Melhorar a educação, uma postura política

Os percalços da educação no Brasil, principalmente os revelados pelos instrumentais oficiais de avaliação como ENEM e SAEB causam transtornos na cabeça dos educadores. Entretanto, em geral essa preocupação e este sofrimento não têm se transformado em ações de superação e de melhoria. Penso que em parte a melhoria da educação depende de uma postura política de quem está na gestão da escola e do ensino.

Quando iniciei no ano 2000 como coordenador pedagógico do Centro Educacional Maria Magalhães Viana Azevedo – CEMMVA, como será tratado na continuação deste artigo, constatava dificuldades gritantes. Certamente a pior daquelas dificuldades era a falta do domínio da leitura em alunos de todas as séries do ensino fundamental.

Coloco a ausência da habilidade da leitura uma dificuldade no nível da aprendizagem, uma vez que é no educando que ela mais repercute. A inabilidade da leitura é algo que caminha com o aluno durante toda a sua vida escolar. A cada momento se impõe como uma barreira a continuar estudando.

Diante daquela situação começamos um trabalho difícil, porém, eficaz para termos hoje um quadro bem diferente. Atualmente, todos os alunos do CEMMVA sabem ler a partir da segunda série. Também é verdade que temos exceções já que contamos com alunos egressos de outras realidades.

Este quadro é fruto de uma tomada de posição político-pedgógica.

Não foi muito fácil. Aquela atitude política – de só promover à série seguinte o aluno que soubesse ler e escrever – acarretou dificuldades de toda ordem. Em primeiro lugar, aquela decisão foi fruto de muitas horas de estudo, discussões, divergências até. A cada ano letivo tínhamos no mínimo oito encontros para estudo e debate. Nestes grupos de estudo eram feitos os aprofundamentos necessários ao amadurecimento da proposta, seja do ponto de vista teórico, seja do prático. Tínhamos professores que eram a favor da idéia, porém, não tinham clareza de como pô-la em prática; tínhamos os que eram contra por falta de aprofundamento; tínhamos os que eram contra com convicção, ou seja, discutiam o assunto e aprofundavam-no em suas implicações teóricas e práticas.

A paciência, o planejamento, a providência para subsidiar o grupo em estudos e discussões teóricas sempre foram vistas com muito carinho. Foi importante naquela caminhada a presença da professora psicóloga e mestra em Psicologia Educacional, Lucimeire Rabelo, que muito colaborou na seleção de textos e na coordenação dos estudos e nos momentos de avaliação. Também veio somar os resultados obtidos junto a algumas professoras que cursaram o PROFA – curso de preparação de professores alfabetizadores. Foi essencial lotar a professora certa na turma certa conforme as necessidades.

Os momentos de avaliação no final de cada ano sempre foram os mais dolorosos. Adotamos a sistemática de avaliar cada caso em particular. Por várias vezes formou-se equipes de professores com o coordenador para avaliar os casos mais complexos.

Diante das dificuldades sempre percebi a natureza da coordenação pedagógica como sendo antes de qualquer outra, uma ação de conquista, de convencimento. Se o professor não estiver convencido e imbuído em realizar na sala de aula aquilo que foi pensado não adianta. A coordenação não pode sonhar isolada, divorciada do professor.

Numa escola qualquer que seja a decisão será uma atitude política. Só para lembrar Moacir Gadotti. A meu juízo quando se está diante de algo que exige uma decisão o ponto de partida será o de enfrentar ou não o problema. Quando a decisão é enfrentar o problema ter-se-á mais trabalho, mais leitura, mais reunião, mais divergências, mais discussões e até mais brigas. Motivos não faltarão. A situação tanto requer quanto dá maturidade ao grupo.

Na nossa experiência no CEMMVA algo que vez ou outra recorremos foi a discussão relativa aos fins da educação objetivando para onde deve apontar o nosso trabalho ou, que tipo de sociedade queremos ajudar a construir. Ademais uma atualização didática e metodológica, orientações que se encontram relativamente bem delineadas no projeto político-pedagógico da escola. Foi de grande importância a discussão acerca da desmistificação da repetência que passou a ser vista não mais como um castigo mas como um encaminhamento pedagógico. As famílias colaboraram muito na compreensão e no apoio às decisões da escola. Muitas vezes foi na conversa com mães e pais que os professores se sustentaram diante de decisões difíceis.

Em tempo:Na época a escola contava com doze salas com média de trinta alunos por sala nas oito séries do Ensino Fundamental.