A HIDROGRAFIA DE SANTA RITA

Francisco de Paula Melo Aguiar

Do mesmo modo que o metal enferruja com a ociosidade e a água parada perde sua pureza, assim a inércia esgota a energia da mente.

Leonardo da Vinci

O Município de Santa Rita, tem vários rios, sendo seu território corta¬do de leste/oeste, pelo Rio Paraíba, que ao longo dos anos vem causando inundações e prejuízos incalculáveis aos mora¬dores, plantadores de cana de açúcar, da agricultura de subsistência e criadores de animais da Várzea do Paraíba e mais notadamente nos municípios de Santa Rita, Cruz do Espírito Santo, Pilar, entre outros, precisamente depois da construção da estrada transamazônica em 1970, que passa por Várzea Nova, pois, o aterro ali colocado transformou-se em uma verdadeira bar¬ragem, tendo em vista a grande quantidade de água corrente, na época do inverno vinda no leito do “criminoso” Rio Paraíba. Vale apenas ressaltar que existem ainda, os rios Jacuípe, Mumbaba e Tibirízinho, que são de pequeno porte, mas, servem para a ser¬ventia diária dos moradores de suas aproximidades e para o banho de animais e pessoas não muito afortunadas. No município não existem açudes considerados de grande porte, daí porque deixo de fazer alusão, apenas com uma ressalva, no que diz respeito ao açude de Tibirí, que tanto serve aos habitantes da cidade, e hoje se encontra na iminência de desaparecer, tendo em vista a falta de atenção dos poderes públicos, apesar de ficar dentro da própria sede do município, que in¬clusive poderia ser utilizado para fazer turismo, além de ter servido a Vila Operária Tibirí e mais ainda, à Fábrica Tibirí, tendo em vista que era ele que fornecia água a aludida indús¬tria desde sua fundação em 1894, através de encanação própria do lí¬quido precioso.

Ressaltamos, portanto, que o municipio de Santa Rita encontra-se inserido nos domínios das bacias hidrográficas dos rios Paraíba, na região da várzea, Miriri e Gramame. É evidente que todos os cursos d’água têm regime de escoamento perene e o padrão de drenagem é o dendrítico¹ em todas as estações do ano. De modo que os principais corpos de acumulação d'água são os açudes e lagoas. E além do mais o nosso município tem saída para o Oceano Atlântico, através do estuário do Rio Paraíba, de modo que nessa região situam-se diversas ilhas, dentre elas se destacam duas pertencentes ao município: Ilha Stuart e Ilha Tiriri. No tocante aos corpos d´água do município, temos os seguintes rios: Cabocó, Camaço, Engenho Novo, Estiva, Gargaú, Gramame, Jaburu, Mamuaba, Mangereba, Miriri², Paraíba, Paroeira, Pau-Brasil, Preto, Soé, Tapira, Tibiri, Tibirizinho e Una. Vale apenas também destacas os principais riachos municipais: Água Branca, Bambu, Bibira, do Boi, do Cesto, Dois Rios, da Estiva, Jaracauna, Jacuípe, Japungu, Laminha, Mangabeira, Miriri, Obim, Palmeira, Pau-Brasil, das Pedras e Pilão. Destacamos ainda os principais açudes: gargaú, miriri, Santo Amaro, dos Reis e Tibiri. E bem assim as principais lagoas são: barriga cheia, do paturi, seca de baixo, seca de cima, tibiri e zumbi. No estuário do rio Paraíba, existe várias ilhas, que além de servir de limite entre Santa Rita e João Pessoa, às de maior importância e beleza turística são: Restinga, Struart, Tiriri e Felix de Belli, todas estão localizadas no complexo sistema de canais do estuário do Rio Paraíba que desagua na maré do Oceano Atlântico, segundo nos informa Oliveira (1959), inclusive mencionamos de que as ilhas: Restinga, Struat e Tiriri, são as três maiores ilhas do litoral paraibano. É importante enfocar de que a Ilha Tiriri (palavra de origem tupi-guarani que significa ser uma planta rasteira que corta como mavalha) é localizada defronte a Capital da Paraíba, sob suas águas turvas aconteceram os naufrágios não encontrados e sem descrições do barco francês Chargeau D´Flote, em 1712 e bem assim a barca brasileira Antonietti, em 1873, em ambos os casos teve como motivo encalhamento em banco de areia. E por fim, sem motivo conhecido, naufragou em 1893, em águas da Ilha da Restinga, a barco de nacionalidade norueguesa Albert, conforme os “Naufrágios da Paraíba” relacionados em o Brasil Mergulho. Nada cai do céu por acaso, se sabe que em 1890, no mesmo ano em que Antônio Gomes Cordeiro de Mello e seus companheiros conseguiram a emancipação polícita de Santa Rita da então Capital da Paraíba do Norte, em 19 de março de 1890, esteve visitando as terras de Santa Rita, principalmente o nosso litoral paraibano, o português Antônio Varandas de Carvalho e o inglês Jordan Stuart, quando ambos resolveram parar suas andanças para descançar um pouco, foi justamente aí quando observaram que a lama que se acumulava nos varapaus de apoio para vadear o nosso maguezal, secava relativamente rápido, tornando-se consistente e de boa qualidade a referida argamassa. Dizem que foi a partir dessa observação que a Ilha Tiriri foi posteriormente escolhida como o local para construção e funcionamento da primeira indústria cimenteira da América do Sul em solo paraibano em 1892, conforme nos informa Adm. Conselho Nac. Geografia (1943) e bem assim os Cofrades do IHGP (1946). Assim sendo, foi construída e funcionou durante três meses em 1892, o que envolve pionerísmo e fugacidade, sic, conforme cita a Revista do Serviço Público, v. 13 (1941): “[...] no Estado da Paraíba foi, em 1892, inaugurada na Ilha de Tiriri uma fábrica de cimento que suspendeu, porém, dentro de três meses o seu funcionamento”. Isso mesmo, localizada em Santa Rita, na Ilha Tiriri e/ou Tiririca, no século XIX. Vale salientar de que a falência da referida Fábrica de Cimento Tiriri, provocou a “Questão da Ilha de Tiriri”, embate juridico envolvendo o Governo do Estado da Paraíba e a Companhia de Cimento Portland, sediada no Rio de Janeiro, proprietária da referida fábrica na última década do século XIX, onde os donos da fábrica pediam indenização pelo acervo entregue ao Estado da Paraíba, tendo em vista o investimento arrojado para a época e a grande quantidade de toneladas de cimento ali fabricado. Existem duas versões a respeito do fechamento da Usina de Cimento da Ilha Tiriri: 1ª) A quebra do volante de uma máquina a vapor, segundo seus proprietários; 2ª) As dificuldades dos empreendedores da fábrica de cimento em lutar contra os preços dos produtos importados, segundo Simonsen (1967). Sejam quais forem os motivos da falência da Fábrica de Cimento Tiriri, é importante conhecermos os argumentos da historicidade do cimento Portland, segundo artigo de Battagin (2009) ao afirmar: “[...]Assim, chegou a funcionar durante apenas três meses, em 1892, uma pequena instalação produtora na ilha de Tiriri, na Paraíba, cuja construção data de 1890, por iniciativa do engenheiro Louis Felipe Alves da Nóbrega, que estudara na França e chegara ao Brasil com novas ideias, tendo inclusive o projeto da fábrica pronto e publicado em livro de sua autoria. Atribui-se o fracasso do empreendimento não à qualidade do produto, mas à distância dos centros consumidores e à pequena escala de produção, que não conseguia competitividade com os cimentos importados da época [...]”. Aí fica configurada a idéia de interior, lugar de difícil acesso, rural e/ou rústico de tudo que fica longe dos grandes centros, herança histórica e literária da cultura do interior que Portugal durante mais de trezentos anos assim induziu nossa gente a ser e a acreditar. É mesmo o lugar onde o vento faz a volta, o que costumamos chamar de interior. Ainda na atualidade os grandes empreendimentos são direcionados aos grandes estados membros da federação brasileira em detrimento dos considerados pequenos e ou atrasados. É a cultura do interior e do atraso que não gera industrialização e muito menos desenvolvimento. O Brasil ainda continua em via de desenvolvimento sustentável diante das demais nações, tidas como grandes e de primeiro mundo.

