PREFACIANDO

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR (*)

A historiografia mexe constantemente com a história que estuda e com o lugar onde se elabora.

CERTEAU, 1982, p. 126.

A nação brasileira em relação as outras nacionalidades, dentre as quais as europeias, ainda é nova em termos de fundação de seus povoados, vilas e cidades. Assim se faz necessário dizer que o termo cidade, vem do latim “civitas”, que não contava originariamente, o aspecto material, propriamente dito, pois, era designado apenas pelo vocábulo e ou termo “urbs”, surgindo dai o termo urbano, significando portanto, a cidade como maneira e ou forma de convivência mútua, algo parecido com o termo sociedade, onde os direitos e deveres de uns terminam, onde os direitos e deveres de outros começam, isso em termos individuais e coletivos, visando o objetivo maior denominado de bem comum, vem dai o nascimento do que chamamos de cultura urbana, o contrário de cultura rural e ou rústica, em termos mais ou menos pejorativos relacionados a gente que não sabe ler, escrever, entrar e sair nos ambientes civilizados. Assim sendo, o termo cidade deve comportar necessariamente grandes aglomerações humanas, de culturas, religosidades, ideologias, etnias, classes sociais, etc., tendo em vista que é uma invenção e ou criação relativiamente humana, remontando assim, a um passado não superior a uns sete mil anos. De modo que a cidade cria diversos, dentre os quais, os problemas de abastecimento de comida, de água, etc., e bem assim de transportes que seriam insolúveis diante das tecnologias usadas pelo homem primitivo até então. Diante de tais problemas tais dificuldades seriam necessariamente superados com o progresso proveniente do surgimento das invenções tecnológicas. De modo que tais tecnologias só seriam encontradas em sua viabilidade possível nas cidades, diante da existencia das condições indispensáveis em termos de densidade populacional. E o homem procurou fundar as primeiras cidades no mundo onde tivessem as condições possíveis que atendessem as suas reais necessidades humanas de sobrevivência, surgindo dai a solução dos problemas de abastecimento e de transporte, por exemplo. As cidades surgiram onde tinham condições minimas naturais para atender as necessidades minimas humanas, justamente as margens dos grandes rios: Tigre, Eufrates, Nilo, Sena, Tâmisa, dentre outros igualmente importantes. Isso sempre o homem procurando resolver seus problemas relacionados diretos e indiretamente ao caso de abastecimento e transporte. Os vales fluviais sempre ofereceram tais possibilidades em termos de cultura para alimentação das pequenas e grandes populações que se aglomeravam em torno de tais ambientes urbanos chamados de cidades. Os rios serviam ao abastecimento de água, ao transporte e de local de defesa natural contra invasores piratas e ou não. É inegável afirmar de que diante do surgimento das cidades a vida humana possou por transformações e modificações as mais diversas possíveis. Tanto é assim que nas pequenas cidades e ou comunidades primitivas as relações familiares e ou de parentescos sempre foi a base fundamental organizacional dos costumes e suas tradições. Já nas grandes cidades a base fundamental organizacional é o lugar, a terra e ou o território e tem as seguintes características: 1ª) a divisão laboral e ou do trabalho sobre a forma e ou maneira de atividades levando-se em conta cada especialidade tecnológica; 2ª) a elaboração formal de normas jurídicas e ou de direito positivo, visando regulamentar as relações envolvendo as pessoas, as classes e os grupos sociais, substituindo e ou deixando de lado as relações baseadas nas tradições e costumes familiares; 3ª) a formação e organização institucional especializada para gestar a administração pública e do governo; 4ª) surgimento e ou aparecimento da economia tendo como base o sistema de produção e comercialização de bens e serviços com o uso de dinheiro, em lugar da economia baseada em escambos e ou trocas de mercadorias e serviços; 5ª) criação de conhecimentos tecnológicos como caminho a ser usado para a pesquisa cientifica, a começar pelos meios de comunicação em geral. Ante o exposto, o maior problema que maculam as grandes e pequenas cidades na atualidade no Brasil e no mundo é justamente, o descompasso que envolvem os processos de urbanização e de industrialização, pois, em tais centros urbanos, tendo em vista o êxodo rural, crescem mais do que o crescimento das possibilidades de trabalho urbano do tipo industrial para atender tal demanda. É gente de todas as udades desempregada na zona urbana com força, problemas de falta de moradia, de abastecimento de água, de esgotamento sanitário, da precariedade dos serviços públicos de comunicação, de saúde, educação,transporte, segurança, lazer, amparo social, etc., que vem provocando o aparecimento da prostituição infanto juvenil, a marginalização e a favelização em todas as cidades do mundo, de modo que em Santa Rita, isso não é diferente, pois, se trata de uma cidade que tem como base economica a cultura agroindustrial da cana de açúçar, diante da omissão governamental e do próprio estado de miséria que envolve as familias residentes em tais locais. Não podemos negar de que as necessidades, grandes e ou pequenas, em qualquer parte do mundo, sempre desempenharam e continuam a desempenhar o papel decisivo no que se refere a evolução dos povos na face da terra, tendo em vista que é nelas que são elaboradas as normas, as leis, as doutrinas, os estatutos, os regimentos, as ideologias, as religiosidades, etc., bem como todos os sistemas que inspiraram e continuam a inspirar as grandes e ou as pequenas transformações sociais. Nos tempos modernos, as grandes e pequenas cidades continuam com seus problemas antigos e até mesmo com o surgimento de outros problemas não menos importantes, do tipo: ruído e poluição sonora e ou de ordem ecológica, que vivem ameaçando a vida emocional, psicológica e biológica dos seres vivos racionais e irracionais, inclusive com o uso das tecnologias modernas, o que nos leva a crer que tais cidades e ou aglomerações urbanas, são verdadeiros ambientes mortais.

