POESIA E ENCANTOS: relato de experiência cultural na comunidade do Bairro de Fátima em São Luís – Maranhão

POESIA E ENCANTOS: relato de experiência cultural na comunidade do Bairro de Fátima em São Luís – Maranhão

Anízia Maria Costa Nascimento (Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Diretora da Biblioteca Municipal de São Luís-MA / Fundação Municipal de Cultura (FUNC). Pós-graduanda em Gestão Cultural pela Faculdade São Luís.)

Maria das Graças Oliveira de Souza (Bacharel em Direito pela (UFMA). Assessora Jurídica da FUNC. Pós-graduanda em Gestão Cultural pela Faculdade São Luís.)

RESUMO

Este artigo pontua a diversidade cultural do Maranhão, mais especificamente a de sua capital, São Luís, que se encontra retratada pela alegria e força de seu povo. Aborda a experiência da Biblioteca Municipal de São Luís, no que tange ao desenvolvimento de projetos culturais, tratando-se especificamente de um relato sintético de duas experiências, onde são relacionadas suas características e diagnósticos, na busca por um trabalho de inclusão social efetivo, potencializando as oportunidades da comunidade contemplada. Dessa forma, surge a necessidade de relatar, neste caso, sucintamente, vivências práticas da Biblioteca Municipal, enquanto agência de transformação sócio-cultural, e que podem servir de exemplos para outras instituições culturais. Tais vivências retratam a força da poesia, sem esquecer outras atividades que juntamente com esta oferecem rumos seguros ao crescimento cultural, a exemplo: cinema, teatro, dança, música, artes plásticas dentre outras. Para tanto, relata-se o insucesso de um projeto desenvolvido para a Biblioteca e a necessidade de sua reformulação, demonstrando a necessidade de prévio conhecimento sobre as realidades comunitárias para que trabalhos sócio-culturais promovam eficiente inclusão social.

PALAVRAS-CHAVE: cultura; poesia; teatro; projetos sócio-culturais.

ABSTRACT

This article punctuates the cultural diversity of Maranhão, more specifically the one of São Luís, that one find portrayed by the happiness and force of its people. Its approaches the experience of the Municipal Library of São Luís, with respect to the development of cultural projects, being specifically treated of a synthetic report of two experiences, where are related their characteristics and diagnoses, in the search for a work of inclusion social cash, potentiating the contemplated community's opportunities. In that way, the need appears of telling, in this case, in resume practical existences of the Municipal Library, while agency of partner-cultural transformation, and that can serve as examples for other cultural institutions. Such existences portray the force of the poetry, without forgetting other activities that together with this they offer safe directions to the cultural growth, to example: movies, theater, dances, music, plastic arts among others. For so much, he/she tells himself the failure of a project developed for the Library and the need of its reformulation, demonstrating the need of previous knowledge about the community realities so that partner-cultural works promote efficient social inclusion.

KEYWORDS: culture; poetry; theater; partner-cultural projects.

1 INTRODUÇÃO

A intensidade e variedade da cultura que se manifesta em todo o Maranhão, em cada cidade, cada bairro ou comunidade, do litoral e do interior demonstra o orgulho dos maranhenses em manifestar-se, em demonstrar suas capacidades e características, sua criatividade e realidade, além de comprovar sua alegria, apesar dos baixos Índices de Desenvolvimento Humano. Conforme o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Maranhão é representado pelo pior índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) do Brasil (PREZIA, 2006).

A alegria latente demonstra o desejo de “crescer” por parte dos maranhenses; em contraponto às poucas oportunidades sócio-culturais cujas dificuldades geradas por estas exigem atitudes por meio da redefinição da arte e da cultura no seio popular, “[...] que se torna[rá] mais clara ao identificar a mudança de atores que geram as conceituações e a valorização do cultural” (CANCLINI, 2006, p. 51). Sendo assim, torna-se imprescindível que as comunidades tenham mais oportunidades e sejam defendidas por políticas públicas culturais, onde o processo de decisão deverá se constituir atividade em conjunto: o povo e suas necessidades em parceria com o poder público, que deverá respeitar esses âmbitos, o que Canclini (2006, p. 51) afirma ser necessário combater na atualidade, pois está havendo há bastante tempo “[...] o predomínio do mercantil sobre o estético”.

Além das manifestações culturais latentes no Maranhão, como as danças (Bumba-meu-boi, Dança do Coco, Dança do Lelê, Quadrilha, Cacuriá e tantas outras), têm-se a força da Música, do Teatro, do Cinema, da Literatura.

