Que a noite nos aqueça agora

Quem de nós nunca se deparou com uma pessoa dormindo na rua? E quem de nós sabe dizer exatamente o que enfrentará amanhã? Essas duas perguntas servem de reflexão e alerta. Reflexão para que possamos enxergar melhor a situação em que vivem milhares de pessoas iguais a gente. E alerta para que entendamos, de uma vez por todas, que o amanhã é uma incerteza constante e nele poderemos precisar enfrentar situação que hoje ignoramos, ironizamos.

Feliz de quem tem o aconchego do lar para descansar depois de um dia de trabalho. Você já se imaginou ser obrigado a dormir numa calçada, num banco de praça, embaixo de um viaduto? E no inverno? O que você faria se estivesse usando roupas velhas, rasgadas, quando a temperatura caísse e o frio chegasse sem avisar? E quando a fome, eterna companheira dos miseráveis, lembrasse que você continua vivo, apesar de tudo? O que fazer? O que dizer ao estômago vazio? Como convecê-lo a parar de doer?

As noites servem de inspiração para os românticos, os apaixonados, poetas. Mas são sombrias para milhares de homens, mulheres e crianças que a atravessam em total abandono, jogados em pedaços de papelão, cobertos por plásticos, esperando por nossa solidariedade.

Tantas vezes reclamamos de minúsculos obstáculos que surgem diante de nós, não é mesmo?! Quantas vezes nos chateamos, vamos dormir mal, porque algo não aconteceu do jeito que nós planejávamos! Falta paciência, sobra orgulho numa hora dessa. E aquele cidadão que dorme no chão? E aquela mulher que aquece o filho pequeno abraçando-o com o corpo franzino, no banco da praça? O que eles teriam para dizer? E nós, será que temos como ouvi-los, saber o que podemos fazer para minimizar seus sofrimentos?

Não custa nada ajudar quem precisa. Ser solidário é ser humano, ser gente, ser útil, ser capaz, ser responsável, ser aquela gotinha de esperança num oceano de lamentações e desesperos. Se você não tem condição de ajudar a dez pessoas, ajude a uma, mas não deixe de fazer isso. Por menor que seja sua parcela de contribuição, ela significará muito para quem sobrevive quase sem ter absolutamente nada. Você sabe o valor de um pão para quem passou o dia todo sem comer?! E de uma roupa, que para você não serve mais, para quem treme de frio numa madrugada?!

Você já percebeu que sempre onde existe miséria humana há um animal de estimação, principalmente um cachorro ou um gato?! Qual o motivo?! Os animais são sinceros, honestos, desapegados aos bens materiais. Buscam companhia, carinho, atenção. Compartilham alegrias e tristezas, banquetes e fome. É nessa hora que esses seres quadrúpedes, que insistimos em chamar de irracionais, mostram quem são. Enquanto nós, os racionais, os inteligentes - com raríssimas exceções - nos afastamos dos irmãos jogados no chão. É assim ou não?

Tenhamos todos um excelente final de semana, repleto de paz, amor, harmonia, compreensão, saúde e solidariedade. Que Deus nos ilumine cada vez mais, para que na próxima vez que nos depararmos com um irmão estendido no chão, implorando uma ajudinha pelo amor d’Ele, possamos parar um segundo e lembrar que amanhã poderemos estar na mesma situação.

João Ricardo Correia
Enviado por João Ricardo Correia em 28/07/2007
Código do texto: T583007
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.