Pedofilia por Ieda Alkimim


Durante quatro meses a autora do livro NO LIMITE DA ALMA pesquisou, analisou e sintetizou no romance o perfil de um dos seus personagens: um pedófilo assassino.

*Pesquisa realizada em 2001

“Querido diário
 
Estou com muita raiva, ainda não entendi por que passei quatro horas dentro do armário da mamãe.
Estava brincando com terra nos fundos da casa. Meu padrasto brigou comigo me mandou tomar banho. Ele queria me dar banho, falei que sabia sozinha.
Acho que ele não insistiu por causa da Magda que continuou a fazer as coisas. Ele me colocou de castigo e disse para a Magda que fui malcriada, pois só queria me ajudar.
Mas juro diário, não fiz nada.
O armário é um móvel pesado, presente do meu avô. Eu gostava dele principalmente por ter os puxadores com argolas douradas, e as portas são entalhadas delicadamente, em formas de flores.
Mas o motivo principal era que o armário era da mamãe quando tinha minha idade. Encolhi as pernas e fiquei lá no escuro, sentindo frio. Chorava baixinho, calava, chorava de novo.
Como disse, gostava do armário, não sei se um dia vou gostar dele de novo.  É muito escuro lá dentro. Tenho medo do escuro.
Saí do castigo pouco antes de mamãe chegar. Ele disse que me machucará muito se eu contar o que aconteceu.
Tenho medo dele. Não! Tenho pavor!
Mas muita pena da mamãe também. Orei a Deus para me enviar um anjo para cuidar de mim e da mamãe.
Espero que ele atenda logo o meu pedido.”


             
Este é um trecho do livro No Limite da Alma, onde retrata o drama de uma garota de 7 anos que vive sob o mesmo teto de um pedófilo.
Engana-se quem pensa que o Brasil está em vantagem com países mais pobres sobre este pernicioso assunto. Enquanto grandes somas de dinheiro são desviados com propósitos políticos ou egoístas, prevalece a má distribuição de renda e pouco interesse em mudar as grandes diferenças sociais no Brasil.
Para uma boa pesquisa, precisa haver desmistificação de vários fatos relacionados à pedofilia. Quem mente e quem fala a verdade? O abusador é sempre um psicopata? O tempo cura todas as feridas? Analisar essas questões pode contribuir para entendermos a gravidade desse crime hediondo.
 
MITOS E VERDADES
 
Mito 1
A maioria das pessoas acredita que as crianças possuem imaginação fértil e que quando se queixam de estarem sendo vítimas de abuso sexual estão simplesmente fantasiando uma história
Verdade 1
AZEVEDO e GUERRA (2000), citando MCGRAW (1987), revela que só 8% das crianças costumam faltar com a verdade quando o assunto é vitimização sexual. Segundo o autor ¾ das histórias inventadas pelas crianças são induzidas por adultos.