Neste artigo, abordar-se-á o contexto literário, âmbito que deu outrora, a São Luís, o título de “Athenas Brasileira”; hoje considerada popularmente pela sociedade ludovicense: “Apenas Brasileira”, o que demonstra o poder crítico e, de certa forma, a insatisfação dessa mesma sociedade, muito embora, paradoxalmente, sejam realizadas somente atividades pontuais, como projetos desenvolvidos nas universidades, nos quais somente a classe acadêmica é privilegiada, configurando-se em atitudes de pouca alcance popular.

Levando-se em voga essa contextualização, enfocar-se-á dois momentos culturais em que o trabalho realizado contemplou a poesia e o teatro, sendo ambos oferecidos à comunidade do Bairro de Fátima que teve a Biblioteca Municipal como intermediadora. Ressalta-se a possibilidade da poesia e do teatro em adaptar-se, conforme as características da comunidade em foco, ou seja, a vastidão de possibilidades que os mesmos oferecem a cada indivíduo, sem ocasionar exclusão, provando sua imensa amplitude e força.

Com relação ao desenvolvimento de projetos que lançam a poesia e o teatro como estratégias de desenvolvimento humano no Município de São Luís, encontra-se o Projeto Poesia e Encantos, realizado pela Biblioteca Municipal de São Luís, desde julho de 2005, biblioteca esta localizada em uma comunidade periférica, mas que traz consigo manifestações culturais muito fortes. Tal projeto foi idealizado, após a aplicação de outro, chamado “Pé de Conversa”, os quais serão abordados posteriormente, relatando fracassos e sucessos com respectivas justificativas.

2 BREVE CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-CULTURAL DA COMUNIDADE DE FÁTIMA

O Bairro de Fátima, comunidade onde fica localizada a Biblioteca Municipal tem como uma de suas forças, diversas manifestações culturais representadas pela dança e música, que talvez tenham se originado da necessidade de lazer, dada as grandes carências dessa localidade, que se originou de uma comunidade de pescadores, tendo sido chamada em seus primórdios de Cavaco, pois suas moradias eram construídas por lascas de madeira conhecidas popularmente como cavaco e que facilmente pegavam fogo, ocasionando desespero em seus moradores, retrato este que fixa a realidade e demonstra a origem humilde e de muitas lutas dessa comunidade.

Sua carência sócio-financeira é perceptível na ociosidade de crianças, jovens, adultos e idosos, que podem ser notados freqüentemente nas ruas, sendo considerada uma das comunidade mais violentas da capital maranhense, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Maranhão. O jornal local O Imparcial. expôs matérias nos dias 03 e 30 de julho de 2006, citando que o Bairro de Fátima se encontra Incluído, tanto na rota estadual quanto internacional do narcotráfico, o que é preocupante e estimula os agentes culturais envolvidos com o Bairro, a descobrir e trabalhar múltiplas formas de ajudar no combate a esta situação.

Outra situação que retrata essa problemática é o fato de que, quando são oferecidas oportunidades como atrações culturais e atividades de lazer, estas são muito apreciadas pelos moradores, muito embora, a experiência da Biblioteca Municipal carregue consigo a frustração ocasionada pela dificuldade de público para cursos em prol de produção de renda, dada a baixo auto-estima dos moradores, o que dificulta o retorno técnico e financeiro que deveria ser almejado pelos próprios. Deixa-se claro, que tais afirmações se fundamentam por observações diárias, mediante a experiência vivenciada pelos envolvidos com trabalhos sócio-culturais no Bairro de Fátima, devendo ser realizadas pesquisas mais aprofundadas na busca por índices palpáveis.

3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A IMPORTÃNCIA POPULAR DA POESIA E DO TEATRO

Paz (apud FARIA E GARCIA, 2003), afirma sabiamente que não existe uma sociedade sem poesia, nem uma poesia sem sociedade. Entenda-se poesia em seu sentido lato, como o povoamento do mundo pela arte.

Para o citado autor, uma “[...] sociedade sem poesia careceria de linguagem: todos diriam a mesma coisa ou ninguém falaria”, já uma poesia sem sociedade “[...] seria um poema sem autor, sem leitor e, a rigor, sem palavras”.

