Lendo Veja 

          Eu leio Veja. Eu sempre leio Veja, segunda pela manhã. Depende da hora em que acordo o tanto que leio. Se acordo mais cedo leio mais, se acordo mais tarde leio menos. Sempre começo de trás pra frente, é mania. Esta semana acordei tarde. Li pouco. Como começo de trás para frente li Roberto Pompeu de Toledo.  Gosto de seus ensaios, quase sempre.Mesmo quando lhe falta assunto, ele é interessante. Esta semana ele resolveu falar de nomes. Nomes de cidades, nomes feios e bonitos.Parece falta de assunto. Mas isso é que difere o bom ,do  articulista fraco. Até falta de assunto, vira assunto importante. Ele começou com o nome de uma cidade que me toca o coração. São João del- Rei . Ele gosta do nome. E eu que estudei lá por uns tempos, agradeço.  Foi lá que soube que minha avó havia morrido. Foi lá que me encantei com as liturgias sacras. Foi lá que aprendi a amar o som dos sinos. Escrevi um poema para São João del Rei há muito tempo atrás. É um poema menor mas o guardei assim mesmo. Coloquei-o em uma pasta a qual dei o nome de "Álbum de Família e Outros Retratos". É um de meus muitos livros inéditos.

 Ve
lha São João...
Tão distante no tempo
Sempre aqui , nesta saudade.
                

Velha São João...
Os antigos sonhos de liberdade
que lá  foram sonhados
novamente renasceram
em meu coração.

Os sinos repicando
relembrando....  

                 
  Eu nunca havia pensado em São João por esse prisma. O do nome. Mas gostei de alguém ter pensado e gostado.  Eu não gosto dos nomes de minhas cidades. Chamo de minhas, duas cidades. A que nasci, Arantina. Onde moro: Lavras. Eu as amo mas não gosto dos nomes. O nome de Lavras, ainda entendo. Mas o de Arantina, não. Podia ser outro. Afinal, quem foi esse Visconde de Arantes que lhe deu o nome? De repente percebo minha ignorância e me envergonho. Preciso descobrir o que ele fez de tão importante assim. Quando perguntam: onde você nasceu? e eu digo, ninguém entende: Argentina? Amarantina? Diamantina?Onde fica? Fica ali, na beira da linha onde quase não passa mais trem. Fica ali há um passo do estado do Rio e por isso quem nasce lá não é arantinense mas botafoguense. Porque nasci em Arantina eu nasci com uma estrela solitária em lugar do coração. Fiz poemas para essas duas cidades também. Sobre Arantina escrevi entre outros este, que acho bem bonitinho:

Quando o trem apita
na curva
é hora do jantar.

          
    Não vou escrever aqui todos os poemas que fiz para as minhas cidades. Nem vou ficar analisando o critério usado pelo articulista de Veja. Acho que ele deixou nomes lindos de fora, como Boa Esperança e Três Corações. E Milho Verde.Que é uma cidade que não conheço mas me apaixonei por seu nome. É o nome de cidade mais lindo que já passou por meus olhos. Ainda vou lá, um dia. E tenho certeza que escreverei um poema, mas isso não será hoje. Um dia. Porque hoje eu ainda tenho que falar de uma cidade. Roberto Pompeu de Toledo diz que seu nome é feio. Não é. Tão lindo que dói: Andrelândia. Também estudei lá, por uns tempos. Foi lá que aprendi a escrever, não as letras e as palavras, que isso eu já sabia. Mas a escrever as torturas da alma, também as alegrias. Eu penso nesta cidade como a cidade Poema. Como pode o nome de um poema ser feio? Outras landias, sim, mas não a Landia do André.  É por isso que vou terminar esse artigo com um poema para Andrelândia:

 
O VENTO

O vento carrega as almas
pelas ruas de Andrelândia.
Ele carrega lembranças
trazidas da bela infância
e as deposita aos meus pés.

Por onde andou este vento
que traz  a mim velhas mágoas
guardadas bem escondidas
na porta embaixo da escada?

Foram sonhos, esperanças...
Foram tremores e frêmitos
atados com fita verde
embrulhos de seda pura.

Eu guardei tão bem guardado
que tinha até me esquecido.
E agora vem este vento
dançando como um maluco.

desembrulhando e soltando
pelas ruas de Andrelãndia
os segredos que de mim
eu mesma havia escondido.

O vento carrega as almas
O vento carrega as penas
Cantigas de nostalgia
que cantou meu coração.

O vento carrega tudo
quando passa ensimesmado
nos pensamentos perdidos
pelas ruas de Andrelândia.

                   O vento.