Lixo nas ruas

Pisando de papel em papel senti saudades da calçada, e deparei-me cercado de irregularidades cujas quais a sociedade acabou se adaptando. Vi-me cercado de poluição. Então falemos sobre o lixo nas ruas...

O lixo do lixo do presidente falando lixo no lixo da televisão!

E nós falamos sobre o lixo nas ruas...

Proíbem a droga... a cola que é a única droga que aquece o menino de rua, que o faz esquecer da fome, do frio e das dores; não o agasalham, mas batem nele quando é pego em flagrante.

A cidade esta soterrada por papéis de bala, cigarro, sacolas, latas e garrafas, mas ainda não entenderam que se necessita da implantação de lixeiras nas ruas, em todos os quarteirões.

Eles não têm competência para arrumar o próprio quarto, porque acreditar que seriam capazes de organizar a cidade? Inocência ou burrice?

Ah... Mas espera ai. Não estão de braços cruzados. Eles sim fizeram algo em prol da cidade: implantaram a lei “cidade limpa”, que bonito, que maravilha, tudo bem que não identificamos mais nada, que São Paulo foi perdendo sua cor, tudo bem que não adianta mais construir o sonho de uma empresa e com orgulho gravar seu nome no topo do prédio, tudo bem que tudo fica mais feio com a marca das placas, as ferragens expostas dos outdoors, a marca de tinta e sujeira por de trás de cada letra das propagandas, mas agora a cidade está limpa! Vermes insolentes. Vamos sorrindo dessa piada antes que meu corpo vire lixo no chão.

Descobri que o lixo não esta nas ruas, mas no poder, nas câmaras, no senado, na presidência, no governo. O lixo das ruas vota e coloca no poder alguém que lê “Santander Banespa”, e pronuncia “Santo André du Banespa”. Burro seria quem erra como todo ser humano que tem o direito de errar ou seriam os cretinos que escolhem por livre e espontânea vontade ser representado por um troglodita desse?

Sobre lixo nas ruas...

Cidade limpa! Querem desabrasileirar o meu Brasil!!! Na minha São Paulo os feirantes gritam, as ruas tem placas e cartazes, as luzes falam por minha São Paulo, mas meus filhos não verão isso, não viverão isso.

Quem tiver berço, educação, cultura e respeito ainda prefere andar horas com o lixo nas mãos caçando uma bendita lixeira. O resto o deixa escapar de suas mãos, embelezando mais ainda nossas ruas e praças...

Uns amam a cidade, outros nunca vão entender o que ela significa.

Os que a prezam a embelezam de verdade, artistas fazem graffiti, vândalos pixam.

Artistas fazem a poesia nos faróis da cidade com seus malabares e skates enquanto os vermes espalham o medo do perigo do assalto.

Falar sobre o lixo nas ruas... Melhor simplesmente deixar de falar, afinal de contas, nada é construído para virar lixo e ainda não aprendemos o valor de se cuidar disso.

...

Muito barulho por lixo

5 da manhã. É domingo. O menino acorda feliz. Talvez ele possa conseguir mais do que as habituais sobras de um PF garimpado no lixo do boteco da esquina. É dia de feira. Os caminhões chegam devagar. As barracas são armadas com prontidão. Tudo é feito com um silêncio aterrador, coisa incomum para a classe dos vendedores de leguminosas, verduras e afim. Uma lei recente não permite que eles façam o costumeiro barulho. Com o silêncio todo o menino tem vontade voltar a dormir. Não pode. Se quiser comer tem de começar a sua caça logo.

Os primeiros clientes vão chegando. É engraçado ver como os feirantes se expressam. São as mesmas tiradas, as mesmas frases feitas, tudo em tom ameno e sem graça. De repente um fulano se esquece e solta aquele grito. Todos o olham com esperança e espanto. O indivíduo ruboriza-se e volta aos seus afazeres com uma introspecção digna de uma velha virgem. Todos se assemelham a ele logo depois.

Opa! A primeira laranja cai no chão e sai pingando por debaixo da barraca. O menino entra em cena. Compete com outros pela fruta. Ganha em disposição. Perde em força. Perde a fruta. Os pasteis fervilham e são consumidos com voracidade. Os papéis que o envolvem são jogados ao vento com descaso. Amontoam-se numa lixeira que já não suporta toda aquela quantidade. Alguém pede uma coca-cola. Antigamente o caldo-de-cana não se equiparava a nada em uma feira. Era unânime. Os tempos são outros. A latinha da coca-cola junta-se ao monte de papéis que antes já queriam se separar a cada lufada. Com a companheira inconveniente então a tensão aumentava, o espaço diminuía. Coisa que não dura muito. Temos o orgulho de ser o país líder em reciclagem, e a latinha não permanece ali nem por dois minutos. O menino a leva embora. Aqui a reciclagem não é movida pela consciência publica, e, sim, pelo instinto de sobrevivência mesmo.

A laranja, o papel, a latinha Tudo a mesma coisa. Lixo. Lixo que os garis levam embora ao final da feira. Assim como tudo que por descuido ou descaso caiu das barracas ou que não foi considerado ter as mínimas condições de ser consumido por um povo cheio de pudores quando o assunto é o que vai parar em seu prato, mas não ta nem aí mesmo quando se trata da nossa rua.

...rOg Oldim

...Helton Simões Gomes

Pecado Verbal
Enviado por Pecado Verbal em 25/07/2007
Reeditado em 02/08/2007
Código do texto: T578617