Para Borges (apud FARIA E GARCIA, 2003), a poesia tem um sentido profundo, pois não acontece apenas intelectualmente, sendo capaz de atingir o homem em todo o seu ser.

Nietzsche (1993, p. 36), em sua obra O Nascimento da Tragédia diz algo similar. Segundo ele:

[...] só a arte tem o poder de produzir representações da existência que nos possibilitam viver. São essas representações - terreno fértil para a criação artística - que, passando pelos imaginários individual e coletivo possibilitam reinventar, recriar o mundo.

Nesse contexto, o teatro se encaixa, já que o pensado sempre será melhor entendido se manifestado pela voz e pela expressão corporal, capacitando o ser humano para o desenvolvimento de performances mais completas, onde a criatividade se constitui a força motriz, ressaltando-se que a arte possibilita inúmeras interpretações. Parfait (apud FARIA E GARCIA, 2003) afirma ser a arte o “último degrau do conhecimento” e o artista o “mensageiro do invisível”.

4 EXPLICANDO OS PROJETOS DE POESIA E TEATRO DESENVOLVIDOS NA BIBLIOTECA MUNICIPAL DE SÃO LUÍS

4.1 O Projeto Pé de Conversa

O Projeto Pé de Conversa, que custou R$ 14.000,00 teve como três de seus objetivos pilares: fazer conhecer os novos nomes da poesia do Maranhão; mostrar as possibilidades teatrais da poesia utilizadas por atores locais através de performances e recitais; fortalecer a identidade cultural da comunidade circunvizinha do Bairro de Fátima.

Foram escolhidos 14 poetas maranhenses com obras publicadas, e na faixa etária de 25 a 70 anos, tendo quatro destes idade superior a 50 anos.

Em um primeiro momento, por metodologia, o citado Projeto levaria os poetas para a realização de palestras com os jovens, devendo o poeta contar sua história de vida e retratar sua obra, caracterizando-a e incentivando a leitura e a produção de textos. Paralelamente a essas palestras deveria ser realizada oficina de poesia e performance teatral poética, com 20 participantes solicitados durante as palestras, pois a idéia era suscitar a participação espontânea da comunidade.

Os poetas elencados pelo Projeto Pé de Conversa não conseguiram, em sua totalidade, ter a empatia necessária para a conquista dos jovens participantes, cabendo neste momento ressaltar, que os de maior experiência, coincidentemente de maior faixa etária alcançaram o mérito de obter feedback do público, sendo relatado pelos jovens que o diferencial foi a simpatia, a simplicidade da linguagem e o total domínio dos assuntos proferidos nas palestras. Sendo percebida a fragilidade ocasionada pela inexperiência de trabalhos públicos por parte dos poetas mais jovens, que segundo os participantes agiram de maneira pouco convincente, o que se pode traduzir por abstração, por não conseguirem atingir o público, caracterizando um baixo poder de sedução por meio de palavras, o que se constitui o pilar da poesia.

Justificando a necessidade do poder de sedução, cita-se Faria e Garcia (2003, p. ?), quando estes afirmam que:

Assim como a arte, a figura do artista é central nas sociedades contemporâneas: construtor de identidades sociais e imaginários, referência existencial e, muitas vezes, mítica. Enfim, são pessoas especiais nos vários contextos, tanto como agentes da alienação, usando a arte como sistema de manipulação, quanto como agentes em busca de um mundo plural, solidário e responsável.

A oficina de performance teatral e poética foi iniciada, sendo ministrada por um dos jovens poetas. O resultado não foi satisfatório, o que se pode justificar pela pouca empatia deste para com os jovens, o que fora justificada anteriormente. Um ponto interessante é que os jovens sentiram necessidade do retorno dos poetas mais experientes, sempre solicitando suas presenças para que fossem realizadas conversas interativas (termo escolhido pelos próprios), ao invés da denominação palestras. Quanto a isso, pode-se pressupor, que tal solicitação advenha do peso da palavra palestra, que segundo o Lexicógrafo Aurélio Buarque de Holanda pode significar: Conferência ou discussão sobre assunto cultural, sendo que o termo Conferência, quando descrita pelo mesmo estudioso denota um contexto imperioso no momento em que retrata um significado de confronto, e já o vocábulo Conversa pressupõe entendimento entre iguais.

