OS BEM AVENTURADOS

Em nossa caminhada rumo à evolução nos deparamos com situações diante das quais agimos precipitadamente. Na ânsia de querer resolver o problema em questão, de querer ser feliz, de querer provar aos outros que estamos certos ou que somos os melhores, enveredamos por caminhos obscuros, onde a vaidade, o orgulho e o egoísmo nos obstam. Devido a isso magoamos, ofendemos ou traímos alguém.

Devíamos nos preocupar em desempenhar bem a tarefa que nos foi confiada por mais singela que possa parecer. Com essa mania de querer governar e manipular, acabamos por inibir as pessoas e deixamos a impressão de desconfiança na capacidade dos que convivem junto a nós, atraindo a antipatia de muitos. Por isso, devemos cuidar de nossas funções, cumprindo com esmero nossas atribuições.

Em nosso trabalho, na escola, dentro do lar e em outros afazeres queremos tomar conta da vida do outro e interferimos. E, assim, deixamos os demais insatisfeitos com nossa conduta, e dependendo do que falamos ou fazemos, o ressentimento perdura por longos anos, e somente o perdão é capaz de nos libertar. Perdoar é um ato de amor. Mas como perdoar aquelas ofensas pesadas?

Pedir perdão é demonstração de humildade e arrependimento, porém se não for sincero, não convencerá. Pedir perdão, sem ter-se arrependido de fato e continuar praticando os mesmos atos, demonstra que continuamos a gostar de errar. Por isso, para haver arrependimento, não é necessário nem pedir desculpas. Basta o reconhecimento sincero da falta e a mudança de hábitos. Esse é o pedido de perdão ao qual devemos nos propor. E acima de tudo é entendermos que o ofensor é o doente da alma, desestruturado emocionalmente, desarmonizado intimamente.

O verdadeiro arrependimento ocorre quando nos damos conta de que causamos transtornos a alguém e essa sensação nos perturba. Quando essa sensação nos causa prazer [mórbido], ela nos causa males diversificados, tanto em nosso estado emocional como em nossa condição física.

Perdoar não significa ficar bajulando aquele que nos feriu. Implica em estarmos dispostos a auxiliar aquele que nos ofendeu, não revidando as agressões e calúnias. Pôr em operação a ação de perdoar é envidar esforços para a consolidação de nosso aprendizado educacional, e somos convocados para essa ação, diariamente, através de circunstâncias diversas. É assim que vamos nos transportando para outras dimensões, alcançando níveis mais elevados de espiritualidade, e o patrulhamento de nós mesmos é primordial para esta conquista.

Depois que atingirmos certa evolução, nossos problemas, nossas dores, preocupações e interesses não serão nossas únicas prioridades. Colocaremos nosso próximo como alvo de assistência. Isso não é uma tarefa fácil, pois o individualismo nos domina, mas desvencilhar de nossas imperfeições é tarefa árdua. A briga é interna. Se anular são obras de pessoas com uma grande bagagem de evolução moral, mas que chegaram a tal ponto porque venceram a si mesmas. Por isso, nosso objetivo não é vencer nosso irmão ou um exército, mas o de vencer nossas vontades e desejos inferiores, nossos pensamentos e atitudes delituosas.

O livro de Gênesis, 4:7, adverte: "O seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo". E nesse combate cairemos, levantaremos, cairemos novamente e levantaremos de novo, até chegarmos ao ponto de não cairmos mais. É uma questão de querer, começar a fazer, continuar fazendo e não se esquecer de como é que se faz. Depois se torna automático.

E em todos os desenganos, voltando a falar de perdão, porque perdoar é a parte que nos cabe, o ato do perdão será necessário. Vamos perdoar aqueles que deixaram a desejar, e além de perdoar os outros, precisamos também do auto perdão; perdoar a nós mesmos, dando-nos a oportunidade de recomeçar, mas tomemos o cuidado para que o auto perdão não nos faça complacentes e indulgentes demais, porque nos tornaremos presas fáceis de erros constantes. E não vamos nos esquecer de que quando oramos a Oração que o Senhor nos ensinou, chamamos sobre nós uma sentença: A de que se não perdoarmos aqueles que nos ofenderam, não seremos merecedores do perdão de Deus, não seremos Os Bem-Aventurados.

Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.

Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados.

Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque eles

serão fartos.

Bem-aventurados serão os misericordiosos, porque eles alcançarão

misericórdia.

Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus.

Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.

Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.

Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por minha causa. Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.

A nossa ventura ou desventura depende de nossos sentimentos, pensamentos, palavras e ações. Se aventurar por trilhas que levam sofrimento à nossos irmãos é deixar que a dor aguarde por nós. O efeito do que fizemos repercutirá em nossa consciência e refletirá no todo, mais cedo ou mais tarde e na hora exata.

Somos convidados à mudança de hábitos diariamente. Aceitarmos esse convite é optarmos por novas escolhas, mais sadias, que farão com que alcancemos a plenitude, deixando que a Chama Divina se acenda e se expanda em nós. Tenhamos cuidado para que os ventos e as tempestades não a apaguem, mantendo-nos firmes em nosso caminhar para que mesmo desventurados sejamos venturosos, tendo a certeza de que do outro lado não há trevas, apenas luz, e seus pequenos feixes incidem sobre nós, mas nós fixamos nossos olhares na escuridão e isso nos prende aos cipoais da ilusão.

Deus é o Criador, Jesus é um farol e nós somos lâmpadas que acendemos e apagamos intermitentemente, mas reluziremos ininterruptamente quando nos apagarmos para que nossos irmãos possam brilhar.

Que Deus possa nos perdoar, assim como nós perdoamos àqueles que por ventura ou desventura tiverem nos ofendido.