Mito 2
No imaginário popular acredita-se que o abusador sexual é um psicopata, um tarado que todos reconhecem na rua. Os pais muitas vezes só se preocupam em alertar os filhos sobre o cuidado com pessoas estranhas.
Verdade 2
No entanto, segundo ALLENDER(1999) a maioria dos abusos ocorre entre os membros da família (29%) ou por alguém conhecido da vítima (60%). AZEVEDO e GUERRA (2000) afirmam que 85 – 90% dos agressores são pessoas conhecidas das crianças. Não queremos, entretanto, dizer que esses avisos não sejam importantes, são sim! Porém é necessário alertar nossas crianças para a realidade de que o perigo pode também vir da parte de quem está perto. Não basta preveni-las somente sobre as pessoas estranhas.
Mito 3
Os pais acreditam que a vitimização sexual de crianças é algo raro e que tal coisa jamais acontecerá com seus próprios filhos
Verdade 3
Segundo AZEVEDO e GUERRA (2000) pesquisas recentes revelam que 1 em 3 a 4 meninas e 1 em 6 a 10 meninos serão vítimas de abuso sexual até a idade de 18 anos
Mito 4
O tempo cura todos os males e a criança vitimizada sexualmente esquecerá a experiência se ninguém ficar relembrando o assunto.
Verdade 4
A criança nunca esquecerá um abuso sexual do qual foi vítima.
Segundo KORNFIELD (2000): “Quando uma criança sofre um choque emocional doloroso, ao qual não tem condições de agüentar, ela pode reagir reprimindo em nível psíquico, jogando para o porão de sua memória, “escondendo” a dor. É um mecanismo de defesa efetivo, que protege a criança para que possa sobreviver a experiência. A dor e as lembranças, portanto, não desaparecem. Ainda estão lá, guardadas no inconsciente da vítima…. As vezes, como citamos anteriormente, há uma amnésia total. No entanto, o abuso ainda vive no plano inconsciente. Mesmo inconscientemente, o peso esmagador dessa dor atrapalha a vida, gerando depressão, desejo de suicídio, reações desproporcionais à situações normais da vida, e muitas vezes uma inabilidade de participar integralmente da vida.”
Os pais, cujos filhos foram vitimizados sexualmente, devem sempre buscar ajuda para os mesmos. Esconder um caso de abuso sexual debaixo do tapete pode custar muito caro à saúde emocional da criança e de sua família.
Mito 5
Quando a criança permite os avanços sexuais do agressor sem esboçar uma resistência, na realidade não existe abuso sexual.
Verdade 5
Na realidade a criança nunca deve ser vista como culpada. O agressor para executar o abuso sexual pode recorrer a diferentes métodos. Entretanto, quer seja usada a força, ameaça ou indução da vontade, sempre existirá nessa relação uma desigualdade de poder, onde o adulto leva vantagem sobre a vítima que ainda não possui estrutura física e emocional suficiente para se defender de um ataque dessa natureza.
 
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO INCESTO NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
-          Abuso de poder:

No incesto o mais forte domina o mais fraco. O agressor tem maior capacidade física, social, psicológica e legal em relação a criança vitimizada e pratica o crime de forma irresponsável, usando o poder que possui visando tão somente satisfazer seus desejos e aliviar suas tensões.
-          Traição da confiança:

O agressor é uma pessoa conhecida da criança. Pode ser parente ou amigo (incesto polimorfo) da família. Existe um elo de confiança e responsabilidade entre a vítima e a pessoa do abusador. Quando o incesto é praticado esse vínculo se rompe, fazendo com que o sentimento de menos valia e traição venham a tona e contaminem a relação.
-          Presença da violência psicológica:

Quer seja a violência sexual praticada com abuso da força física, ameaça ou indução da vontade, ela sempre estará revestida de abuso psicológico.
 
DADOS ESTATÍSTICOS
- Segundo LANGBERG (2002) a idade em que o abuso sexual se inicia geralmente é entre os seis e doze anos.
- AZEVEDO e GUERRA (2000) falam que a idade em que o abuso é mais freqüente varia dos 8 – 12 anos.
- De acordo com DIMENSTEIN (1996), o Brasil ocupa o primeiro lugar na América do Sul na exploração sexual de crianças e adolescentes e a segunda posição no mundo, ficando apenas atrás da Tailândia. Ainda segundo o mesmo autor, pelo menos 80% das crianças e adolescentes vítimas de exploração sexual comercial foram vítimas de incesto.
- Segundo o Laboratório de Estudos da Criança (Lacri) da Universidade de São Paulo, uma em cada três a quatro meninas e um em cada seis a dez meninos serão vítimas de alguma modalidade de abuso sexual até completarem dezoito anos.
- De acordo com AZEVEDO e GUERRA (2000), em mais de 1/3 das notificações de abuso sexual, as vítimas estão dentro da faixa etária de 5 anos ou menos.
- MARSHALL (1990) afirma que a maioria dos abusadores sexuais incestuosos pertencem a famílias desajustadas. 20% a 35% desses agressores foram abusados sexualmente quando criança e 50% deles foram vítimas de maus-tratos físicos (50%) combinado com abuso psicológico. Ainda segundo o autor 35% das famílias incestogênicas abusam de álcool, sendo o abandono e rejeição fatores presentes nas relações familiares.
- A maioria dos abusadores sexuais são do sexo masculino e suas vítimas do sexo feminino.
- A modalidade de incesto mais frequente é o ocorrido entre pai e filha.
- Segundo AZEVEDO e GUERRA (2000) os agressores sexuais de crianças e adolescentes que sofrem disturbios psiquiátricos são uma minoria.
- Segundo análise feita em 1.169 casos de violência doméstica atendidos no SOS Criança da ABRAPIA, entre janeiro de 1998 e junho de 1999, foram diagnosticados: 65% de violência física, 51% de violência psicológica, 49% de casos de negligência e 13% de abuso sexual. Em 93,5% dos casos os agressores eram parentes da vítima (52% - mãe, 27% - pai, 8% -padrasto/madrasta, 13% - outros parentes) e em 6,5% os abusadores não são parentes (3% - vizinhos, 2% - babás e outros responsáveis, 1,5% - instituições.
Dos 13% de casos envolvendo abuso sexual a pesquisa demonstrou que:
a)      idade da vítima: 2 a 5 anos - 49%, 6 a 10 anos - 33%
b)      80% das vítimas tinham sexo feminino
c) 90% dos agressores eram do sexo masculino
Segundo o Sistema Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Infanto Juvenil durante o período de 05 de fevereiro de 1997 a 28 de fevereiro de 2003, foram feitas 5.070 denúncias onde ficou diagnosticado que:
a)      60 % das denúncias ocorreram nos anos 2000, 2001 e 2002, 36 % das denúncias ocorreram em 2002 e 15 % das denúncias ocorreram em janeiro e fevereiro de 2003.

