Vida frenética
Vivanilda acorda atrasada, são 5h40 da manhã e a academia de ginástica abre às 6h. Entre cremes, tops de ginástica, pílulas rejuvenescedoras frutas e shakes começa a jornada pela juventude eterna.
Com 58 anos entusiasmada Vivanilda corre na esteira, faz musculação, saltita e balança o rabo de cavalo. Sente-se muito bem no investimento que faz na vida: academias, cabeleireiros e botox. Assim sucessivamente fugindo e encontrando-se no espelho. Busca a fonte da juventude nas atividades frenéticas de manter o peso ideal, a pele ideal e a vida ideal.
Não sei se encontrou a felicidade, mas olha-se no espelho e diz que ama a vida adora movimentar-se externamente. Não faz meditação e odeia yoga, não gosta do silêncio. Vivanilda gosta de conjugar os verbos, maquiar, dançar, viajar, malhar, passear, correr.
Vivanilda é feliz? Não sei. Só sei que canso de escuta-la na segunda frase. Um sentimento entre cansaço e perplexidade por tudo que ela realiza em único dia. Conjugo outros verbos: silenciar, contemplar, sentir. O mais excitante do meu dia é levantar de manhã e escutar o meu silêncio e traduzi-lo em alguma música que escuto ou na leitura de algum livro.
Como na vida tudo é impermanente. Em uma manhã de primavera amanheço”Vivanilda”, entro na dieta, pinto o cabelo de marrom bombom e encurto a bainha da saia. Quero o sabor e o colorido da estação. Mas a primavera também tem suas tempestades. Contaram-me que um dia Vivanilda quebrou a televisão, pois não conseguiu assistir seu programa de entrevista favorito: “Mulheres Maravilhosas do Século XXI.”.
Refleti e decidi não vou ficar só na primavera, vou deslizar na delicia das quatro estações do meu ser. Vá que eu caia na tentação de quebrar o meu tablet e não conseguir ler minhas poesias. Prefiro ficar com as poesias a barriga sem gordurinhas.