Identifiquei-me com os sintomas: tenho um transtorno?

A personalidade do ser humano é vasta. Uns são extrovertidos; outros tímidos. Uns são agressivos; outros passivos demais. Se lermos os critérios do DSM e do CID-10, todos nós iremos nos identificar com uma característica ou outra: mulheres extrovertidas se encaixariam no transtorno de personalidade histriônica; homens seguros de si seriam identificados como narcisistas; pessoas tímidas com o transtorno de personalidade evitativa; e assim por diante.

A simples similaridade comportamental com tais critérios não são suficientes para caracterizar um transtorno. É preciso se encaixar em um número determinado de critérios, além de outras especificações gerais.

“Pessoas explosivas, teatrais, sistemáticas, meticulosas, obsessivas, cismadas, muito emotivas e outros tipos difíceis de conviver sugerem, intuitivamente para todos nós, tratar-se de uma maneira de SER assim e não de ESTAR assim. Ao longo da vida essas pessoas podem melhorar, através de muito empenho e vontade de morrer melhor do que nasceram. Outras estacionam, petrificadas para sempre, sofrendo e fazendo sofrer. “

“Diz a CID.10 que os transtornos de personalidade são estados e tipos de comportamentos característicos que expressam maneiras da pessoa viver e de estabelecer relações consigo mesma e com os outros. São distúrbios da constituição e das tendências comportamentais – continua dizendo a CID.10 – não diretamente relacionados a alguma doença, lesão, afecção cerebral ou a outro transtorno psiquiátrico. Isso tudo quer dizer que a pessoa simplesmente é desse jeito e será sempre assim.” Trechos retirados do site:

http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=180

Um transtorno de personalidade aparece quando esses traços são muito inflexíveis e mal-ajustados, ou seja, prejudicam a adaptação do indivíduo às situações que enfrenta, causando a ele próprio, ou mais comumente aos que lhe estão próximos, sofrimento e incomodação. Geralmente esses indivíduos são pouco motivados para tratamento, uma vez que os traços de caráter pouco geram sofrimento para si mesmos, mas perturbam suas relações com outras pessoas, fazendo com que amigos e familiares aconselhem o tratamento. Geralmente aparecem no início da idade adulta e são cronificantes (permanecem pela vida toda) se não tratados.

Retirado do site:

https://www.abcdasaude.com.br/psiquiatria/transtornos-de-personalidade

Como supracitado, indivíduos com um transtorno de personalidade apresentam um padrão persistente de comportamento, danoso e disfuncional. A psicoterapia pode ajudar, porém o prognóstico é ruim. Usamos o verbo “ter”um transtorno de maneira equivocado, já que um indivíduo com tais características são assim. Eles são o transtorno, eles não o tem.

Descrições gerais dos transtornos de personalidade:

1. Paranóide:

- Desconfiança e suspeita de que os outros estão tentando enganá-lo ou prejudica-lo, sem evidências de que isto se justifique;

- Ofendem-se com facilidade, guardam rancores dessas desavenças;

- As preocupações com desconfiança atingem todas as relações do indivíduo;

- Pessoas hostis e combativas;

- Mecanismos de defesa: projeção e identificação projetiva;

- Frequência maior entre os homens;

- Prevalência na população geral: de 0,5 a 2,5%.

2. Esquizóide:

- Distanciamento das relações sociais, mesmo com familiares próximos;

- Expressões emocionais limitadas;

- Indivíduos isolados, que não se importam com a opinião dos outros a seu respeito;

- Preferem atividades que possam realizar sozinhos;

- Parecem ser pessoas frias, sem sentimentos intensos;

- Frequência um pouco mais comum em homens;

- Maior prevalência em parentes de primeiro grau de pessoas esquizofrênicas.

3. Esquizotípica:

- Prejuízo importante nas relações interpessoais;

- Distorções cognitivas e na percepção (sem ser delírios ou alucinações verdadeiros);

- Pessoas supersticiosas ou com crenças não-condizentes com seu meio sócio-cultural;

- Acreditam ter um poder ou dom especial;

- São descritas como pessoas estranhas ou excêntricas;

- Prevalência na população geral: 3%;

- Maior prevalência em parentes de indivíduos esquizofrênicos.

4. Antissocial:

- Desconsideração dos direitos alheios, sem que haja culpa ou remorso pelas consequências dos seus atos;

- Histórico de transtorno de conduta antes dos 15 anos de idade;

- Violação de regras, destruição do patrimônio, agressões;

- Pessoas que manipulam os outros para conseguirem o que desejam;

- Tomam decisões de forma impulsiva;

- Comportamento irresponsável e inconsequente;

- Capazes de seduzir;

- Comumente se envolvem em contravenções;

- Prevalência na população geral: 3% em homens e 1% em mulheres.