b) No ano 2002, 63% dos casos denunciados foram de abuso sexual e 37% de exploração sexual comercial. Dos 63% de casos de abuso sexual, 60% foram de abuso intrafamiliar e 40% extrafamiliar.
c) Ficou ainda constatado que a vítima é do sexo feminino em 76% dos casos e 37% tem menos que 11 anos.

FONTE: CECOVI


O PERFIL DO PEDÓLIFO


Estudos apontam três principais causas para o crescimento da pedofilia:

- Sexualidade reprimida;
-    Pobreza;
- Desvio de personalidades de origem psicológica.
 
 
Sexualidade reprimida

           A prova mais evidente da sexualidade reprimida é o envolvimento de padres obrigados ao celibato. A igreja manteve-se tímida por décadas quanto aos abusos envolvendo seus clérigos contra menores. Porém, com crescentes escândalos, o Vaticano sinalizou preocupação de que a questão será enfrentada pela igreja.
Infelizmente, a prática de pedofilia por representantes clericais tem raízes não apenas no celibato, mas também na posição de confiança que possuem diante da sociedade. Muitas vezes, este destaque, esta postura relevante, desencoraja a denúncia e o silêncio deixa o crime adormecer no mundo de aparências.

            Pobreza

           A segunda questão acima citada é a pobreza, principalmente se tratando de países subdesenvolvidos. Crianças trocam as salas de aula e brincadeiras infantis por práticas libidinosas.
Em locais de parada de caminhoneiros, não raro encontrar crianças oferecendo seus corpos infantis por uns trocados ou por um prato de comida. O mais difícil desta dura realidade é conseguir aceitar que adultos tirem proveito desta situação penosa!
Posso citar neste assunto a pedofilia consentida. Aquela em que os próprios pais oferecem seus filhos para não morrerem de fome.
E não se vislumbre que isto acabe tão cedo!
 
 
 Desvio de personalidades de origem psicológica.
 
 
A terceira causa é o desvio de personalidades de origem psicológica. Acredito ser muito grave esta questão, por se tratar da ausência de informações e desconhecimento do grau de periculosidade desses sociopatas. Geralmente, mantém-se resguardados no anonimato e na aparência.
São pessoas extremamente meticulosas e expandem seus instintos doentios a cada minuto por si só ou por incentivos da própria sociedade voltada para o sexo e prazer. A mídia está recheada de material pornográfico em cinema, séries de televisão, fotografias, revistas, Internet, enfim, uma utilização de infovias que estão, aí, expostas ou anônimas, mas no nosso meio, como ervas daninhas prontas para atacar nossas crianças e sugar-lhes a inocência.
 

PEDÓFILIA NA INTERNET
Como podemos perceber, segundo pesquisa anterior, nossas crianças estão em perigo constante, porque o pedófilo pode ser qualquer um: seu vizinho, seus amigos, parentes e até os próprios genitores.
Não seria exagero afirmar que a pedofilia é o grande mal do
início do século XXI.
Estudos apontam que a Internet é considerada o “paraíso” dos pedófilos; por meio dela, tem se desenvolvido uma enorme rede de pedofilia. Pasmem, existe até mesmo Clube de Pedofilia! Esses “clubes” é uma forma que grupos de pedófilos organizados encontraram para adquirir fotos, vídeos contendo pornografia infantil e, até mesmo, contratar serviços de turismo sexual. Esses exploradores aliciam menores e efetivam o tráfico de crianças. Não estaria exagerando em afirmar que esses asquerosos elementos são os responsáveis pelo desaparecimento de crianças no mundo inteiro.
 
