contavam suas proezas às suas mães, outras faziam brincadeiras entre si, efervescendo animadamente a rua principal do bairro.
Encontrei o rapaz que vende o pão caseiro com sua “buzininha” de mão avisando que estava no pedaço e com aqueles pães e tortas fresquinhas, de dar água na boca.

Conversei um pouco com a mãe de um aluno que passou mal, teve um mal estar repentina, uma dor não sei bem se é no coração ou embaixo do braço, pois ele apertava embaixo do braço. Quis saber se o garoto tinha algum problema diferenciado, grave que eu devesse saber para em caso de emergência poder ajudar. Ela disse que ele tem às vezes essa dor, mas que já o levaram ao médico e não encontraram nada. Ela disse que o levaria ao médico hoje mesmo para saber o que havia acontecido. Despedimo-nos e eu continuei a subida.

De repente, vem cruzando a rua um carro vermelho que não sei a marca, até porque não guardo mesmo marca de carro. Mas, no capô, em cima, deitado, estava um garoto. A mãe, se era, estava passeando com a criança deitada do lado de fora do carro? Não acreditei, Pisquei uma vez, outra vez. Não acreditei mesmo.

Por que um adulto, que tem o domínio da razão, imagina-se,  faz ou tem uma atitude como essa? Por que um adulto, com domínio do certo e do errado, do legal e do ilegal, tem um comportamento como esse? Por que essa dificuldade de dizer um não, de ser firme, convicto.

Mesmo andando a dez por hora, a cinco por hora, poderia acontecer um terrível acidente.Ela mesma poderia atropelar a criança se por desgraça ela escorregasse de lá. Ia fatalmente para baixo do carro.

O padeiro parou e ficou olhando a cena...Os fregueses do padeiro balançaram a cabeça em desaprovação.

Felizmente Deus e os mentores espirituais sempre colocam a mão protetora
na cabeça das crianças evitando que pior aconteça, pois o limite esteve por um fio para ser rompido.

Os adultos estão dando a cada vez e cada momento exemplos de irresponsabilidade, pois o que eu presenciei não foi uma cena de bondade de um adulto para com a criança: foi de pura irresponsabilidade. Mesmo que a criança pedisse, implorasse para fazer tal passeio, era muito, muito mais prudente e legal que ela chorasse até secar as lágrimas do que correr esse risco de acidente.

A bondade não é permitir que a criança faça o que quer, na hora que quer, do jeito que quer. Bondade é saber dizer à criança o que ela pode fazer sem correr risco desnecessário. Em fim. Pelo que vi eu como brasileira e cidadã, julgo, incontinenti, a adulta do veículo, culpada. Ela teria que ter mais juízo que a criança e não teve.
É a mesma situação o pai que deixa o menino de dez anos pilotar uma moto. Não há o que justifique essa atitude.