RÉQUIEM

Ao cabo de muitas décadas, já respirando ares moribundos, vem à mente do velho e alquebrado homem, a frase poética de um indizível poeta de sua terra: “se era para desfazer, porque que fez”? E prevendo o velho homem a proximidade de seu fim, apelando para sua profunda crença, indaga: afinal o que fiz? e se fiz, porque fiz? E onde foi parar tudo que fiz ou não fiz? E parece-lhe então que do infinito uma voz responde; Nada fizeste. Só eu faço, só eu fiz, só eu desfaço. Ora! Continua indagando o velho, qual chama bruxuleante: mas se nada sou, se de mim nada resta ao fim como agora claramente sinto, por que me criaste à tua imagem e semelhança, se nem mesmo de mim eu sei, nem de onde vim, nem para onde vou, se nada represento senão minha própria insignificância? E de novo a voz fria e cortante: não me questiones! Nem sei por que ainda estou te ouvindo, reles mortal. Mas posso garantir que não te criei à minha imagem, tu é que o dizes, mas posso também garantir que não passas de reles criatura, que nem mesmo sabes quem te criou e ficas a imaginar e fazer conjecturas. Agora mesmo pensas que falas comigo - o teu criador, não é? Ledo engano! Na verdade és tu mesmo quem perguntas e tu mesmo quem respondes, através de tua limitada consciência, incapaz de permitir e entender, que respondes a ti mesmo, sobre tudo que não tens resposta. Descanse em paz!

ARAKEN BRASILEIRO
Enviado por ARAKEN BRASILEIRO em 12/01/2014
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