Feminismo ou feminilidade... questões com e sem respostas

A luta pela igualdade entre os sexos se perpetua milenarmente. Em alguns momentos históricos, tais ações se revestiram de forma implícita, por meios de mudanças indiretas, onde, por meio de ações comportamentais práticas e cotidianas, sem quaisquer alardes, as mulheres tomavam aos poucos o seu espaço, mesmo em sociedades patriarcais mais rígidas. Entretanto, em outros momentos, as mulheres, com seu ímpeto revolucionário, alcançaram direitos por meio do enfrentamento direto às ordens e organismos sociais instituídos.

Hoje muito se fala em "luta de gênero". É até louvável isso, se compararmos, à luz de todas as obras, pesquisas e documentações históricas ou no campo antropológico e sociológico, a situação da mulher frente ao homem, com os progressos, estagnações e retrocessos no avanço dos direitos individuais da mulher. No entanto, se a busca pela igualdade de condições é salutar (e incentivável), por outro lado, o discurso de gênero reforça o feminismo, com uma característica tipícamente sectarizante. Se quiser acrescer sobre o discurso sexista do feminismo, não teria receio em afirmar que chega a ser uma retória do "machismo às avessas", afastando inclusive a mulher trabalhadora ou a dona de casa ou a profissional liberal da luta que ela deveria ter, na defesa dos seus direitos, uma vez que as suas "representantes" feministas as representam muito mal. Tiram a feminilidade da mulher e encaram as relações entre mulher e homem como um combate belicoso e mesmo, em um erro conceitual crasso, em um "conflito classista", estuprando a tese clássica marxista.

Sem negar o caráter impregnado de valores machistas do sistema capitalista, onde vê a mulher como um objeto, vale ressaltar que muitas mulheres, inconscientemente, reproduzem os valores do sistema, seja nas concepções ideológicas, nas formas de representação e no conceito estético - inclusive de beleza (e o que não dizer das revistas e filmes pornográficos, além da exacerbação da sexualidade feminina como forma de reprodução da imagem da mulher construída pelo homem e perpetuada pelas próprias mulheres, em função da beleza e do seu performance única e exclusivamente físico?).

O caráter progressista-cristão e de esquerda sempre privilegiou as mulheres em patamar de igualdade frente ao homem, mesmo com as diferenças biofísico-psicológicas. Seja no Velho Testamento, com a ação destacada de mulheres na sociedade judaica ou no Novo Testamento, com o papel privilegiado dado por Jesus às mulheres em seu ministério (em pleno início do século I !!!!!), a doutrina cristã genuína sempre preservou o direito da mulher similar ao do homem, mesmo esse sendo o provedor e ela a companheira auxiliadora do homem, sem haver o caráter subalterno e subserviente que certos exegetas, hermeneutas e pregadores ultraconservadores tentam colocar seus conceitos particulares em relação às mulheres.

As lutas dos movimentos sociais (em especial, a dos anarquistas e dos comunistas) no mundo e, particularmente, no Brasil, encontraram eco. Os trabalhistas, por meio de Vargas, trouxeram, dentre outras medidas, o direito político ativo e passivo (isto é, o direito de votar e ser votada para cargo eletivo), além da extensão dos direitos sociais, por meio da CLT e dos direitos previdenciários, ocupando o espaço de igualdade em relação ao homem.

Sabe-se que com a evolução da atual sociedade do conhecimento, faz-se necessário igualitarizar as oportunidades entre o homem e a mulher. Se não, vejamos. Sequer no Brasil temos 10% de parlamentares mulheres no Congresso Nacional, quando o percentual de pessoas pertencentes ao sexo feminino é de 52% da população brasileira. As mulheres, mesmo com escolaridade similar ao do homem, percebem remuneração inferior ao homem e tem as relações de trabalho mais precarizadas que o homem, ainda sob a influência dos postulados neoliberais. Fora o assédio sexual, a desconfiança dos empregadores no arrojo, na competência e na intelectualidade da mulher no exercício de sua produção, existe a visão das mulheres empregadoras que reproduzem os valores machistas contra seus pares, pertencentes ao sexo feminino.

Avanços nas oportunidades profissionais, equiparação salarial, valorização da idoneidade física e moral contra qualquer tipo de agressão, aumento dos espaços na política pelo sexo feminino. São desafios hercúleos que requer maior vontade política e a rediscussão sincera sobre o tema, sem revanchismos ou posturas alienizantes. É preciso a tomada de novos rumos, sem que a mulher perca, de longe, seu traço ímpar de feminilidade. Mas que ela ocupe seus espaços integralmente, em uma luta construída lado-a-lado com os homens que anseiam pela igualdade de condições. Uma meta, ainda no início do século XXI, longe do ideal, entretanto, possível em acontecer. Creio nisso, como um idealista convicto e incorrigível. Ainda que, para isso, seja necessário travar lutas, contudo sem o revanchismo e o ódio passsional e gratuito que sempre torna presente o discurso feminista, da década de 1970 até o momento hodierno.