Músculos

A academia está cheia. Cheia de corações vazios e mentes despreocupadas. Cheia de valores banalizados e aparências. Mas estão todos bonitos.

Graças a Deus as pessoas ainda malham. Graças a Deus as pessoas dedicam horas à academia, na prática de lutas, pesquisando sobre energéticos e fórmulas emagrecedoras. Sempre fico satisfeito por estas pessoas ainda freqüentarem a academia. Pense, se eles inventam de investir essas horas que passam cultuando seu próprio corpo em estudos, em aperfeiçoamento profissional. Aí sim o mercado seria competitivo. Aí seria muito mais difícil do que é hoje se destacar em um mercado onde quem tem mais condições financeiras de investir na carreia acaba tendo mais chances de conquistas. Mas as pessoas estão malhando. Eles também trabalham. Os músculos, é claro. Que pena que eu sou só um magrelo estudando, talvez as mulheres não vão olhar pra mim se eu tirar a camisa em um dia de sol.

Mas olhem bem para aqueles atletas. Como chamam atenção! Em seus braços pode se tatuar o mapa mundi. Não importa o frio, eles estão de regatinha e mesmo sem o sol lá estão os óculos escuros em seus rostos bem definidos. É! De fato eles atraem as mulheres, assim como as mulheres bem definidas certamente atraem os homens. Mas espera, esquecemos de pensar novamente. Os braços musculosos, os abdomens definidos, a massa, esse estereótipo todo só atrai o superficialismo, somente o interesse externo e vazio, sem critério, atrai o status e a dita cuja "sociedade"...

Acho que desaprenderam como se pensa. As pessoas crescem e vão ao fisiculturismo, ao halterofilismo. Será que eu sou muito ignorante ou essas pessoas não envelhecem, não morrem?

Enquanto vocês malham seus músculos prefiro malhar o meu cérebro. Se for pra exercitar algo, que se exercite algo que presta, algo que faz a diferença. Se precisarmos realmente sair na mão com um desses, sairemos no prejuízo, mas graças a Deus praticamos o dom do diálogo, em que esses modelos atraentes sairão no prejuízo, pois leram tantas bulas de probióticos que esqueceram-se de ler livros, gastaram tanto tempo tornando-se atração para modeletes vazias sem cultura e conhecimento que esqueceram-se que talvez um dia precisassem trabalhar para ter algo na vida. Ah, mas quão inocente eu sou novamente. Os seres que habitam as baladas e possuem carros e Red Bull são filhos de alguém, que conhece alguém, que é amigo do sobrinho do primo do tio da amiga de alguém importante. Talvez o mundo nem esteja tão serio assim. Talvez esses pais nunca morram, mas mesmo que isso venha a acontecer, a herança não acaba tão cedo. Mas e aqueles que não têm os pais ricos, não têm uma herança, não têm um futuro garantido, o que esses estão fazendo na academia?

A resposta é tão simples: ficando bonitos ora....

...

Aos seres que se escondem atrás de uma capa de músculos rígidos que envolvem os ossos, sufocam as idéias, apoderam-se dos pensamentos, e, por fim, tornam-se o pensamento! Ahhh! Olha lá. Cultuar algo que com o tempo se deteriora é perigoso. Apegar-se ao passageiro, ao transitório, os faz seres compreendidos apenas pelas idéias vigentes, dessas que não duram um verão. O que é um homem senão pó. E o que faz desse homem digno de lembrança, de respeito, se não houver outro homem que compreenda qual ventania foi capaz de movê-lo de seu lugar habitual. Toda espécie possui algo que a diferencia das demais. Não que eu goste de menosprezar a espécie da qual faço parte, mas não somos ligados à competência de nossos músculos nas altas rodas do mundo animal. Besouros podem suportar cinco vezes o peso de seu próprio corpo. Ninguém os vê gabando-se de sua força, de quão vistosos são seus músculos, vê? Será que encontramos nesse pequeno inseto um exemplo de humildade ou alguns de nossos convivas orgulham-se por pouco? Mas não comparemos ninguém a seres ditos “repugnantes “. Alguém nessa história poderia se ofender.

Eh! Às vezes também não consigo controlar os músculos de meu braço e as palavras saem como se fossem regidas pelo batimento do único músculo que me controla, como se o pulsar ordenasse cada pensamento, se os pensamentos fossem frutos desse tamborilar incessante. Que ironia! Acho que somos iguais. Também sou pó...

...rOg Oldim

...Helton Simões Gomes

Pecado Verbal
Enviado por Pecado Verbal em 27/07/2007
Reeditado em 02/08/2007
Código do texto: T582382