A cidade e Município de Santa Rita, Estado da Paraíba foi criada e emancipada pelo Decreto Estadual nº 10, de 19 Março de 1890, quando o Dr. Venâncio Augusto de Magalhães Neiva, era governador, mas, não obstante os esforços da iniciativa privada, principalmente com o funcionamento do maior parque agroindustrial açucareiro do Estado e os esforços dos homens de boa vontade que sempre almejam excelentes princípios de progresso e paz so¬cial, nossa comunidade ficou estacionária por diversas décadas, num verdadeiro e prolongado ostracismo, quase por todos os governantes estaduais e federais.Graças o empenho do senhor Antônio Gomes Cordeiro de Mello, do Vigário Padre Manoel Gervásio Ferreira, dentre outras lideranças locais, que através de abaixo assinado com mais de quinhentas assinaturas do povo de Santa Rita que exigia ao então primeiro mandatário do Estado da Paraíba a emancipação de Santa Rita da então Capital da Paraíba, atual João Pessoa. Deve-se mencionar que após o advento da Revolução de outubro de 1930 que levou a Aliança Liberal ao Poder Central do Brasil na pessoa do líder Getúlio Vargas e principalmente sob a égide e controle administrativo e político do governo nacional discricionário, veio Santa Rita procurar a tomar novos rumos para sua economia, e que não somente os prefeitos e vereadores municipais e autoridades estaduais e federais foram os responsáveis pelo progresso social do município, mas, também, as empresas particulares, como fábricas de aguardante, açúcar, tecidos, redes, panelas de barro, sapatos, usinas e engenhos de cana-de-açúcar e fábrica de ágave, sendo assim Santa Rita o sexto maior colégio eleitoral da Paraíba, a quarta maior cidade do Estado e a terceira maior cidade do Estado em arrecadação de Imposto Sobre Circulação de Mercadorias - ICM, conforme as estatisticas oficiais.

Santa Rita, presentemente, se apresenta como sendo um dos principais municípios pólos da Paraíba, dada a sua importância natural, sócio-econômico, cultural e até mesmo político, o que justifica-se pela sua situação topográfica, quer pelo terreno fértil e produtivo, quer pela inteligência do seu povo. Financeira e economicamente, é claro, acha-se, é inegável, em boas e excelentes condições, apesar da crise mundial, provocando a infração galopante de que o povo brasileiro é a grande vítima de tais descasos nacionais, estaduais e regionais, tendo em vista as desigualdades sociais emanadas de tal situação que afeta direta e indiretamente ricos e pobres do Brasil como um todo. Deve-se lembrar que possui, ainda fábricas de doces, gelo, cerâmicas, fundições, movelárias, serra¬rias, pescarias na área de Livramento, Ribeira e Forte Velho e até pouco tempo tinha a pesca da baleia, de onde se extrai o famoso e medicinal óleo de baleia na Praia de Lucena, fato histórico de um passado recente entre nossa historicidade. É importante lembrar de que Lucena pertenceu ao Município de Santa Rita até 1963, quando o Governador Pedro Gondim emancipou-a como Cidade, mas, ainda hoje não tem Comarca Judiciária, pois, a Justiça que manda em Lucena é a de Santa Rita, tem ainda, oficinas mecânicas com um excelente pessoal, devidamente habilitado e competente para o serviço. Está bem servida por ônibus para João Pessoa, e para todos os recantos urbanos e rurais do Município. Tem instaladas e funcionando as Usinas: São João, Santana, Santa Rita, Japungu e o tradicional Engenho do Meio, que segundo os historiadores no passado pertencia ao eminente paraibano Amaro Gomes Coutinho, que fora um dos mártires da Revolução de 1817, inclusive seus restos mortais, segundo a tradição verbal do povo, foram sepultados na Capela do Engenho do Meio, antigo Engenho São Gabriel. É de Santa Rita que se explora a tradicional e conhecida água mineral Santa Rita, localizada na Mumbaba e que tem uma preferência toda especial no nordeste do Brasil. Até pouco tempo existia a quase secular Fábrica de Tecidos — CTP - Companhia de Tecidos Paraibana, fundada pelos Veloso Borges, em 1894 e que encontra-se depredada e suas atividades paralisadas, quase por um total pretexto político,se bem que o caso de sua falência se deve a falta da modernidade que lá ainda não foi implantada em termos de máquinas e mão de obra qualificada para atender as exigências dos novos tempos, advindos das novas tecnologias, onde o homem presumivelmente deve ser gradativamente substituído no todo ou pelo menos em parte no tocante a sua mão de obra pela máquina moderna e computadorizada, por outro lado, o fechamento da fábrica CTP – Companhia de Tecidos Paraibana serve de mote para os políticos locais se justificarem perante o eleitorado municipal, pois, somente nas épocas das eleições o caso da CTP é ventilado e enquanto existem comícios, ela "volta a funcionar todos os dias nas bocas dos políticos", é esse o entendimento popular, mas quando passa o pleito, é proibido se tocar ou relembrar o caso, é mesmo que copa do mundo.

