PROFESSOR, NÃO EDUCADOR

Ser professor no Brasil não é uma tarefa fácil, uma profissão que é a base de todas as outras, entretanto tão desvalorizada. O desprestígio, ao contrário do que muitos pensam, não parte somente do governo, mas dentro do âmbito da educação, que, para mim, é a mais lamentável.

A ideia de o professor ser sinônimo de educador ou de “dar a aula”, como sempre ouvimos, é reforçar esse discurso de demérito. O médico não dá a consulta, o advogado não dá a defesa, então o professor também não dá sua aula, ao contrário, assim como todos os profissionais, ele é pago para lecionar, despertar no educando o interesse de adentrar um mundo de conhecimentos. Quando um professor lê em sua caixa de e-mail para todos seus funcionários buscarem no RH uma lembrança, ou um regalo, quase uma benesse em comemoração ao dia do Educador, o que podemos esperar do governo senão o reflexo desse descaso? Como afirma Leandro Karnal, “não existe país no mundo em que o governo seja corrupto e a população honesta e vice-versa”, então não existe um país em que a população valoriza seus professores e o governo despreza-o, é apenas pensar na microfísica do poder e buscar as causas nas raízes; com isso vamos perceber que o desrespeito está mais perto do que imaginamos. Pensemos em alguns discursos dentro de algumas casas “esse professor é louco de passar tanta lição? ”, “Como assim, prova na segunda-feira, depois de quatro dias de feriado? ”, ou na própria escola mesmo, quando um professor promovido seja por mérito seja por relações pessoais fortes, indaga ao, agora, subalterno professor acerca de metodologias que até ontem também as usava e acreditava nelas. É de se assustar como estamos rodeados de estigmas dessa árdua profissão.

Lamentá-las não farão de nós, professores, heróis ou mais vítimas, mas acreditar que podemos reverter esse triste cenário e que muitos colégios acreditam em seus profissionais da educação é o caminho. Nesse antagonismo, o que conta é resgatar o valor do ensino para nossos jovens e dar-lhes o caminho para, também, transformar gerações. Façamos jus à fala de Paulo Freire de que esse ensino não transforma sociedades, mas pessoas que decerto a transformarão. A verdade é que para os que querem fazer a diferença em seu meio, o trajeto é árduo, mas o legado é exímio. Penso que é para isso que passamos por este mundo, mesmo a profissão parecendo tão complicada, para marcar vidas por nosso conhecimento, por nossa dedicação e fazer a diferença onde fomos colocados. Durante meus vinte e tantos anos dentro da sala de aula, percebi que não somos admirados por nosso aluno pelo amor que temos por ele, mas por nossa competência, por nossa dedicação a nossa atividade na escola . Por isso, resolvi, hoje, comemorar o dia do PROFESSOR e não do EDUCADOR, parabenizando meus colegas de profissão, professores responsáveis pela escolarização de seus alunos. “Educar é missão própria dos pais. Mais que pão, os pais devem dar educação aos seus filhos”, diz Armindo Moreira em seu livro Professor não é educador. Mesmo porque educação é um processo contínuo e intenso, além de envolver amor e devemos considerar que o aluno terá vários professores ao longo de sua vida. O professor é pago para lecionar e não para amar ou odiar seu aluno. Amamos sim a profissão, caso contrário, nenhum profissional exerceria seu ofício. Sejamos profissionais da educação para nossos alunos e educadores de nossos filhos. Tendo cada pessoa em sua função, conquistaremos uma sociedade mais escolarizada com pessoas mais educadas e responsáveis, assim como escolas mais eficientes de seu papel.

Perillo
Enviado por Perillo em 13/10/2017
Reeditado em 13/10/2017
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