HERÓIS ANÔNIMOS

HERÓIS ANÔNIMOS

O cidadão de bem neste país e no mundo, em geral (principalmente das classes mais humildes), é uma espécie de herói anônimo, explorado de todos os lados: 1) pelo Estado, que não fornece os serviços essenciais de qualidade e estabelece impostos abusivos; 2) pelos bancos e grandes empresas, que vivem de cobranças indevidas, preços elevados, juros exorbitantes, além de pagarem salários pequenos e injustos aos seus subalternos; 3) pelos meliantes, que se aproveitam da ineficiência do Estado, disseminando atos violentos e todo tipo de delito, etc.

Em outras palavras, quem nasce desfavorecido, em países como o Brasil, tem a missão heróica de sobreviver com salário indigno ou baixo diante do alto custo de vida atual, sem serviços públicos de qualidade (saúde, educação, transporte etc), sendo explorado, direta ou indiretamente, pela corja dos detentores do poder econômico, social e político (banqueiros, grandes empresários, políticos corruptos, criminosos de alto escalão e de colarinho branco) e, ainda, sofrendo com os delitos (ocasionais ou não) dos meliantes de rua, em meio a todo nível de stress e de insegurança nas grandes cidades.

Por isso, o cidadão de bem neste país (e no mundo) é uma espécie de herói anônimo. Em termos de vida íntima, sua batalha diária é sua própria sobrevivência e a de sua família. Em termos sociais, sua luta é realizar seu trabalho com respeito ao ser humano.

Mas o referido cidadão de bem, apesar de seus esforços, não se vê como "herói", pois passou sua vida inteira numa lavagem cerebral tão intensa, pelos meios de comunicação, que passa a idolatrar ou admirar figuras que nada (ou pouco) acrescentam em termos de aperfeiçoamento humano, com raras exceções: as famosas "celebridades", a elite mesquinha e toda corja de poderosos. Essas figuras, respeitando-se as exceções, são elevadas pela mídia a uma categoria de "super-humanas", enchendo a cabeça das pessoas distraídas com uma série de notícias (repetitivas, fúteis, cansativas etc) numa cultura esdrúxula de supervalorização de aparências, tendo o propósito de manter a alienação social e a própria operacionalidade cíclica de injustiças nesse mundo que, visto racionalmente, nada mais é do que um grande hospício.

Neste mundo materialista (e essa não é uma particularidade apenas do capitalismo, porque o socialismo também ruiu), nada vale mais que "ter" e "parecer", ou seja, a valorização intrínseca ao "ser" é quase uma utopia ou, para muitos, uma ingenuidade. Todos os sistemas de mídia e de manipulação de massas fizeram uma lavagem cerebral tão poderosa na estrutura humana, como uma espécie de hipnose coletiva, que crescemos supervalorizando a matéria (dinheiro, consumo, poder de compra etc) e seus adereços: aparência, status social, fama e poder. É impressionante como a maioria dos conceitos e preconceitos que nos enfiaram, desde a mais tenra infância, giram em torno de "ter" e "parecer". E não é por acaso: essas concepções são literalmente enfiadas nas pessoas, a fim de as manterem presas na própria injustiça cíclica de um sistema desumano. A fim de "parecer" melhor, o indivíduo é induzido a "ter" sempre mais. E para ter sempre mais, também é necessário parecer, de uma forma ou de outra, pois daí advém a própria retroalimentação do ego dos poderosos, mantendo-se poucos na elite mesquinha, e muitos na miséria.

Diante desse panorama, amigos, o que nos resta é fazer nossa parte, despertar nossa consciência, tentar romper esse ciclo de lavagem cerebral em massa, e valorizar os "heróis anônimos" já mencionados, ou seja, aquelas pessoas cuja bondade e educação nos acrescentam em essência, ainda que este mundo só valorize matéria, fama, dinheiro, poder e aparências. Se não mudarmos nossa própria consciência, estaremos condenando nossa própria existência neste país e neste planeta.

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