Brasil, País do Futuro

Esse título não é meu. Eu o tomei emprestado do velho Zweig que por aqui viveu e morreu. Esse título pertence ao seu belo livro, cujo prefácio do escritor baiano, Afrânio Peixoto, data de julho de 1941; ou seja: há 80 anos. Nessa época, nem eu, nem alguns que lerão este texto estavam programados para fazer parte deste vasto mundo, que, bem ou mal, fora batizado de “Novo Mundo”.

E foi assim que o renomado Stefan Zweig, grande escritor austríaco de raiz judaica, apostando no Brasil, fugiu dos conflitos da Segunda Guerra Mundial, que atingiam fortemente a Europa, e decidiu se exilar no Brasil. Chegando aqui pela última vez em 1942, se estabeleceu em Petrópolis – Rio de Janeiro.

Em seu ensaio “Brasil, País do Futuro”, uma obra considerada ufanista e contraditória por surgir em meio a ditadura da Era Vargas, Zweig conseguiu uma grande proeza através de suas dezenas de páginas: desenhar um Brasil paradisíaco num projeto invejável de extrema beleza, solidariedade e muita harmonia.

Um país longe de qualquer possibilidade de uma luta armada. E vislumbrava para esta terra a capacidade de superar qualquer outra nação do mundo, por conta do caráter tolerante e humanista do seu povo.

Zweig, dotado de muita sensibilidade, procurava, nas suas observações, sempre enaltecer o que havia de bom no povo brasileiro e nas suas ricas terras férteis. Diante de um país de extensão continental, ele pôde perceber em suas viagens que, do Amazonas ao Rio Grande do Sul, “nem mesmo a língua chegou a diferenciar-se, em dialetos (...) e, apesar de todas as diferenças climáticas e profissionais, o tipo de povo permanece homogêneo.” Fez este registro.

Sabemos que não era e não é bem assim, a começar pelos indígenas, povos africanos etc. Mas existe uma convivência, em geral, pacífica. E ao se referir a economia do país ele escreveu: “Eu fizera em São Paulo uma visita ao café, ao ex-potentado do país; quis também visitar seus irmãos, o açúcar, o fumo e o cacau, que haviam tornado esse país rico e afamado.” Em seguida, relata sua passagem pela Zona da Mata, em terras baianas, dizendo: “Nessa zona encontramos primeiro as florestas de palmeiras, florestas espessas, escuras e extensas como eu nunca vira.” E sempre fazia comparações com o que já tinha visto tanto na Europa como na América do Norte.

Sendo ele um homem valorizador da cultura, descreveu o povo da capital baiana, terra primeira, assim: “Por toda parte dessa cidade sentimos a tradição. A Bahia, ao contrário de todas as outras cidades brasileiras, possui um traje próprio, uma cozinha própria e uma cor própria.”

Meu caro Zweig, o seu olhar sobre este povo, em alguns aspectos, foi brilhante. E quanto à cultura da Bahia, mesmo diante de muitas perdas, ela ainda preserva o traje enigmático das suas baianas; na culinária, ainda reina o acarajé e o abará; na cor, ainda se multiplica a miscigenação como herança. Fatores esses que não nos fazem nem melhores, nem piores, mas seres diferentes que aprendem muito na diversidade.

Por falar nisso, se o “Brasil, País do Futuro”, começou por aqui, temos o DEVER de lutar por este ideal de “Ordem e Progresso” que há muito tempo, vem dando lugar à Desordem e Retrocesso. Estamos LUTANDO para que esse futuro floresça. Porque o futuro é inimigo da corrupção, da morte, do desrespeito, da insensatez, da irresponsabilidade, do amadorismo, do fanatismo, da mentira e do desamor.

O futuro não é uma aposta belicosa. O futuro é um investimento pacífico.

O futuro não tem lado. O futuro segue a melhor direção.