5. Borderline:

- Instabilidade (nas relações interpessoais, na autoimagem, instabilidade afetiva);

- Pessoas impulsivas, colocam-se em risco;

- Pessoas que possuem dificuldade de manter relacionamentos duradouros, vivem em uma “montanha-russa emocional” e apresentam convivência difícil;

- Emoções intensas;

- Dificuldade em conter a raiva (podem partir para agressão física);

- Dificuldade em suportar tristeza ou frustração (levando a pensamentos ou tentativas de suicídio);

- Podem apresentar comportamentos automutilatórios (autoagressões);

- Prevalência na população geral: 1 a 2%;

- Mais frequente em mulheres (75% dos casos são mulheres).

6. Histriônica:

- Emotividade em excesso;

- Necessidade em estar no centro das atenções;

- Atitude sedutora e teatral;

- Pessoas que empreendem grandes esforços para agradar e seduzir de maneira indiscriminada;

- Afeto superficial e inconstante;

- São sugestionáveis e podem desenvolver relacionamentos de grande dependência;

- São intolerantes às frustrações, podendo ocorrer ameaças de suicídio;

- Prevalência na população geral: de 2 a 3%;

- Mais frequente em mulheres, mas estudos recentes mostram prevalência semelhante em ambos os sexos.

7. Narcisista:

- Sentimentos de grandiosidade sobre si mesmo, acreditando ser especial e dotado de qualidades ímpares;

- Acredita ocupar posição de destaque em relação às demais pessoas;

- Pessoas que podem tentar usar outras para atingir seus objetivos;

- Costuma ter pouca empatia pelos outros;

- Mais frequente em homens (50 a 75% dos casos);

- Prevalência na população geral: inferior a 1%.

8. Esquiva ou Ansiosa:

- Padrão de retraimento social;

- Hipersensibilidade à rejeição;

- Sensação de inadequação;

- Essas pessoas desejam contato social, mas se sentem inapropriados, inferiores, temem a ridicularização;

- São descritos como TÍMIDOS, com início deste comportamento desde a infância;

- Prevalência estimada na população geral: 0,5 a 1%.

9. Dependente:

- Necessidade extrema de cuidado;

- Comportamentos submissos pelo medo da separação;

- São pessoas que pedem conselhos para tudo e permitem que outros tomem decisões importantes em seu lugar e dificilmente expressam discordância;

- Podem aceitar situações humilhantes para evitar a possibilidade de ficar sozinhos.

10. Obsessivo-compulsiva ou Anancástica:

- Padrão de excessiva rigidez, preocupação com ordenação e controle;

- Perfeccionismo exagerado;

- Pessoas que gastam muito tempo com detalhes e regras, muitas vezes perdendo o foco no que é importante;

- Sofrem com a busca da perfeição e costumam dedicar muito tempo ao trabalho, acreditando não ter tempo para descansar;

- Possuem grande dificuldade em delegar tarefas;

- Possuem padrões muito rígidos sobre o que é certo ou errado;

- Pessoas pouco carinhosas, com dificuldade de expressar sentimentos;

- Interação social complicada, muitos atritos;

- Prevalência na população geral: cerca de 1%;

- Mais frequente em homens.

** ETIOLOGIA: Multifatorial: mistura de fatores genéticos e ambientais.

*Maior herdabilidade: T. de Personalidade Narcisista, Obsessivo-compulsiva, Borderline, Histriônica e Esquizotípica.

** TRATAMENTO E SETTING IDEAL:

*Para os pacientes do CLUSTER C (Esquiva, Dependente e Obsessivo-compulsiva), considerados mais leves, o tratamento é ambulatorial ou em consultório, composto de consultas/atendimentos psiquiátricos e psicoterápicos. A abordagem psicoterápica de maior estudo com boa resposta é a psicodinâmica.

*Para os pacientes do CLUSTER A e B (mais graves), o tratamento pode exigir acompanhamento em CAPS ou HOSPITAL-DIA. Podendo, em alguns casos, ser necessário tratamento ambulatorial intensivo, hospitalização parcial e mesmo breves internações psiquiátricas.

*Principais indicações para internação psiquiátrica: ideação suicida ou graves tentativas de suicídio, alto risco de hetero e autoagressividade, episódios psicóticos transitórios ou episódios dissociativos graves. Estes casos são mais frequentes em pessoas do CLUSTER B.

É importante, ao se evidenciar alguns sinais e/ou sintomas de algum dos transtornos de personalidade, procurar um médico psiquiatra, não se auto-diagnosticar, muito menos, auto-medicar, pois todos os indivíduos podem ter traços de algum transtorno de personalidade, sem possuir o transtorno, já que são necessários critérios diagnósticos fechados para se efetuar o diagnóstico e só o médico é capaz de firmá-lo, após o acompanhamento.

Fonte: Manual de Psiquiatria da UNIFESP, Kaplan, DSM-IV, CID-10

UM VIKING DE ÓCULOS
Enviado por UM VIKING DE ÓCULOS em 18/10/2016
Reeditado em 19/10/2016
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