Ainda somos os mesmos?

Não resta dúvida de que vivemos hoje um período em que a tecnologia e a informação alcançam seu apogeu. Os ideais racionalistas do passado enfrentaram as concepções estáticas que suprimiam a criação e o desenvolvimento humano, disseminando na história um antropocentrismo que dava lugar ao sujeito criador, inventor, dominante. Não obstante, os iluministas, na sede de autonomia e progresso, implantaram a política autônoma, a partir da qual se abominava toda e qualquer concepção tradicional e submissa, embora imbuídos de interesses burgueses. Assim ocorreu na ciência, na arte, no pensamento. O objetivo era avançar, expandir, criar. Esse sobressalto humano marcou os séculos, despertou ideais, lançou perspectivas sobre as quais viveríamos futuramente. E hoje, quem somos nós? A pergunta exige parada, análise, busca de respostas, ou conceitos talvez. Certamente não somos os mesmos inventores de ontem, nem pensadores que tem por objetivo lutar contra monarquias e ideais aristocráticos, nem cientistas revolucionários. Enfim, é possível que não sejamos os mesmos! Talvez a pergunta exija análises mais teóricas e fragmentadas, de modo que não se pode generalizar pessoas e concepções, afinal, cada um é cada um, oras! Esta aí... achamos a resposta. Cada um é cada um! Mas o que significa “cada um ser cada um”? Será porque alcançamos independência e autonomia suficientes e não se faz necessário debate ou questionamento acerca dos indivíduos de hoje? Ou, quem sabe, porque não nos importa questionar nada, afinal tudo segue como deve seguir. As informações vêm como devem vir, e nada pode mudar o proceder das coisas e dos fatos. Infelizmente, ao lado da tecnologia e das facilidades oferecidas por ela, vem a ausência de desenvolvimento humano, que já não cria valores imprescindíveis, que já não busca construir alicerces vitais e não apenas celulares de última geração e computadores inteligentes, com memória ultra-avançada. Onde estarão as “pessoas” inteligentes, que mais do que uma “memória”, deveriam possuir consciência? A era da informação não deixa de gerar, concomitantemente, “má informação”, onde todo mundo escuta, todo mundo vê, mas poucos processam, poucos pensam no que foi lançado sem pedir licença. Até quando se dará crédito aos mestres do banditismo, que fazem dos púlpitos e plenários seus tablados teatrais, quando na verdade, deveriam propor soluções para os absurdos desse país? Enquanto isso, nós, da era da informação, do século XXI, tornamo-nos platéias, espectadores emudecidos. Não há mais o absurdo e sim a conformidade. Alguém se dá mal? Sim, e como não? O “pobre coitado” que foi pego roubando a padaria do seu... ah, já passou. Esse se deu mal. Quem manda não ter gravata e colarinho branco?! Bem, é claro que mudamos muito, e mudamos sempre, já dizia o grego Heráclito: “tudo muda”. Mas, quem sabe nem tudo... como afirmava a célebre canção de Elis Regina: “Ainda somos os mesmos... e vivemos... como os nossos pais”. Será?