Academias “paraguaias”

A academia da vida me ensinou a ter alegria com a alegria do meu próximo e dele não me contaminar com a tristeza. Aprendi que os livros são mestres, que soprada suas poeiras se abrem a nos fornecer conhecimentos. E o livro Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, escritor inglês falecido em 1898, é que me fornece o conhecimento do que é começar algo: “O Coelho Branco colocou os óculos e perguntou: - Com licença de Vossa Majestade, devo começar por onde? – Comece pelo começo (disse o Rei, com ar muito grave) e vá até o fim. Então, pare”. Isto é literatura!

Temos um bom exemplo na Academia Brasileira de Letras, que todos dizem ter sido fundada por Machado de Assis, mas foi no fim do século XIX ainda no Império que Afonso Celso Júnior, e posteriormente na República o jovem Medeiros e Albuquerque, manifestaram votos por uma academia nacional aos moldes da Academia Francesa. Na seqüência, Lúcio de Mendonça teve então a iniciativa de uma Academia de Letras, sob a égide do Estado, que se escusaria a tal aventura de letrados. Foi fundada então, independentemente, a Academia Brasileira de Letras, cujos fundadores aclamaram primeiro presidente Machado Assis, também fundador, mas não o fundador!

A história da ABL mostra que as primeiras reuniões foram na sede da Revista Brasileira, e a sessão de instalação da Academia Brasileira de Letras aconteceu no Pedagogium, que era um centro de excelência e multiplicação escolar. Não insistiram seus acadêmicos em que o Estado, que lhe havia dito um não deixando a idéia, desde aquele tempo, que um governo não deve ser “pai” de associações fechadas. A obrigação de um governo é com as entidades de cunho público, abertas e de cunho social coletivo. As administrações públicas podem e devem contribuir no desenvolvimento de ações públicas e comunitárias de uma associação ou academia, mas não se obrigarem a construir os templos. Por sinal a Constituição se arrepia quando isto acontece!

Diz o dicionário Aurélio que um templo além de ser um edifício público destinado a um culto, é também sala onde se realizam as sessões da maçonaria, e por extensão lugar misterioso e respeitável. Querem coisa mais misteriosa e respeitável que as sessões das academias de letras? Usando fardões copiados de uma França burguesa do século dezenove? Temos academias fundadas por alguns que de si ainda testam as suas vocações literárias. Nelas temos poucos expoentes literários, mas uma maioria de rimadores de poesias batidinhas e autores de livros que não expõe o verdadeiro sentido literário. É bom lembrar que qualquer papel apinhado, escrito com qualquer coisa e envolto por uma capa grossa, é um livro!

Certas academias deviam ser fundadas no Paraguai e depois trazidas de contrabando, a exemplo dos perfumes franceses falsificados. Teria mais sentido! A Academia Brasileira de Letras diz que para alguém candidatar-se é preciso ter publicado, em qualquer gênero da literatura, obras de reconhecido mérito ou, fora desses gêneros, livros de valor literário. Se estas academias municipais e barranqueiras imitam a ABL até nos fardões, que a imitem também na qualidade dos trabalhos apresentados.

Entristece-me quando vejo academicos preocupadas com espaços físicos, com discursos de presidentes acadêmicos que sombreiam as noites reclamando a falta de um templo de reuniões. Perdem o tempo deles e daqueles que foram a sessão no ânimo de encontrar literatura. Não dizem do belo que poderiam dizer ou apresentam um relatório do que uma academia faz, pelo conjunto cultural de uma cidade. Será que estes acadêmicos já ouviram o poeta das esquinas, o literato do botequim, o menino que conta o conto da favela, o aluno escritor, lêem os jornais além das notícias frias?

Antes pensam certos acadêmicos que tijolos empilhados, em forma de prédio, é símbolo da eternidade. Não lembram que um pequeno terremoto pode derrubar o templo. Pensam em cadeiras de madeira com respaldar entalhado, que um dia o cupim transforma em pó! Não perceberam que a alma e o espírito que mantém vivo os “imortais” não necessita de concretos de cimento, mas concretos espirituais e culturais, o prédio físico é conseqüência. Basta se tomar o exemplo de Cristo e dos profetas, que se imortalizaram nas Sagradas Escrituras justamente por permanecerem fora das paredes dos templos!

Mas é bom que nos alegremos com alegria dos que em uma academia pensam, pensam que só eles sabem escrever. Um dia quem sabe eu aprendo!

*************************

(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda de Guanambi, BA, e que não é Acadêmico do Salgueiro porque não aprendeu dançar conforme a música!