Em sintese, as ruínas da fábrica de cimento estão ainda presentes na Ilha Tiriri, pertencem a particulares e podem ser visitadas mediante agendamento prévio, tendo como acesso, via barco a partir da Praia de Jacaré, em Cabedelo, e/ou através da BR 101, passando por Pirpiri/Bebelândia/Gargaú e o Distrito de Nossa Senhora do Livramento, em Santa Rita, litoral paraibano. Santa Rita é privilegiada pela natureza, possível tem o maior lençol freático da Paraíba em seu solo, temos água mineral jorando com abundância em pleno século XXI a céu aberto, água doce de primeira qualidade, o que motivou a implantação de várias indústrias de exploração do ramo em seu território.

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¹ É um regime hidrográfico fluvial caracterizado por uma grande quantidade de afluentes e subafluentes. Comum em planícies localizadas em regiões de clima tropical, com chuvas abundantes. O termo vem do grego, dendron (galho), já que visto em um mapa os cursos d'água formam um traçado que lembra os galhos da copa de uma árvore.

² O rio Miriri, nasce na divisão dos municípios de Sapé-Mari e sua foz serve de divisa entre os municípios de Lucena e Rio Tinto no Estado da Paraíba e parte dele se encontra dentro do território santaritense. Sua extensão é de aproximadamente 58,7 km, e apresenta uma área de manguezal em torno de 285 hectares. Suas águas têm como principais usos o abastecimento humano e animal, além de irrigação e pesca. O termo Miriri, tem origem no tupi guarani e significa: rio dos juncos, dos piris, dos miris e/ou rio dos couros, admite duas interpretações, conforme “As Etyologias Indigenas de Elias Herckman” (1639), publicada na Revista do Instituto Archeológico e Geográhico Pernambucano. In.: <http://www.archive.org/stream/revistadoinstit05perngoog#page/n48/mode/2up> . Acessada em, 03/04/2015.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 05/11/2015
Reeditado em 30/05/2016
Código do texto: T5438582
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