Um milhão de abortos por ano!

Adverte o bispo; seja ministro da saúde e não ministro da morte.

Engraçado como estes sacerdotes acham que entendem os problemas humanos. Como alguém que nunca se casou, ou teve filhos, pode querer aconselhar as pessoas sobre assuntos tão importantes como esse?

Em primeiro lugar, o ministro nunca se declarou favorável ao aborto como prática irresponsável para evitar uma gravidez indesejada após as noites de prazer sexual desbragadas, que é o que parecem sugerir os padres que condenam o aborto como um grande pecado acumulado. Uma mulher pode engravidar, principalmente se é uma adolescente, sem nunca ter gozado. Não há prazer algum, mas é a armadilha da natureza que a emprenha após um coito rápido. Depois, o machão trepador se escafede e a pobre tem um rebento nos braços para cuidar. E cuida muito mal.

A nossa sociedade está saturada de tais famílias desfeitas e que não se chegaram a formar, com crianças criadas por mães solteiras, e por avós desinformadas em tudo. E a Igreja é contra tudo. Não aceita a camisinha, não aceita a pílula. A favor da vida, dizem eles. Mas que vida é essa? Parecem se comprazer com essas alminhas eternamente sofredoras que vêm à terra para justificar a sua existência. Pois ela parece viver do sofrimento alheio. E a mensagem é dúbia: quanto mais sofrimento melhor?

Depois, o ministro está, sim, pensando na saúde. Os profissionais de saúde devem pensar no binômio mãe-filho, e não apenas na criatura que está sendo gerada. E, para as gestantes, tais gravidezes indesejadas representam um grande risco de adoecer e até de morrer. Pois, proibido ou não, o aborto é praticado em larga escala de forma clandestina, dentro das piores condições de higiene por pessoas sem qualificação. E para muitas dessas gestantes que interrompem a gravidez com um aborto clandestino, o procedimento redunda em infecção e internações que deixam seqüelas em termos de futuras doenças ginecológicas, e, para muitas, em morte.

Então o ministro está pensando em saúde quando coloca em discussão a questão do aborto. E o bispo, lamentavelmente está apenas se utilizando de uma meia verdade com o objetivo de fazer a cabeça de pessoas desinformadas.

Pois, segundo os registros recentes, ocorrem cerca de um milhão de abortos clandestinos no Brasil, todos os anos. E, todos os anos morrem aproximadamente setecentas mulheres de complicações (evitáveis), devidas aos abortos, o que já constitui a quarta causa de morte em gestantes.

O aborto é um problema de saúde pública e como tal deve ser enfrentado. A discussão sobre o tema não pode ser postergada, e será, possivelmente, tratado dentro de um amplo programa de apoio às gestantes incluindo temas como planejamento familiar, adoção de recém-natos e aborto propriamente dito.