E a família, como pode proteger seus filhos?

1- Mantenha a linha de comunicação aberta entre seus filhos, seja seu melhor amigo, converse todos os assuntos com eles.
2- Mantenha o computador em área da casa que todos possam usar, nunca o deixando no quarto do menor; lembre-se, ele é alvo real e imediato de pedófilos!
3- Acompanhe seu filho menor quando for utilizar computadores em locais públicos como bibliotecas e lan house.
4- Ensine-o a lidar com o mundo virtual da mesma forma que o ensina sobre a vida real; naveguem juntos vez ou outra.
5- Aprenda sobre os sites que seu filho usa.
6- Estabeleça regras, discuta essas regras e observe se estão sendo cumpridas.
7- Limite o tempo gasto na
8- Internet e peça a seu filho que varie os horários que a usa.
9- Instrua-o a nunca fornecer dados pessoais e o local da escola onde ele estuda, principalmente nas salas de bate-papo.
10- Conheça os amigos virtuais dos seus filhos. Se ele marcar um encontro para conhecer um amiguinho virtual, acompanhe-o. Lembrem-se pais, vocês são responsáveis pela segurança de seus filhos e cabe a vocês o dever de protegê-los.


CONCLUSÕES FINAIS
 
  
Um dos mais debatidos artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente destaca o dever do Estado, família e sociedade em proteger nossas crianças e adolescentes. O que isto realmente significa?
Ora, que todos somos responsáveis.
O que tem feito o Estado?
Infelizmente, a legislação brasileira é muito retraída e tem mostrado pouco interesse no combate à pedofilia. A legislação é tão ineficiente que necessita de mudanças urgentes, pois existe apenas o artigo 241 como único dispositivo para punir os pedófilos. Em outras palavras, essa palavra nem aparece no código penal.
Dê uma volta nos grandes centros das principais cidades turísticas do Brasil e veja, com seus próprios olhos, crianças em pontos de prostituição, servindo principalmente aos “gringos”, verdadeiros pedófilos disfarçados de turistas, debaixo das barbas das autoridades. Consentem ou não, como saber? Será que sabem quem são os agenciadores da prostituição infantil e fazem vistas grossas em troca de favores ou poucos trocados, pois valor algum paga a ruína emocional das crianças exploradas.
Portanto, o Estado tem falhado, com sua negligência e omissão em não colocar atrás das grades os pedófilos endinheirados ou expulsar os “turistas” que vêm aqui com este propósito tão desumano.
Porém, nem tudo está perdido. A sociedade séria, preocupada e sem interesse egoísta tem segurado as rédias com as poucas armas que possui. Algumas escolas, por exemplo, contam com professores altamente capacitados para identificar mudanças de comportamento dos alunos. Psicólogos, terapeutas ocupacionais e pedagogos, com verdadeiro comprometimento social, promovem palestras, debates e até mesmo grupos de apoio às vítimas de pedofilia.
Constantemente esses profissionais alertam os pais sobre a Internet, que é o meio de divulgação principal e preferida dos pedófilos, e que eles vigiem o uso dela, pois se trata de uma porta escancarada dentro de suas casas.
Existem algumas ONGS que recebem e repassam denúncias com o auxílio de internautas. Essas ONGS têm como principal missão conscientizar os internautas e famílias sobre a ação criminosa da rede de pedofilia, pedindo que denunciem todos os sites contendo imagens de pornografia infantil, pois se sabe, por trás desses sites está um pedófilo.
Portanto, esteja atento. Denuncie. Não se cale diante do mal que nos apresenta. Olhe em sua volta, olhe em sua casa, cuide de seus filhos, que são, com certeza, o bem mais precioso que possuem.


DENUNCIE:
www.censura.com.br.
 

