Mulheres Rurais

MULHERES DA CAMPANHA DO ALEGRETE – Parte 1

A presença da mulher no campo é tão antiga como a própria terra e segue crescendo com muita qualidade e resistência. Através da Constituição de 1988, às mulheres passaram a ter reconhecido o direito ao título de domínio e à concessão de uso da terra.

Assim cresceu mais ainda o trabalho da mulher no campo, sejam elas: empreendedoras rurais, médicas veterinárias, agrônomas, zootecnistas, pecuaristas, arrozeiras, administradoras, professoras, enfermeiras, agentes comunitárias, artesãs, trabalhadoras rurais e tantas outras profissões.

A maioria das produtoras rurais moram e desenvolve atividades econômicas em pequenas, médias e grandes propriedades em toda extensão do nosso município de Alegrete e no nosso país. Essa mão de obra geralmente é realizada pelos familiares. As pequenas propriedades são desprovidas de recursos tecnológicos (máquinas agrícolas, ordenha mecânica e insumos agrícolas) e técnicos dessa área. As grandes produtoras usufruem de benefícios facilitados para a concessão de créditos bancários direcionados a produção rural, a partir desses recursos financeiros a proprietária adquire implementos e insumos agrícolas que garantem um bom índice de produtividade, aumentando seus lucros. De acordo com a Associação Brasileira de Marketing Rural(ABMRA), atualmente 31% das propriedades, são gerenciadas por mulheres.

A mulher está cada vez maior no agronegócio alegretense, gaúcho e brasileiro. Ela tem um papel importante na agricultura e na pecuária, mesmo sendo em minoria dos cargos rurais. A mulher gaúcha e sulista sempre teve importante papel na sociedade e a cada dia toma mais espaço. Temos grandes exemplos a citar:

- MARQUESA DO ALEGRETE – Francisca de Noronha, heroína anônima, em 1717 na Batalha de Catalan, ao lado do esposo Marquês de Alegrete, Luiz Telles de Caminha de Menezes, ela atuou como enfermeira e até soldado na demarcação das fronteiras dos nossos pampas gaúchos. Liderou socorro médico aos feridos e nunca discriminou o nosso soldado do inimigo, grande heroína e de muita coragem.

- ANITA GARIBALDI – Ana Maria de Jesus Ribeiro foi uma grande revolucionária conhecida pelo seu envolvimento direto na Revolução Farroupilha (que durou 10 anos) e no processo de unificação da Itália. Por isso é conhecida como “heroína dos dois mundos”, lutou bravamente nessa revolução, na Batalha dos Curitibanos e Batalha de Gianicolo na Itália. Era uma jovem de caráter e personalidade independente que defendia e gostava de participar das questões que promoviam liberdade e justiça.

Falaremos de mulheres corajosas, como ANA TERRA (da obra de Érico Veríssimo – O Tempo e o Vento) histórias de paixão, amor, tragédias e lutas marcaram a vida de Ana Terra e de todas as mulheres.

Aqui está a história de vida, coragem e determinação de algumas mulheres rurais do nosso Alegrete.

ADRIANE MARIA DAMBROSIO DALCIN

Adriane Dalcin tem 51 anos, ...” fui criada na zona rural, estudei em escola rural durante minha infância. Aos 17 anos fui pra cidade e comecei a trabalhar no comércio da cidade, tenho Ensino Médio completo, aos 24 anos me casei com um produtor rural, voltando a morar na zona rural, na época não tinha água encanada e nem luz elétrica, construí minha família no meio rural, tenho 3 filhos, sendo que um está seguindo a mesma profissão nossa.

Pra campanha a lida começa bem cedo da manhã, todos os dias, não existindo domingos e nem feriados, férias então, nem pensar. Gosto muito do meu trabalho, faço pães, queijos, biscoitos, bolos, bolachinhas, rapaduras, salames, salgadinhos... O bom do trabalho rural é que não temos estresse nenhum. A rotina é plantar, colher, produzir e vender.

Pontos negativos na minha profissão é que ninguém quer aprender a fazer o produto manual natural, querem usar os produtos mais práticos embalados nos mercados. Não é muito fácil, temos problemas climáticos que nos prejudica com perdas no trabalho. Pontos positivos é que muitos dão valor ao produto sem conservantes e sem agrotóxicos.

Perante uma sociedade que pouco conhece a força da mulher no campo, eu me sinto sem reconhecimento ainda, porque vivemos em uma sociedade que preferem os trabalhadores com um diploma na mão. O trabalho artesanal é muito gratificante, feito um a um com carinho e amor, mas temos que vender os produtos para uma sociedade moderna, que prefere o alimento industrializado...”

PALMIRA LACI TITO

Palmira é uma empregada rural e tem 57, trabalha para os donos da propriedade.

“...Pra fora levanto cedo, às 5hs, tiro leite, preparo o café dos patrões, depois arrumo a casa, vou pra cozinha fazer uma comida gostosa pra eles. Eu sempre gostei de trabalhar para fora, até porque eu morava na área rural com meus pais. Meus patrões sempre foram pessoas boas e eu era a esposa do capataz da propriedade, quando os patrões vinham pra cidade eu também vinha com eles.

Pontos negativos na minha profissão, eu acho que poderíamos ter um pouco mais de conforto. É muito desvalorizado o trabalho de uma empregada rural, às vezes desvalorizam a própria pessoa. Mas eu adoro ir pra campanha, lá é tudo bonito, gosto do silêncio da noite é outro mundo, outro ar pra respirar. Tenho um ditado que trago comigo.

