E se
"E se?" Quantas vezes eu já me privei de fazer muitas coisas por conta dessa pergunta? Quantas vezes eu deixei de sentir, apenas, o momento, na sua própria natureza, por fazer suposições demais? Está aí um grande muro e, talvez, o maior de todos que já construí. Se foi sozinha, não sei se posso afirmar com toda a convicção, mas ele existe. Parece ser tão difícil viver cada instante pelo qual se passa, sem, ao menos, imaginar o que está por vir.
E se chover amanhã? E se fizer muito calor? E se eu me esquecer disso? E se eu me machucar depois? O meu tempo é movido de "e se's", o que reconheço que possa ser um dos meus maiores entraves. Lembranças que não chegaram a ser formadas e bem guardadas na memória. Lembranças que tiveram sua liberdade perdida por culpa do medo de ser infeliz. E se eu lhe disser que felicidade é um termo um tanto utópico? Não irei me hesitar.
A vontade de querer ser tudo e, ao mesmo tempo, não ir tão além. O desejo de saber de tudo, a fim de poupar incertezas e aflições. Ilusão. Mal sei que minhas melhores ideias e histórias se fizeram no exclusivo ponto de interrogação da vida.
Que chova, faça calor, me esqueça de tudo, me machuque. Que seja. Que eu possa adquirir maturidade suficiente e ser capaz, um dia, de viver tudo que preciso, sem me preocupar com o futuro. Sei que a liberdade ainda é pouca coisa e que, no fundo, o que desejo ainda não tem nome, como cita Clarice Lispector, mas já é o bastante para que eu tente. Às vezes, só nos resta fazer. Fazer o que há de fazer, predestinado, intuitivo, desprovido de razão. Viver.