Para todo crime é possível castigo

Há uma relação sutil entre os crimes que chegam ao conhecimento público e aqueles que permanecem ocultos. A sociedade se escandaliza com aquilo que chega até ela, mas se escandaliza muito mais com o que está escondido e que incendeia a sua imaginação.

A montagem de um vasto painel sobre a corrupção, em escala global, é possível e traz a constatação de que tal fenômeno não é fortuito, mas faz parte da história da humanidade, desde todo o sempre.

Afinal, trata-se de dinheiro, e dinheiro é poder, é prestígio, é o símbolo-sinal que permite que tudo o que se quiser pode ser obtido, inclusive a continuidade das estruturas corruptas que o geram ao longo do tempo e a garantia do poder no futuro incerto.

Há assim o poder legal e instituído pela sociedade através do seu sistema político e o poder ilegal, oculto, vedado ao público em geral, que provem de atividades ilícitas de organizações lícitas ou ilícitas que dominam a sociedade, que obtém os seus recursos de jogo, prostituição, contrabando, tráfico de drogas e de armas, pirataria diversa, e que constituem o lado francamente criminoso da sociedade.

Uma outra parcela da sociedade legalizada flerta com o crime ao sonegar impostos e contribuições diversas às instituições do estado, ou ao gerar recursos ilícitos mediante fraudes contábeis, superfaturamento em obras públicas, que corresponde à criação de um montante de capital que deve permanecer oculto.

A soma das duas parcelas representa o capital ilegal gerado por atividades ilícitas e que deve ter um destino qualquer. É dinheiro que queima a mão de quem o toca. E quais são os possíveis destinos?

Primeiro, a lavagem dos capitais, manobra financeira de fachada que tem o propósito de legalizar os capitais obtidos ilicitamente.

Segundo, corromper as autoridades constituídas de forma a manter a continuidade das operações ilegais no futuro, sendo essa segunda forma uma espécie de “imposto” que eles pagam direto ao funcionário público. Esse é o dinheiro do “caixa dois”, que serve, inclusive para financiar campanhas políticas no Brasil, ou para financiar grupos terroristas em outras partes.

Seria razoável supor que o setor ilegal da sociedade tenta de todas as formas dominar o setor legal, controlando-o e financiando-o através da corrupção de seus fartos capitais que procuram aplicação rentável, ou desestabilizando-os caso sejam desfavoráveis, e que, em vista disso, os regimes ditos neo-liberais fazem vista grossa e um combate meramente simbólico para a ação corruptora desses capitais ilícitos?

Pois um combate efetivo à corrupção é possível mediante o controle dos fluxos de capitais, o que hoje é perfeitamente possível pelos sistemas de informática que administram o sistema bancário.

PS:Ver artigo sobre lavagem de dinheiro com uma boa análise no endereço abaixo.

QUAL O TAMANHO DO ESTRAGO?

Michel Camdessus, ex-diretor gerente do Fundo Monetário Internacional, estimou que a magnitude da lavagem de dinheiro é de 2 a 5% do produto interno bruto mundial, ou pelo menos 600 bilhões de dólares. Em alguns países com mercados emergentes, essas receitas ilícitas podem ultrapassar os orçamentos governamentais, o que resulta em perda do controle da política econômica pelos governos. De fato, em alguns casos, a própria magnitude da base de ativos acumulada por procedimentos de lavagem pode ser utilizada para monopolizar mercados, ou mesmo pequenas economias (dados de 2001)

http://usinfo.state.gov/journals/ites/0501/ijep/ie0502.htm