A SEDE DO PODER

A SEDE DE PODER

Josa Jásper

A sede do poder invade os dias de hoje de forma insensata e avassaladora. Todos querem ser caciques e restam poucos para o desempenho do papel de índios! Isso não é saudável, porque o mundo precisa muito mais dos que servem do que daqueles que dele apenas se servem.

Dentro dos limites deste trabalho, a sede de poder será exemplificada por três considerações:

o amor ao dinheiro, a aversão ao casamento e a barganha política. Todas as três se fundem na sede do poder, pois não só a identificam, como abrem nossa imaginação para uma infinidade de outros fatores relativos ao tema – sede de poder – cuja maior complexidade deixo de analisar por economia de espaço e por sua fácil previsibilidade.

Um bom exemplo da sede do poder reside, de fato, no amor generalizado pelo dinheiro. Ora,nossa sociedade tem contemplado a redução persistente e gradativa de todos os seus valores ao poder do dinheiro, mesmo aqueles, antes considerados intangíveis, como o amor, a honra , a moral, a justiça, etc. Tudo se curva ao “vil metal”, que confere status e hierarquiza os homens! Não é sem razão, portanto, que o dinheiro tenha galgado o ápice de sua escala de valores! A sede de poder, garantido por uma invejável situação financeira, decreta a falência do gozo de todos os outros relacionamentos, rumo à paixão pelos bens de natureza puramente material. Observa-se, hoje em dia, que os espíritos passam, pelo mundo, afogados por ambições que, caso fossem descentralizadas do saldo bancário, seriam bem mais úteis e promissoras para a humanidade, simplesmente porque dinheiro entesourado é um poder não desfrutado! O dinheiro comanda, em geral, o comportamento

das nossas mais caras instituições, como o Estado, a Igreja, a Justiça , o Trabalho e a Escola, todas elas ávidas de poder, farinha do mesmo saco!

A aversão ao casamento tem relação estreita com a sede de poder, porque é esta que contribui para o engrandecimento daquela, pelo receio tolo de que o casamento, a mais bela das alianças terrenas, implicaria, inevitavelmente, na privação da liberdade, quando apenas tira o ser humano da pobreza de um monólogo para a riqueza de um diálogo, do claustro de si mesmo para uma vida a dois! Na maioria das vezes, é tão somente a sede de poder que leva mulheres bem-sucedidas, bem-cuidadas e de bem com a vida – conforme costumeiramente se proclamam – vale dizer, as “poderosas” de hoje, à convicção de plenitude da vida sem casório. Menos da metade das universitárias na faixa dos 25 anos, por causa disso, terá real possibilidade de casar-se, e apenas 5% delas virão a casar-se, após os 55 anos, conforme projeção de um estudo sério, feito pela Universidade de Harvard, nos EUA. Há milhares de explicações para esse fenômeno, mas todos se concentram na sede de poder: na verdade,não buscam um marido, porém um marido que possam dominar! Mesmo assim, quando se casam, fazem-no cada vez mais tarde, por excessivo amor a uma liberdade antinatural, ou pelo temor doentio de se frustrarem, aliando-se a algum déspota mascarado. Com isso, acabam, com maior probabilidade, não se casando nunca, percorrendo sua sina, biologicamente frustrante, pela vida a fora, porque macho e fêmea são oposições complementares e não estados irreconciliáveis de alma. Por essa razão, aumentam os problemas emocionais e deparamo-nos com opções inequivocamente distorcidas, como a da famigerada “Rainha dos Baixinhos”, Xuxa, bela, rica e saudável, que optou por criar uma filha sem pai, adotando um macho como mero reprodutor daquela que se chamaria Sacha, e a quem a mãe não titubeou em tornar órfã de pai vivo, antes mesmo de nascer.

A barganha política é mais uma amostra da sede de poder! Nela, o tráfico de influências erige-se como marco principal. É o caso dos governos que jogam todo o seu poder de persuasão na perversão do lúcido poder de uma oposição consciente. A Revista VEJA, de 15 Nov 06, trata, com naturalidade preocupante, o balaio de negociações do Governo, onde são exibidos cargos públicos à sede de poder oposicionista, na expectativa de angariar apoio aos seus projetos. O PMDB avulta como o maior beneficiado! A grande questão é se não nos defrontamos com um novo mensalão, travestido em barganha de cargos. Caso assim seja, o mensalão não teria terminado, mas apenas mudou de forma...

Finalizando, vê-se que a restauração social do país e do próprio mundo, se assim podemos dizer, passa pela simplicidade de uma única batalha: a partilha inteligente do poder!

Por injunções de espaço e tempo, conforme já foi dito, buscamos a simplificação do tema em três exemplos que tornam sua compreensão bastante palpável: o amor ao dinheiro, a aversão ao casamento e as barganhas políticas. Certamente poderíamos estender suas repercussões pela situação nacional como um todo!...

A partilha democrática, sábia e justa do poder garantiria vitória sobre o injusto modelo atual, com a promoção de uma educação vigorosa, de cunho ético e espiritual, reconhecidamente mais significativa que a educação mercadológica ou socializante, a partir dos efeitos já constatados, que fizeram do nosso país um dos campeões da corrupção. Assim, derrotaríamos a raiz de todos os males, que é o amor pelo dinheiro, motor da criminalidade.

A aversão ao casamento seria erradicada pelo

convencimento do sexo frágil da sua maior fragilidade: a de entender que a vitória sobre o macho não consiste em igualá-lo, muito menos em superá-lo, mas simplesmente retroceder à feminilidade perdida no pós-modernismo. É só dar um basta às distorções de hoje que, longe do que se pensa, denegriram a essência feminina, ao invés de

exaltá-la! Conforme já nos ensinaram os gregos, com a lenda do labirinto, a única forma de sair dele é pela porta da entrada, recuando, portanto.

Por fim, no caso das barganhas políticas, bastaria conscientizar os representantes do povo para que se decidissem efetivamente a representá-lo e não buscarem representar-se perante ele.O povo é a razão de ser da política, e não o contrário! A governabilidade de um estadista não consiste em dobrar as oposições aos seus interesses, mas em dialogar com elas sobre os verdadeiros interesses do país! Como nos ensinou o mestre Plutarco, “os inimigos são mestres a quem não pagamos”.É imperioso, pois, que o poder não seja mais uma das nossas fontes de decepção, porém a conjunção e o revezamento de hábeis timoneiros na condução do barco da existência coletiva. Só um povo sábio e unido consegue a necessária democratização do poder! Poder não solidário é sinônimo de despotismo! Em função deste argumento, devemos ter consciência das falhas eventuais da liderança humana e, simultaneamente, promovermos seu saneamento indispensável. Já nos diz um antigo provérbio popular : “Se queres conhecer o vilão, põe-lhe o poder na mão”. Contudo, prefiro terminar estas considerações com uma lição mais profunda, haurida do “Livro dos Livros”:

“Uma coisa disse Deus, duas vezes a ouvi: que o poder pertence a Deus!” ( Salmos, 62:11). Essa é a sede de poder que todos deveriam ter: a sede de subordinar-se a Ele! Todo poder humano, desvincu-

lado desse propósito maior, que é o de ceder ao Criador as honras do poder, falharia por completo: o poder terreno corrompe! O homem é incapaz até mesmo de domínio próprio, sem o domínio de Deus!