Partindo deste ponto e para não perder o contato e ocasionar descrédito nos jovens, houve a necessidade do redimensionamento dos objetivos e, conseqüentemente, da metodologia do Projeto, sendo necessária até a mudança do nome do mesmo, que passou a chamar-se Poesia e Encanto, denominação mais lúdica, objetivando identificar as formas de conexão com a realidade local, ou seja, com as necessidades culturais, ocasionando o conhecimento da comunidade a ser contemplada.

Assim, vale a pena relatar, que os idealizadores do Projeto Pé de Conversa desconheciam as peculiaridades locais, formatando o Projeto sem prévia consulta dos agentes culturais da Biblioteca Municipal, que são profundos conhecedores dos aspectos e das necessidades sócio-culturais da comunidade. Cabe frisar, que o insucesso do projeto em foco não se deu apenas pela inexperiência ou pouca vivência dos poetas, mas também, pela desconexão com a realidade do Bairro de Fátima.

4.2 Projeto Poesia e Encantos

O Projeto Poesia e Encantos teve como alicerce, ferramentas de interatividade, que além do teatro incluiu a utilização de áudio e vídeo.

Para tanto, elaborou-se uma grade de filmes que contextualizam obras literárias, situações envolvendo manifestações culturais, que se tornaram fontes de conhecimento para os jovens que puderam potencializar seus conteúdos e explorar novos contextos. Como exemplo, tem-se o filme de época “O Mercador de Veneza” baseado na obra teatral de William Shakespeare, que foi estudada com entusiasmo pelos jovens, sobre a qual idealizaram performance teatral com base no que entenderam, sendo contextualiza poeticamente em outro momento as mensagens da obra literária, tendo sido identificados pelos jovens, contextos como: amor; anti-semitismo no século XVI, que retrata a tensão entre judeus e cristãos; sentimentos como rivalidade, possessividade, bondade, ganância etc.

Atividade parecida foi realizada com a obra Romeu e Julieta, por meio da exposição do filme e estudo do texto literário, dando-se o diferencial em torno da apresentação de duas peças teatrais cujos textos foram analisados e criados pelos participantes em forma de poesia, tendo sido uma apresentação em Português e outra em Inglês.

Outra atividade muito apreciada pelos jovens é a audição em áudio digital, de poesias, a exemplo de Carlos Drummond e Vinícius de Moraes, onde os poetas recitam seus poemas, cabendo aos jovens desenvolverem performances após a análise dos contextos. Músicas também são analisadas, sendo descritas poeticamente as suas letras e realizadas performances teatrais das abordagens nelas contidos.

Interessante citar, que os participantes, vez por outra, solicitam a presença de escritores maranhenses, a exemplo do poeta e fotógrafo José Maria Nascimento (ludovicense, nascido em 18 de setembro de 1940), sempre muito bem recebido. Sua empatia com o público é notória, sempre sendo solicitado que o poeta recite seus versos e fale de suas ricas experiência enquanto pessoa, poeta e fotógrafo.

O Projeto Poesia e Encanto não requer maiores custos financeiros, sendo utilizado sempre material básico: papel, lápis, borracha, caneta esferográfica, além de impressão de textos e aluguel de DVDs, sempre conseguidos em parcerias com comércios de xérox e locadoras de vídeo. O material eletrônico de apoio: aparelho de DVD, vídeo cassete e microsystem são de propriedade da Biblioteca Municipal, além dos livros, revistas e jornais já existentes no acervo. Quanto aos CDs de poesia, as faixas foram baixadas de sites livres e quanto ao lanche servido, este é fornecido por comerciantes do Bairro de Fátima. Os jovens também realizam doações de material, além de produzir conteúdos culturais que agora fazem parte do acervo da Biblioteca.

Diante da forma de obtenção da maioria dos recursos para o Projeto Poesia e Encantos, percebe-se boa vontade dos investidores, o que retrata a credibilidade nas atividades desenvolvidas pela Biblioteca Municipal, constituindo-se um importante feedback para os agentes culturais envolvidos. Ressalta-se também, as possibilidades de desenvolver um trabalho cultural lucrativo e com poucos recursos, ou melhor, somente com o que é necessário, onde a própria comunidade reconhece o valor das ações e retorna investindo, enfim, no que é e sempre bom para ela.

5 CONCLUSÃO

Sabe-se que o futuro é construído por múltiplas formas de adaptação e descobertas do meio sócio-cultural por parte das populações. O sucesso de um tempo histórico que desaparece em outro tempo, descreve um saudosismo que muitas vezes a sociedade tenta resgatar, a produção cultural de outrora se transforma em referência, cabendo aos agentes culturais proporcionar resgates e interpretações mais consistentes, por meio de atividades diversas.

