A CULPA É DO SISTEMA

Fazer política no Brasil é muito complicado. Tentei uma única vez e desisti.

Se analisarmos em Alagoas as pessoas que se candidatam a cargos públicos, veremos uma grande maioria pobre ou de classe média.

Durante as eleições lemos e ouvimos através da mídia quanto custa uma campanha eleitoral e não entendemos a coragem dos companheiros que se arriscam a entrar no processo eletivo.

Ouvi de um parente de Deputado a seguinte frase: ¨Fulano gastou um milhão na última eleição¨. Perguntei de imediato: De onde vem tanto dinheiro se ele é apenas um funcionário público?

Com salário mensal ninguém paga dívida de campanha. As saídas são as mais absurdas: pedir aos usineiros um financiamento, pedir dinheiro a agiotas oportunistas, usar verbas públicas, vender imóveis. Eleitos, os pobres coitados viram reféns dos donos dos financiamentos.

Certa vez, em Brasília, ouvi de um grupo de parlamentares a seguinte piada: Um Deputado Federal foi eleito com a ajuda de um usineiro e ao serem recebidos em audiência por FHC, o padrinho disse ao Presidente: ¨Eis aqui o Deputado tal que elegi. Não se preocupe, ele votará sempre com o governo¨.

Um político que consegue ser apoiado por muitos prefeitos torna-se possível candidato a Governador ou a Vice-Governador. Aí começamos a pensar: os Prefeitos ajudam o Deputado e vice-versa; se nenhum deles é rico, de onde vem o dinheiro?

Alguns Deputados conseguem o apoio de 30, 40 Prefeitos, elegendo-os e reelegendo-os. Estou cansada de ver na TV: Prefeitura Municipal de determinada cidade. Apoio: Deputado Sicrano. De onde vem o dinheiro ?

Na própria Assembléia Legislativa poucos parlamentares são ¨ricos de berço¨. Dentre os partidos políticos só o PT ajuda seus candidatos nas eleições porque cobra 30% dos salários dos eleitos. Os outros pouco ajudam os pequenos candidatos. O que recebem serve para os ¨donos da casa¨. Acabou-se o idealismo, a eleição realizada através do aperto de mão e da visita à casa do eleitor. Hoje é preciso, no mínimo, dar camisa, prótese dentária, óculos, remédios, boné e dinheiro no dia fatal. Como um assalariado arranja dinheiro para tanta coisa?

O jogo de Vereador com o candidato ao cargo majoritário é digno de nota. Os componentes da chapa querem dinheiro para os cabos eleitorais e o futuro Prefeito, Governador ou Senador tem que arcar com as despesas. Com o salário dele é que não será possível tamanha articulação financeira.

Já escutei de um Deputado Federal a seguinte frase: ¨Perdi o apoio do Deputado Fulano porque Sicrano lhe ofereceu 300 mil. Não fiquei com raiva, ele tem razão! ¨.

Façamos um levantamento das pessoas que foram eleitas pelo povo. Encontraremos engenheiros, dentistas, médicos, funcionários públicos e poucos usineiros, alguns dos quais devendo muito ao Estado e à União. Levando em conta as campanhas milionárias, com ¨out-dors¨, trios elétricos, artistas de fora, camisas aos milhares, cabos eleitorais caríssimos, fica no ar a pergunta: Qual deles, sozinho, poderia com tanta despesa?

Para ser político no Brasil não basta ser idealista e ter boas intenções. É necessário entrar no sistema, arranjar financiamento, procurar prefeitos, e ter como pagar depois ou vender casas e apartamentos para comprar outros imóveis seis meses após a posse.

Isto se não falarmos das famosas emendas ao orçamento destinadas às obras sociais. Quem não conhece as célebres associações comunitárias com o nome dos donos das emendas? Basta andar na periferia de Maceió ou no interior do Estado.

A Polícia Federal prendeu Prefeitos, ex-Prefeitos e auxiliares que usaram as verbas públicas para fins particulares. É o começo de uma grande rede que atua no Estado há muitos anos.

Se for fiscalizar as 102 Prefeituras e os padrinhos dos Prefeitos, poucos escaparão.

Grande parte do problema é do sistema eleitoral brasileiro: Viciado e caríssimo. Lamento muito!

Alari Romariz
Enviado por Alari Romariz em 17/10/2007
Reeditado em 17/10/2007
Código do texto: T698359