Outono incaracterístico...

Os Domingos deixam-me melancólica. Depois de vir do bar - onde sirvo ao balcão - tomei o banho do costume para retirar toda a espuma do dia. Enfim, para me purificar! Pus roupa lavada, uma gotinha de um perfume excelente de Lowe, quizás, quizás,quizás - que nome interessante para um perfume - e preparei uma chávena de chá verde, para acompanhar com o livro de crónicas do saudoso Eduardo Prado Coelho.

Retomei a leitura na página 18, A ÚNICA ESTAÇÃO. É uma crónica que fala de felicidade, de infelicidade, da inexorável passagem do tempo e da nossa impotência perante aquilo que não dominamos. Há uma frase impressiva: «reconhecemos a felicidade pelo ruído que ela faz ao partir.» Há também um belo poema de Ruy Belo (como eu gostaria de saber escrever poesia!):

«É triste ir pela vida como quem

regressa e entrar humildemente pela morte dentro

É triste no outono concluir

que era o verão a única estação

Passou o solidário vento e não o conhecemos

e não soubemos ir até ao fim da verdura

como rios que sabem onde encontrar o mar

(...)»

etc. É triste de facto passar simplesmente pelas coisas...

Quanto ao Outono, a minha estação preferida, este Outono quente de 2007 em Portugal, está tão incaracterístico que não há sequer folhas espalhadas pelo chão. Há calor e poeira. Na desorientação total, nem as estações encontram um atalho para a normalidade.

Nota: COELHO, J Prado, CRÓNICAS NO FIO DO HORIZONTE, Lisboa, Asa, 2004