BRINCADEIRA PERIGOSA

Já é comum no Brasil procurar soluções tardias para catástrofes que volta e meia vem acontecendo. Quando as tragédias acontecem, imediatamente inicia-se uma busca incansável pelos culpados. Procurar responsáveis já se tornou uma mania crônica, pois é preciso puni-los para dar o exemplo do cumprimento da justiça, mesmo que tarde demais. Só neste ano podemos citar uma série fatos decorrentes de medidas tardias. Buraco do metrô, caso João Hélio, agressão à prostitutas, vôo 3054, violência escolar e outros que o país do improviso vai tirando de letra. Os fatos variam muito, no entanto as atitudes e medidas não passam do debate inútil entre lideranças políticas. Alguns perdem a “cabeça”, outros são admitidos a fim de solucionar de maneira eficiente os problemas, e muitos não se movem porque é cômodo deixar tudo como está. O governo anuncia reformas imediatas e a oposição se aproveita da crise para atacar o governo. Os problemas só são pauta quando mortes e conseqüências fatídicas surgem. Fora disso vão empurrando como podem, até que o inevitável e muitas vezes previsto acontece para tirar nosso sono. Nessa hora podemos ver claramente líderes e órgãos políticos perdidos diante da crise. Enquanto os corpos do vôo da TAM eram reconhecidos no IML de São Paulo, o governo, o congresso, a ANAC e a Infraero discutem o certo e o errado, a pista e as possíveis falhas ocorridas para dar nome aos bois.Todos aguardavam ansiosos pelos dados da caixa preta do Airbus, que foram expostos no congresso como uma caixinha de surpresas. Um terrorismo funesto e inconseqüente diante das câmeras de TV. Deputados analisando os diálogos para tirarem suas conclusões? O que é que eles entendem desse assunto? Foram evidentes a insatisfação e a resistência das autoridades da aeronáutica ao entregar os dados para a CPI, que mal sabiam como proceder. E por um motivo muito óbvio: não entendem nada de avião e nem de aeroporto, exceto no que diz respeito a voar pra lá e pra cá como é hábito de suas excelências. Preocupavam-se com a caixa preta e não se davam conta de que a “coisa” é que estava preta já fazia tempo. Essa hábil atitude brasileira de procurar quem foi ou quem tem culpa é comum, no entanto o problema reside na falta de prevenção necessária e constante acerca daquilo que pode se tornar um caos. O que falta de fato é competência e organização, o que só é possível com compromisso político e não com improvisos . A “batata” vai ficando quente e ninguém quer queimar as mãos, vão passando um para o outro até que alguém assuma. Enquanto isso a “batata de alguns vai assando”, afinal alguém sempre deve levar a culpa. E essa sobrou para o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira. Demissão imediata! Mais um desempregado! Oh meu Deus! Mas o que importa é que estamos aprendendo que as coisas no Brasil estão tomando um rumo extraordinário e até mesmo cômico. Estamos descobrindo que falhar é realmente humano. E persistir no erro é mais humano ainda! Quanta humanidade! Estão desmoralizando a mínima moral e pondo em seu lugar o princípio do “tudo pode, se justificado”. E com per leges licet, tudo permitido pelas leis. E não nos enganemos com o velho discurso de que os valores estão se perdendo e as pessoas sendo corrompidas. Não. Já estamos perdidos em meio a valores sucumbidos pela imoralidade. Estão brincando de pega-pega sem perceber que a brincadeira já virou roleta russa!

Tiago Casado