Café da manhã

Café da manhã

Que o cheiro do café pela manhã (ou do chá para aqueles que o preferem) é algo que encanta, é fato notório. Que o nosso primeiro contato diário com a alimentação, restrita ou não pelas dietas, é o despertar do dia que nos espera, também não. Entretanto, para alguns o verso contrapõe a rima e destoa da canção.

Em um mundo de metas, o senso de urgência dos resultados rouba-nos a humanidade e distancia-nos do ser, do sentir e do estar. Diante de um dia relutante em começar em virtude do cansaço, da fadiga e do stress de jornadas anteriores, o café da manhã transforma-se em uma experiência que transcende a fome e invariavelmente flerta com o desejo de exercer a convivência e energizar-se nos outros, pelos outros e com os outros. O poder que é gerado pela boa conversa que surge a cada xícara sorvida é imensurável. A conversa aproxima e a proximidade preenche os vazios que o dia-a-dia nos traz.

No mundo corporativo, não adianta “vender-se” como “família” e negar esse momento de reunião, de alegria, de motivação e descontração. Ou as famílias não mais dividem esse agradável momento? Não resolve dizer que o clima é tranquilo, se as pequenas gotas da “reza que se reza todo dia” teimam em mostrar o quão o aconchego e o bem-estar distam da realidade.

Quando um funcionário busca refúgio em um “simples cafezinho”, é prejulgado, julgado e condenado pela miopia simplória e obtusa de alguns, cuja estado catatônico do laborar não permite depreender o que efetivamente ali acontece.

O café é um refúgio e uma recarga, não omissão ou falta de compromisso. É uma busca pelo equilíbrio que perdemos no alvoroço do dia. Distante da enrolação, o cafezinho fala, é um pedido, ainda que mudo, pela conversa ou em alguns casos pela solidão. Pode ser ainda um freio, uma placa de “PARE” à impulsividade que, alijada da razão, pode ser extremamente danosa.

O que para alguns é perda de tempo, para aqueles que possuem visão é ganho de produtividade. É como dedicar um tempo ao conhecimento, nesse caso o conhecimento de si próprio e de seu entorno.

Vivamos então a benção que é o café da manhã, esse manancial de idéias, pensamentos, vivências e alegrias, por vezes doce, por vezes amargo, assim como a vida.

Ferreira de Carvalho
Enviado por Ferreira de Carvalho em 24/02/2016
Código do texto: T5554027
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