Você trabalha ou só dá aula?

Professores desse imenso Brasil, vocês trabalham ou só dão aulas?

Qual professor nunca se sentiu humilhado após ser questionado dessa forma sobre sua profissão?

Pois essa é a tônica predominante em relação ao trabalho de educador em uma sociedade em que o ensino não é levado a sério.

A tal pergunta, embora ultrajante para nós “profissionais do ensino” é bastante comum nas diversas ocasiões do cotidiano; numa apresentação, num bate-papo informal nas filas dos bancos, nas conversas entre amigos que não se encontram há algum tempo... isso só para citar alguns exemplos corriqueiros.

É fácil entender o espanto de quem faz a pergunta, pois como é possível alguém sobreviver com salário de professor ou ter coragem de enfrentar salas repletas de pessoas que buscam apenas um diploma ou que querem na verdade, encontrar os amigos para colocar a conversa em dia?

Como dizia uma professora, amiga minha, sob o ponto de vista de grande parte dos estudantes do ensino superior privado, especialmente, “o professor representa atualmente, o único obstáculo entre o aluno e o diploma”.

Mas aproveitaremos esse espaço para ressaltar algumas características sobre esse “ofício” tão desvalorizado; ignorado, a maioria das vezes, lembrado quando muito no 15 de outubro intitulado “Dia dos Professores” – segundo alguns, talvez o mais coerente fosse a expressão “Dia dos Sem- Profissão”.

Ser professor não é ter o trabalho ou desempenhar a atividade apenas de ensinar ou mediar o conhecimento, mas de conseguir se defender de piadas maldosas, de bocejos extravagantes e de conversas que se avolumam de tal modo a suprimir a voz do cansado-professor já rouco pela intensa jornada de trabalho.

Trabalho de preparar horas de aula com conteúdos de extrema valia para o desempenho profissional para ouvir a fatídica pergunta: “É pra copiar?” ou “Isso cai na prova?” ou ainda, “Passa logo a lista, fessora!” ou, talvez a pior de todas, “ Isso é importante?”.

Nós, professores, exercemos um papel de imensa relevância, no sentido de: transferir saberes; encontrar talentos; praticar a solidariedade a todo o momento; dirimir dúvidas, inclusive sobre a difícil convivência em sociedade; resgatar muitas “auto-estimas perdidas”; incentivar a busca de novas oportunidades; ceder ouvidos a lamentos pessoais; apaziguar diferenças e, contribuir de algum modo, para a construção de um mundo melhor. Além, é claro, de nos colocarmos a inteira disposição – numa plena demonstração de paciência e tolerância – para respondermos educadamente a pergunta: “Vocês trabalham ou só dão aulas?”.