A ILHA TIRIRI

Francisco de Paula Melo Aguiar

[...] Mas só sabemos essas coisas sobre o futuro porque estudamos o passado: sem isso não teríamos nem mesmo o conhecimento dessas verdades fundamentais, não saberíamos as palavras para expressá-las, ou até quem, ou onde, ou o que nós somos. Só conhecemos o futuro através do passado nele projetado. Nesse sentido a História é tudo que temos.

Jonh Lewis Gaddis

É importante enfocar de que a Ilha Tiriri (planta rasteira que corta como mavalha) é localizada defronte a Capital da Paraíba, sob suas águas turvas aconteceram os naufrágios não encontrados e sem descrições do barco francês Chargeau D´Flote, em 1712 e bem assim a barca brasileira Antonietti, em 1873, em ambos os casos teve como motivo encalhamento em banco de areia. E por fim, sem motivo conhecido, naufragou em 1893, em águas da Ilha da Restinga, a barco de nacionalidade norueguesa Albert, conforme os Naufrágios da Paraíba relacionados em o Brasil Mergulho¹. Nada cai do céu por acaso, se sabe que em 1890, no mesmo ano em que Antônio Gomes Cordeiro de Mello e seus companheiros conseguiram a emancipação polícita de Santa Rita da então Capital da Paraíba do Norte, em 19 de março de 1890, esteve visitando as terras de Santa Rita, principalmente o nosso litoral paraibano, o português Antônio Varandas de Carvalho e o inglês Jordan Stuart, quando ambos resolveram parar suas andanças para descançar um pouco, foi justamente aí quando observaram que a lama que se acumulava nos varapaus de apoio para vadear o nosso maguezal, secava relativamente rápido, tornando-se consistente e de boa qualidade a referida argamassa. Dizem que foi a partir dessa observação que a Ilha Tiriri foi posteriormente escolhida como o local para construção e funcionamento da primeira indústria cimenteira da América do Sul em solo paraibano em 1892, conforme nos informa Adm. Conselho Nac. Geografia (1943) e bem assim os Confrades do IHGP (1946). Assim sendo, foi construída e funcionou durante três meses em 1892, o que envolve pionerísmo e fugacidade, sic, conforme cita a Revista do Serviço Público, v. 13 (1941): “[...] no Estado da Paraíba foi, em 1892, inaugurada na Ilha de Tiriri uma fábrica de cimento que suspendeu, porém, dentro de três meses o seu funcionamento”. Isso mesmo, localizada em Santa Rita, na Ilha Tiriri e/ou Tiririca, no século XIX. Vale salientar de que a falência da referida Fábrica de Cimento Tiriri, provocou a “Questão da Ilha de Tiriri”, embate juridico envolvendo o Governo do Estado da Paraíba e a Companhia de Cimento Portland, sediada no Rio de Janeiro, proprietária da referida fábrica na última década do século XIX, onde os donos da fábrica pediam indenização pelo acervo entregue ao Estado da Paraíba, tendo em vista o investimento arrojado para a época e a grande quantidade de toneladas de cimento ali fabricado. Existem duas versões a respeito do fechamento da Usina de Cimento da Ilha Tiriri: 1ª) A quebra do volante de uma máquina a vapor, segundo seus proprietários; 2ª) As dificuldades dos empreendedores da fábrica de cimento em lutar contra os preços dos produtos importados, segundo Simonsen (1967). Sejam quais forem os motivos da falência da Fábrica de Cimento Tiriri, é importante conhecermos os argumentos da historicidade do cimento Portland, segundo artigo de Battagin (2009)² ao afirmar: “[...]Assim, chegou a funcionar durante apenas três meses, em 1892, uma pequena instalação produtora na ilha de Tiriri, na Paraíba, cuja construção data de 1890, por iniciativa do engenheiro Louis Felipe Alves da Nóbrega, que estudara na França e chegara ao Brasil com novas ideias, tendo inclusive o projeto da fábrica pronto e publicado em livro de sua autoria. Atribui-se o fracasso do empreendimento não à qualidade do produto, mas à distância dos centros consumidores e à pequena escala de produção, que não conseguia competitividade com os cimentos importados da época [...]”. Aí fica configurada a idéia de interior, lugar de difícil acesso, rural e/ou rústico de tudo que fica longe dos grandes centros, herança histórica e literária da cultura do interior que Portugal durante mais de trezentos anos assim induziu nossa gente a acreditar. É mesmo o lugar onde o vento faz a volta, o que costumamos chamar de interior. Ainda na atualidade os grandes empreendimentos são direcionados aos grandes estados membros da federação brasileira em detrimento dos considerados pequenos e ou atrasados. É a cultura do interior e do atraso que não gera industrialização e muito menos desenvolvimento. O Brasil ainda continua em via de desenvolvimento sustentável diante das demais nações, tidas como grandes e de primeiro mundo.

Em sintese, as ruínas da fábrica de cimento estão ainda presentes na Ilha Tiriri, pertencem a particulares e podem ser visitadas mediante agendamento prévio, tendo como acesso, via barco a partir da Praia de Jacaré, em Cabedelo, e/ou através da BR 101, passando por Pirpiri/Bebelândia/Gargaú e o Distrito de Nossa Senhora do Livramento, em Santa Rita, litoral paraibano. Santa Rita é privilegiada pela natureza, possível tem o maior lençol freático da Paraíba em seu solo, temos água mineral jorrando com abundância em pleno século XXI a céu aberto, água doce de primeira qualidade, o que motivou a implantação de várias indústrias de exploração do ramo em seu território.

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¹ Cf. Naufrágios da Paraíba. Brasil Mergulho. In.: http://www.brasilmergulho.com/port/naufragios/navios/pb/index.shtml . Página visitada em 03/04/2014.

² Cf.: BATTAGIN, Arnaldo Forti. Uma breve história do cimento Portland. Texto disponível In.:

< http://www.abcp.org.br/conteudo/basico-sobre-cimento/historia/uma-breve-historia-do-cimento-portland >. Página visitada em, 03/04/2015.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 11/10/2015
Reeditado em 26/07/2016
Código do texto: T5411160
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