MENTIRAS E SILÊNCIO

A mentira proferida nas variadas circunstâncias da vida é uma das grandes causadoras da injustiça, da impunidade e da revolta. Mentir para as pessoas ou ensiná-las a mentir é uma das piores imperfeições que podemos cultivar em nós e nos outros. Um minuto de mentira estraga horas de felicidades.

Se alguém nos pede algo, e temos esse algo, mas falamos para aquele que nos pede que não temos, estamos mentindo.

Alguns pais, estando em casa e ao serem chamados por alguém indesejável, pedem para seus filhos dizerem que não estão. Isso é mentir e ensinar a mentir.

Advogados induzem o cliente a negar o que fizeram, não permitindo que a justiça se cumpra. Falsas provas são inventadas e a face oculta de crimes bárbaros é revelada tempos depois, em épocas às quais o entendimento não se faz, e feras desarvoradas são criadas e vão de encontro àqueles que as persuadiram, mais cedo ou mais tarde.

Com mentirinhas, aparentemente simples, vamos nos transformando em mentirosos contumazes. Crescemos apregoando inverdades, não aprendendo assumir nossos erros, perdendo a credibilidade, porque todas as mentiras são sempre descobertas.

Falar a verdade é sempre o melhor caminho. A verdade, por mais que doa e remexa com nosso mundo é melhor que a falsidade, mas temos que ter o cuidado de não transformar essa verdade em algo que vá ferir e desencorajar alguém. Tudo depende da forma como colocamos as coisas, por isso, pensar no que falar, como vamos falar e se aquele momento é oportuno para se falar vão nos ajudar dentro da situação, da melhor forma possível.

Revelar verdades para as pessoas, sem depreciar os envolvidos, dizendo o que realmente ocorreu; ensinar aos demais a não mentirem, a falar a verdade sem ofender, e a silenciar quando necessário são atitudes prudentes. E se percebermos que o que iremos falar, mesmo que seja verdade, causará mágoa a alguém, silenciemos. Só sabe o valor do silêncio aquele que se cala para não ferir ninguém.

Aquele que mente para conseguir o que quer não dispõe de argumentos suficientes para convencer e busca uma forma comprometedora para realizar suas vontades, quando na realidade nem mesmo ele crer em si, porque senão, não necessitaria de mentir para conseguir o que almeja, e se o que almejamos depende de mentiras para sua conquista, não será algo majestoso.

Temos todo o direito de concordar ou discordar de qualquer opinião e situação, mas isso não nos dá o direito de mentir para convencer ou de pensarmos que somos os donos da verdade, querendo que a palavra seja dada apenas a nós. Não nos esqueçamos daquela frase célebre de Voltaire, filósofo francês: “Eu discordo de tudo que você falou, mas defendo até a morte o direito de você argumentar.”

Que nossas palavras, gestos e ações possam ser canalizados de forma a transformar e a construir, sem atormentar os demais, distorcendo a verdade. E se acaso isso ocorrer, da próxima vez façamos de uma forma diferente. Podemos não dizer a verdade, desde que não mintamos.

Não temos que ter medo de falar a verdade. Temos que pensar, repensar e entender que nossa mentira ou a verdade pode destruir o mundo de alguém. E quando destruímos os caminhos que levariam ao bem, a obrigação de reconstruí-lo é nossa. E caso nos rebelemos quanto ao não querer fazer, as mentiras que contamos virão ao nosso encontro, ensinando-nos através dos meios dos quais utilizamos a usarmos nossas palavras à maneira dos sábios que foram intérpretes da Voz da Verdade que paira acima, nos céus.