Sobre esse contexto, Canclini (2003, p. 51) afirma que:

Para perceber o deslocamento ocorrido, durante os últimos cinqüenta anos, na noção e no lugar social do cultural, convém considerar o que acontecia quando o desenvolvimento da modernidade “ilustrada” caracterizava a cultura como um bem desejável para todos, que devia ser difundido amplamente, explicado e tornado acessível, em contraste com a concepção neoliberal que a situa como um conjunto opcional de bens adquiríveis, aos quais se pode ou não ter acesso (CANCLINI, 2003).

Assim sendo, para que cumpramos papéis relevantes e de sucesso no que tange ao desenvolvimento cultural de uma comunidade ou cidade, faz-se necessário que conheçamos suas necessidades e potencialidades, onde se instala a proeminente a exigência de pluralidade dos meios culturais: música, dança, teatro, cinema, literatura, moda, artes plásticas, enaltecendo o fato de que estas se constituem ferramentas de inclusão social.

A inclusão torna-se viável, somente quando através da participação em ações coletivas, os excluídos são capazes de recuperar sua dignidade e conseguem - além de emprego e renda – facilidades culturais, acesso à moradia decente e serviços sociais, como educação e saúde. O problema central da humanidade nesta era de incertezas é a busca, às vezes desesperada, da identidade, do sentimento de pertencer e de compartilhar com o grupo, sem o qual os indivíduos não conseguem encontrar o “sentido da vida”.

Assim sendo, pode-se afirmar que inclusão social é o fio condutor de uma prática que valoriza o cotidiano das pessoas, em especial daquelas que, por um motivo ou por outro, por uma condição ou por outra, têm comprometidos os papéis e funções desempenhados em seu cotidiano. Oportunidades devem ser oferecidas e também incentivadas, a auto-estima.

Segundo RATTNER (2006):

Os programas oficiais e das ONGs encaram o problema da exclusão de modo parcial, privilegiando ora a geração de renda (bolsa de escola, cesta básica etc.), ora a questão de emprego via frentes de trabalho, particularmente no Nordeste flagelado pelas secas recorrentes. Nenhum desses programas atinge o objetivo de inclusão social, no sentido mais lato e profundo da palavra, por omitir a dimensão central do fenômeno – a perda de auto-estima e de identidade de pertencer a um grupo social organizado.

É nessa idéia que se insere a Biblioteca Municipal do Bairro de Fátima, desenvolvendo projetos capazes de fortalecer a auto-estima dessa comunidade, para que seus moradores procurem cada vez mais por oportunidades, para que passem a acreditar que são capazes de mudar o triste destino de uma comunidade rica culturalmente, mas que não tem noção de quais rumos seguir.

Finalizando, deixa-se transcrito um pensamento de Calderón de la Barca (Teatrólogo e Dramaturgo Espanhol), que incita reflexões: “Triste mundo, que veste quem está vestido e despe quem está nu”.

REFERÊNCIAS

CANCLINI, Nestor G. Diferentes, desiguais e desconectados. Rio de Janeiro: UFRJ, 2006.

EM SÃO Luís 80% preferem merla: maconha que era preferida hoje tem somente cerca de 10%, os outros 10% são ocupados pelo LSD, ecstasy e crack, merla chega através da Baixada Maranhense. O Imparcial. São Luís, 30 jul. 2006. Caderno Polícia e Cidade. p. 6.

FARIA, Hamilton; GARCIA, Pedro. Arte e identidade cultural na construção de um mundo solidário. 2.ed. São Paulo: Instituto Polis. 2003 (Cadernos de Proposições para o Século XXI).

NIETZSCHE, Friedrich. O nascimento da tragédia São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

OPERAÇÃO da polícia civil cumpre 26 mandados. O Imparcial. São Luís, 03 jul. 2006. Caderno Polícia e Cidade. p. 5.

PREZIA, Guilherme. Maranhão traça plano para melhorar IDH. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/administracao/reportagens/index.php?id01=1481&lay=apu>. Acesso em: 13 ago. 2006.

RATTNER, Henrique. Sobre exclusão social e políticas de inclusão. Revista Espaço Acadêmico, n. 18, nov. 2002. Disponível em: < http://www.espacoacademico.com.br/018/18rattner.htm>. Acesso em 10 ago. 2006.