“O empregado faz o bom patrão, o patrão faz o bom empregado.”

CARMEN LÚCIA TRINDADE

...”Meu nome é Carmen, tenho 61 anos, trabalho há 20 anos na propriedade rural que herdei dos meus pais. Sou arquiteta e trabalhei por anos também nessa profissão, Há 10 anos me dedico somente a pecuária, trabalhando com gado e cria e ovinocultura.

Sempre amei a vida do campo e o contato direto com a natureza. Claro que no começo foi desafiador trabalhar num meio onde a mulher ainda não fazia parte. Aprendi muito ao longo desses anos e sigo aprendendo no dia a dia da propriedade e através de cursos e grupos de trabalho como: “juntos para competir” e “ATEG”. Participo de palestras e estamos sempre buscando informações para uma melhor gestão da propriedade.

Temos adversidades variadas como o “clima”, estamos saindo de uma seca horrível, que trouxe enormes desafios. Temos adversidades dentro e fora da porteira. Mas esses desafios não nos fazem desistirmos jamais. Estou sempre focada no trabalho e na melhoria dele. No início sempre que o mérito do meu trabalho era dos outros rsrsrs... dos técnicos que participam nas consultorias necessárias. No meu dia a dia, me envolvo com tudo que se faz necessário, saio à cavalo para o campo, pra ver os animais, pastos, cercas, etc... participo das lidas campeiras, trabalhando dentro das mangueiras, como se diz por aqui.

Hoje tenho o respeito e a admiração que foram conquistados através desse trabalho, moro na propriedade e faço da minha vida o cuidado diário dos animais e da gestão como um todo. O campo me fascina com suas nuances de cores, sons e a energia maravilhosa que emana todos os dias. Enfim faço o que gosto, gosto do que faço...”

GIOVANA MODEL

A Giovana é natural do Alegrete, tem 44 anos e mora no campo há 16 anos. Sua propriedade chama-se Granja Model, na Estrada Pai Passo, subdistrito de Alegrete.

...”Sou uma mulher rural por consequência de que meus pais eram pessoas rurais, eles adoeceram e vieram a falecer. Meu pai já tinha um pomar comercial de laranjas, eu trabalho muito para dar continuação ao trabalho dele, tenho a ajuda dos meus familiares e aconteceu que nos adaptamos a essa nova rotina.

Foi muito difícil no começo, porque não entendíamos do negócio, mas passados 2 anos começamos a vender laranjas, meu pomar tem 10 hectares e minha propriedade 30 hectares no total, nossa vida é maravilhosa aqui no campo. Trabalhamos vendendo nossas frutas na feira do pequeno produtor da cidade de Alegrete, que acontece nas terças e quintas feiras, na praça central da cidade. Vendemos também para as escolas municipais, quartéis e para outros municípios como Uruguaiana.

Nossa rotina é colher as laranjas, lavar e selecionar para que sejam comercializadas. Mas confesso que não é fácil, porque as laranjas produzem 6 meses no ano, nos outro 6 meses tratamos o pomar, podamos, enfim damos a manutenção para que produza no próximo ano. E assim segue nossa rotina, eu tenho muito orgulho de ser uma Mulher Rural!!...”

MARIA AURISTELA JAQUES MACHADO

Maria tem 37 anos, mora no Durasnal, um subdistrito de Alegrete, ela é agente comunitária do local.

...”Eu levanto às 7 hs, tomo meu chimarrão e saio às 8.30 para trabalhar e volto ao meio dia para o almoço, depois retorno e termino meu trabalho na comunidade às 17 hs, daí chego em casa e ajudo meu marido a fazer as lidas da propriedade, como tirar leite de vacas e alimentar todos os animais.

No meu trabalho, faço visitas domiciliares na zona rural e se resume em” prevenir pra não remediar”. Converso com a comunidade pedindo para que cuidem da saúde delas e de todos os familiares. Auxiliam para que façam os exames de rotina, preventivos para as mulheres, PSA nos homens entres tantos outros exames. Que tomem as vacinas regularmente como gripe e as vacinas das crianças. Agora em tempos de pandemia, trabalhamos muito prevenindo as pessoas de não pegarem o vírus COVID19, usando máscaras, evitando aglomerações, lavando as mãos, usando álcool gel. O meu trabalho é conversar e auxiliar a nossa comunidade rural.

Gosto muito do meu trabalho, tenho uma carteira de trabalho assinada, plano de saúde, segurança no trabalho e hoje em dia é muito importante ter essa segurança, é uma benção. Me sinto bem fazendo o que faço, às vezes as pessoas se mostram agradecidas pelo o que eu faço na comunidade e outras nem tanto...”

As pequenas produtoras parecem ser menos competitivas no que envolve a economia. Os produtos naturais e artesanais que são vendidos nas bancas e feiras, chamam a atenção do consumidor pela organização, higiene, produtos sem agrotóxicos, sem conservantes e produtos deliciosos.

O agronegócio alegretense é bem diversificado, as mulheres já assumem mais cargos de liderança e ocupam posições dentro da sociedade urbana e rural. A mulher está evoluindo dentro de suas profissões tanto rural como urbana e está muito mais ativista levando seus produtos para comercialização. As mulheres rurais são muito corajosas, pois muitas já estão na atividade há anos, quando não tinham água encanada e nem luz elétrica.

Essas mulheres guerreiras já trazem consigo, histórias, coragem, lutas, desafios, superações, habilidades, força, delicadeza e muita vontade de vencer e alcançarem seus sonhos.

Márcia Ximenes Nunes

marcia jack
Enviado por marcia jack em 06/06/2020
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