Quanto ao ensino de 1° (primeiro) grau público municipal, o município está relativamente aparelhado por prédios públicos, tanto na se¬de, quanto na Zona Rural, faltando apenas um trabalho mais sério em favor da educação do povo santaritense, pois, a política educacional adotada pelas administrações passadas e presentes, está sem rumo e ou sem filosofia em termos metodológicos educacionais, ainda é a pedagogia do atraso, tornando-se incapaz de atender as crianças e aos adolescentes, principalmente. O ensino ministrado pela rede estadual não é suficiente para atender a demanda de alunos que ingressam na primeira série do primeiro grau a cada ano, apenas pouco mais de vinte por cento dos santaritenses estudam em escolas do poder público estadual, onde sua maior escola primária é o Grupo Escolar João Úrsulo, inaugurado em 1939, pelo Governador Argemiro de Figueiredo, segundo pela Escola Reunidade de Viração, no Bairro Popular. Tem também a Escola de Formação de Professores (Escola Normal) mantida pelo Estado, que funciona no antigo prédio do Grupo Escolar de Tibirí, como era conhecido no passado e ainda no presente. Existem inúmeras escolas particulares, podendo citar: Américo Falcão, Amaro Gomes, São Francisco de Assis, Santa Terezinha, São José e o COFRAG – Colégio Francisco Aguiar, fundado em 05 de janeiro de 1964, com sede à Rua Eurico Dutra, nº 64, no Bairro Popular, pelo menino professor (antigo Colégio Pre¬sidente Getúlio Vargas), que man-tém o ensino de Alfabetização, 1º e 2º Graus, científico e profissionalizantes- Habilitação: Técnico em Contabilidade, Técnico em Secretariado, e Peda¬gógico (FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO 1° (PRIMEIRO) GRAU, curso de datilografia dentre outros cursos de qualificação de mão de obra.

O processo de instalação do mini-distrito industrial de Santa Rita anda como passos de crianças deficientes no local denominado de “Planalto” e graças à iniciativa privada, pois, os recursos públicos são quase inexistentes e a representação política de Santa Rita é muito pobre para exigir que o Governador do Estado amplie o número de ajuda para favorecer a implantação do distrito industrial santaritense. A representação política na Assembleia Legislativa da Paraíba é omissa diante dos poucos votos que lhe são conferidos de quatro em quatro anos. Diante da falta de reconhecimento em termos de votos vem a omissão do esquecimento da cidade e de seu povo hordeiro. O certo é que Santa Rita ainda não tem uma grande fabrica em suas terras para oferecer empregos as novas gerações. Até mesmo a fábrica de perfume Avon, que era uma esperança de dias melhores para nossa gente trabalhadora, encerrou suas atividades, a única indústria que sobrevive a atual crise com a metade de seu quadro de operários é a COSIBRA, depois das empresas rurais de cana-de-açúcar. Aqui se fabrica o tijolo e a telha que é usada para construir casas quase em todas as cidades do Estado, onde tal seguimento econômico é representado dentre outras empresas pela Cincera.

Aqui está o prefácio do livro denominado de "SANTA RI¬TA, SUA HISTÓRIA, SUA GENTE", que pretendemos publi¬car, embora que gradativamente, daí porque, essa foi e é, a maior razão do passado e do presente,levando-se em conta de que o historiador tem a visão de mundo “[...] como a relação entre um lugar (um recrutamente, um meio, um ofício, etc.), procedimentos de análise (uma disciplina) e a construção de um texto (uma literatura). É admitir que ela faz parte da “realidade” de que trata, e essa realidade pode ser compreendida “como atividade humana”, “como prática”. Nessa perspectiva, “[...]a operação histórica se refere à combinação de um lugar social, de práticas “científicas” e de uma escrita.” (CERTEAU, 1982), para servir de exemplo e motivação para os santaritenses do amanhã, pois, até o presente nem a data de 19 de março, dia da criação e da emancipação do Município e cidade de Santa Rita,fato histórico ocorrido em 1890, nunca foi lembrado e ou comemorado como o dia da emancipação municipal e que tal acontecimento vai completar em 1990, o primeiro centenário de uma história que ainda falta ser contada em versos e em prosas pelos escritores e historiadores de nosso tempo.

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Prefácio do livro: Santa Rita, Sua História, Sua Gente (1985).

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 15/09/2015
Reeditado em 16/09/2015
Código do texto: T5383255
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