OBS: ACEITO  CONVITE  PARA  PARTICIPAR DE  SIMPÓSIOS E PALESTRAS  EM ESCOLAS E FACULDADES, ASSIM COMO EM CONFERÊNCIAS PARA DEBATE DO TEMA DESENVOLVIDO NO LIVRO  "NO LIMITE DA ALMA": A PEDOFILIA


AGORA LEIA TRECHO DA OBRA  E PEÇA JÁ O SEU EXEMPLAR

NO LIMITE DA ALMA



No limite da alma é um livro  totalmente social e moderno. Conta o drama de uma menina de sete anos que mora sob o mesmo teto de um pedófilo, seu padrasto. No seu mundo de medo e desespero não sabe que um ex policial, V.Peixoto, está a procura desse pedófilo que também é o principal suspeito de ser um assassino em série, que há 3 anos aterroriza a cidade de Betim, local geográfico da trama policial.
V. Peixoto, Júlia Smith e Leandro Vasconcelos, são os personagens deste drama policial de tirar o folêgo,  lutam contra o tempo antes que este assassino possa fazer mais uma vítima e Ana pode ser a próxima...




CAPÍTULO 3



"Fecho-me no seu silêncio,
fecho-me no abismo do sol
e elejo a solidão como companheira
derradeira da minha ilusão”.
(Do Outro Lado das Fronteiras –
Paulo Ursine Krettli)




A garrafa pela metade caracterizava outra noite de uma bebedeira descontrolada. O bar era sujo, desconfortável, desagra-dável; fedia banheiro imundo e uma mistura insuportável de urina, cerveja e vômitos.
Mesmo assim, estava empilhado, com os mesmos clientes, na maioria homens, que não suportavam a idéia de ficar dez minutos com suas esposas após um longo dia de trabalho pesado. Muitos eram desempregados, e outros eram homens que fugiam da desgraça de terem sido abandonados e tantos outros solitários, decadentes e que escondiam frustrações, traumas, medos e culpa.
Estavam todos ali, mas pareciam invisíveis ou inexistentes uns aos outros. Dentre esses rostos anônimos estava o de V. Peixoto.
Se alguém perguntasse, diria que era o pior ser dentre todos, o coitado, o desprezível, que enchia a cara para esconder a própria face, a própria vergonha.
Em tempos idos, quem imaginaria ver o grande policial naquele estado deplorável.
Várias vezes fora condecorado por bravura e por seu brilhantismo em desvendar mistérios que nenhum outro colega conseguia sequer revolver. Notadamente, casos extremamente difíceis eram entregues a esse experiente policial.
Porém, deixaria a força policial, quando completasse quarenta e três anos para se tornar detetive particular, apesar dos inúmeros pedidos e protestos dos colegas.
Não recuou à decisão. Era seu sonho pessoal e não queria ficar velho demais para realizá-lo.
Para o sucesso que pretendia, ele contaria com seus muitos anos de serviço e os contatos que adquiriu. Seria seu próprio patrão!
Estava ciente do seu papel dentro da polícia civil e em como esse triunfo e conhecimento eram essenciais para desvendar casos insolucionáveis. Tinha crédito, era respeitado e considerado um mentor. Esbanjava inteligência, carisma e, para as mulheres, virilidade. Sim, estava convicto e aquele seria seu último caso dentro da corporação.
Porém, não se sabe realmente o que ocorreu, nem seus amigos souberam dizer porque o grande homem abandonou sua brilhante carreira, ficando num desleixo completo e absoluto. As notícias que se ouviam de V. era de que passou a viver como um morcego, dormia de dia e saía à noite.
Com o tempo, ele foi esquecido. Tornou-se uma espécie de lenda dentro da força policial, e alguns mais desconfiados, acredita-vam que V. Peixoto era um policial fictício, inventado para que eles, os mais jovens se espelhassem.
Mas ele existia, mais morto que vivo, abstrato ou concreto e, mesmo reduzido inutilmente à sua existência medíocre, existia.
Era um negro atraente. Alguns, por bondade ou adulação, diziam que ele poderia ser um artista de filme de policial americano: alto, forte, dentes alvos e perfeitos, com um sorriso encantador. Irreconhecível para quem o visse agora. Lembrava mais um mendigo, fedorento e maltrapilho (...)





Ieda Alkimim
Enviado por Ieda Alkimim em 09/07/2007
Reeditado em 12/03/2009
Código do texto: T558378