Ladrões de casaca

Nunca imaginei chegar aos 67 para ver o que está acontecendo no Brasil. Bom, na verdade, eu sempre achei que algo estava errado, que o país é extremamente rico e que o pão daria abundantemente para todos os brasileiros. E por que isto não acontecia?

Permaneci na frisa olhando o espetáculo degradante, durante essas minhas décadas de vida, o povo empobrecendo e ficando feio, desnutrido, cansado, fubento e banguelo. Fubento é algo assim como se diz no nordeste: cor de burro quando foge.

Olhar a degradação das pessoas sempre me incomodou, mesmo porque, antes de estudar filosofias e sociologias, nunca considerei que fosse certo existir tanta feiura e miséria. Por que o povo brasileiro foi ficando assim favelado, pé-de-chinelo, canela seca, doente, maltrapilho, mole?

Chego aos 67 para ter a confirmação de tudo o que pensei. A verdade é que os políticos e os empresários do passado viviam na sombra, na moita, comendo mansinho como se diz do mineiro, lambendo os beiços e sempre querendo mais e mais. Muitos empresários e políticos do presente continuam com o mesmo comportamento odioso.

É... Quando os fubentos, os fubambentos e os banguelos resolveram se manifestar, não é que tomaram as rédeas do país? Sim! E ficaram firmes no lombo do cavalo até que os perdedores, filhos dos políticos e ricos do passado acharam que a festa estava demorando muito e caíram na estrada para tentar derrubar e matar o belo cavalo que trotava garboso e, então, com uma amazona na sela.

Rasteira para lá, rasteira para cá, moleques de atiradeira em punho, jagunços como nos tempos dos coronéis, todo tipo de bandido de aluguel, inclusive bandido charmoso e de bom gosto! Gosto pelas coisas parisienses! Bandido com aspirações parisienses, cheirando a Chanel por todos os poros e voando sem cessar, pelos países mais ricos da terra. Os xeiques de Dubai até se sentem constrangidos por tamanha riqueza, uma verdadeira afronta aos monarcas dos petrodólares!

Para que tudo pareça moral e ético, Ali Babá e seus incontáveis ladrões de casaca, achando pouco, dão uma de religiosos, de mãos dadas em plenário, orando ao “Senhor”, que, de algum lugar olha bem para tanto cinismo e desfaçatez. Ao lado disto, um exército de atoleimados fiéis cantam loas aos ladrões e os chamam de homens de Deus. Deus de verdade, fica todo arrepiado com essas manobras.

Entre os ladrões, há os que chegam ao requinte de, além de professar a religiosidade, serem também racistas, homofóbicos, machistas e adeptos do olho por olho, dente por dente. Esses ladrões “éticos” chamam o exército para os outros, querendo para si mesmos o poder a qualquer custo, na marra e na tora.

Já notaram como a maior parte desses ladrões é casada com belas e esculturais mulheres? Sendo eles uns coroas sacudidos, mas feios, tratam logo de ter o dinheiro do povo para manter as esposas e também, em alguns casos, as concubinas, o que, segundo pregam em seus fajutos sermões ensinados por mestres da cobrança de dízimos aos atoleimados, seria pecado mortal.

Há momentos em que imagino Deus verdadeiro se divertindo com tamanha falta de vergonha, mas há outros momentos em que avisto o Todo Poderoso irar-se contra esses malditos acima da lei divina, quanto mais das frágeis leis terrenas.